A TIRANIA DA IMAGEM

 

 

 

 

MODELOS
E IMAGENS
DA IGREJA (1)

Luís de França OP

 

 

 


CADERNOS DO ISTA, 15

Qualquer reflexão teológica neste tempo que corre não pode deixar de considerar essa janela de oportunidades do pensamento que é a globalização.

Evocar a globalização como quadro de pensamento é referirmo-nos à sociedade de consumo e à sociedade espectáculo. Sociedade de consumo é o reverso da sua dominante programática isto é; o mercado como paradigma único de pensamento.

Habermas já explicou suficientemente bem, como a revolução tecnológica conduziu à tirania da tecnopolis sobre os humanos. A comunicação não escapou a esse domínio, e daí o dever-se efectivamente falar nestes dias que correm de uma tirania da imagem.

E porque a reflexão que nos propuseram é eclesiológica advém perguntar. Nesta sociedade do espectáculo e do consumo que imagem da Igreja afeiçoam os seus lideres, isto é, os fazedores de opinião e os donos do mercado? Mas saciada a curiosidade e a avidez desses fazedores de opinião, que imagem pode e deve dar de si-mesmo a Igreja de Jesus Cristo.

A globalização actual resulta em grande parte da expansão das redes, das teias. Somos uma civilização de webs, ou seja de teias à volta do mundo. Quem não estiver a “surfar” nas nets ou seja nas redes, quem não for visto nos monitores que são os vitrais desta civilização, é como se não existisse, como muito bem se disse nas palavras de introdução a estas conferências do ISTA.

Bem o compreendeu o Vaticano, e nele o actual papa, que muito cedo inaugurou a presença da Igreja na internet, tal como o fizeram as outras Igrejas cristãs. Presença maciça, multipolar, dando-se em espectáculo quanto baste! No meu entender a história reconhecerá que o João Paulo II foi o papa certo para esta hora da globalização.

Tanto mais que os seus dotes pessoais e seu gosto pelo teatro o talharam, para ser o arauto, mais que qualificado da igreja espectáculo, que os donos do mercado afeiçoam, acima de tudo, e quase de modo exclusivo.

Como se sabe todas as sondagens feitas ao vivo sobre as famosas viagens papais ou muitas das cerimónias no Vaticano, atestam como uma constante, que a imagem captada pelos participantes tem mais que ver com a forma do que com o conteúdo.

Seria incorrecto dizer que João Paulo II escolheu a forma em detrimento do conteúdo, mas a verificação dos dados disponíveis, é de que é, essa, a imagem que os media actuais captam e privilegiam. Daí que a eclesiologia deva interrogar-se sobre os conteúdos e as formas no que toca à presença da Igreja no mundo globalizado.

Quanto aos conteúdos referiremos os modelos como modos de compreender a Igreja, quantos às formas falaremos das imagens que a Igreja dá de si mesma.

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Imagens da Igreja
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Os autores que trabalham estas questões dizem-se sempre surpreendidos com a multiplicidade de imagens e de figuras bíblicas que dizem respeito à instituição eclesial. Desde sempre a Igreja sentiu a necessidade de utilizar símbolos como modo de exprimir a sua realidade interna. No início muitas dessas imagens foram retiradas do Antigo Testamento e vulgarizadas pelos Padres da Igreja. Entre outras, os Padres usavam nos seus escritos as seguintes imagens: Eva, Maria, Abraão e Sara, Tamar, Maria Madalena, mulher forte dos provérbios, mulher cananeia, arca de Noé, etc. No conjunto dos livros do Novo Testamento, contam-se cerca de 80 imagens.

A Constituição dogmática Lumen Gentium utiliza 35 imagens que se podem aliás agrupar em quatro temas a saber: a vida pastoral (pastor, rebanho); a vida agrícola (campo de Deus, oliveira, vinha); arquitectura e vida social (edifício levantado por Deus, povo de Deus, Aliança, casa de Deus, Templo e Tabernáculo de Deus, Corpo de Cristo, cidade de Deus) e vida familiar e conjugal (mãe, esposa, família).

A diversidade evocada revela bem a dificuldade de conter em fronteiras uma realidade que foge às definições. Nos anos 60 um autor americano publicou um estudo no qual comentava 96 imagens atribuídas à Igreja.

Estas são as expressões imagéticas que a eclesiologia se dá a ela mesma e a partir do seu fundamento que é o NT. Mas como é óbvio estas imagens pouco ou nada interessam à sociedade do espectáculo que vive do instante, do videoclip por exemplo, ou das imagens do poder que se deixa representar.

As imagens têm geralmente alto valor simbólico e, por isso, são utilizadas na catequese e na pregação. Todavia, dado o seu carácter indefinido, não servem para uma análise mais profunda da realidade ou para a mais elementar sistematização. É por isso que a eclesiologia tem necessidade de criar modelos que, por meio de analogias, nos ajudem a compreender o viver e o crescimento da Igreja no tempo e nos diferentes espaços.

 
 
 









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