«À imagem e semelhança de Deus».


A visão antropólogica
de St. Ireneu de Lyon (fim)

 

Fr. José Manuel
Correia Fernandes, OP


Conclusão
Do pensamento ireneano, destaca-se a importância da unidade. A unidade que se deve traduzir na compreensão de Deus como Pai e Criador em oposição aos gnósticos. O mesmo Deus que cria, que plasma a obra é também o mesmo Deus que replasma , ou seja, que salva a obra criada. Esta unidade traduz-se, logicamente, na Escritura. Tanto o Antigo como o Novo Testamento nos falam de um único Deus que ao longo da história humana se revelou nas suas economias , ou seja, nas suas disposições. Um Deus que paulatinamente se deu a conhecer para que o Homem conhecendo-O se torne naquele que conhece. O Homem composto de corpo e alma só se realiza em plenitude na medida em que responde positivamente ao convite de Deus. O Homem Perfeito ou Espiritual só se alcança pela acção do Espírito de Deus, ou seja, pelo Espírito Santo. O Homem para St. Ireneu não é apenas carne ( sarx ), nem só alma ( psique ), como também o Espírito ( Pneuma ) de forma isolada não constitui o Homem. É na totalidade das partes que encontramos o Homem perfeito. Os gnósticos, porém, defendiam três categorias de Homens: os hílicos (matéria), os psíquicos e os pneumáticos. Apenas os últimos eram passíveis de salvação. Só o elemento spiritus teria capacidade para empreender a viagem de regresso e reintegrar o pleroma inical. Só o homem pneumático possuia o conhecimento de si e o sentido da realidade efémera. Perante esta compreensão antropológica, o bispo de Lyon contrapõe uma visão mais harmoniosa da Salvação. Em St. Ireneu, tudo gira à volta da Salus carnis . Na verdade, a salvação é possível à carne porque lhe foi prometida a ressurreição e a incorruptiblidade em Jesus Cristo. Neste admirável mistério entra a participação do Espírito Santo. O Espírito anima, desde sempre, a história humana. Presente, com o Filho na Criação, colabora incansavelmente na plasmação do Homem à imagem e semelhança de Deus. Porque fomos feitos à imagem e semelhança divina, Deus ama a sua criatura e com perseverança a ensina a voltar-se para o seu Criador. Paulatinamente Deus acostuma-se ao Homem para que este também se habitue e conviva com Deus. Neste longo e paciente processo, a acção do Espírito Santo é inestimável. As páginas que o nosso santo consagra a tão admirável desempenho são de uma beleza e de uma intuição únicas. St. Ireneu está convicto de que existe uma harmonia ao longo de toda a História da Salvação. O Deus único e verdadeiro criou o Homem para conduzi-lo até à vida perfeita e incorruptível. O Homem que pelo Verbo recebeu a imagem de Deus e que no Espírito recebeu a possibilidade de fazer-se semelhante a Deus, só alcançará a sua inoperação plena uma vez habituado a ter Deus, tornando-se Homem Espiritual de forma que no Filho pelo Espírito Santo se torne filho e participe da imortalidade de Deus.

 



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