Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

Do ser ao dever ser
Teresa Martinho Toldy

 

Do ser ao dever ser

1. Acerca de relações de dominação, preconceitos, estereótipos e representações sociais

2. Acerca de formas “delicadas” de exprimir preconceitos

3. As estratégias de van Dijk e a Carta Apostólica Mulieris dignitatem

4. “Que grupo na sociedade irá beneficiar das opiniões que o texto da Mulieris dignitatem exprime?”

Indicações bibliográficas

Do ser ao dever ser

Estou convencida de que muitas das questões relacionadas com a forma como as mulheres são encaradas no discurso do Magistério da Igreja e muitas das expressões históricas dessas formas de ver as mulheres terão uma explicação mais psicológica do que teológica. Já que sou alguém “em trânsito” entre a teologia e as ciências sociais, gostaria de aproveitar esta oportunidade para fazer um primeiro ensaio de aproximação entre a psicologia social (1) e a teologia, nomeadamente, entre as noções de preconceito, representação social e estereótipo e alguns textos sobre as mulheres provenientes do Magistério da Igreja, em concreto, alguns textos da Mulieris dignitatem (João Paulo II, 1988).

Ao debruçar-me sobre as teorias psicológicas e sociológicas explicativas dos mecanismos que levam grupos ou sociedades a excluírem outros, encontrei um livro sobre linguagem e políticas de exclusão com o sugestivo subtítulo: “os outros no discurso” (Riggins, 1997). A obra debruça-se sobre a análise de diversos tipos de discursos de exclusão, particularmente, sobre várias formas de discursos racistas. O editor – Stephen Harold Riggins – é o responsável pelo primeiro capítulo, intitulado “The Rhetoric of Othering”, o que não permite uma tradução directa, a menos que existisse no português a palavra “outrização”, isto é, “o acto de fazer das pessoas outros”. Citando Fairclough, Riggins define o discurso como “um corpo sistemático de representações, com consistência interna, no qual a linguagem utilizada constitui uma representação de determinada prática social encarada de acordo com determinado ponto de vista” (Riggins, p. 2). Na perspectiva do autor, os discursos não reflectem fielmente a realidade como se fossem espelhos. Eles constituem artifícios de linguagem construtores da própria realidade que pretendem reflectir. Além disso, o objectivo da análise crítica do discurso é avaliar o impacto social do texto, respondendo à pergunta: “que grupo na sociedade irá beneficiar das opiniões que o texto exprime?” Sendo assim, a análise do discurso centra-se na questão da relação que o mesmo tem com o poder e o seu objectivo consiste em fornecer uma descrição detalhada das estratégias que os autores dos textos utilizam para “naturalizar” o discurso, isto é, para fazer com que os discursos pareçam ser do senso-comum, afirmações a-políticas.

Notas
(1) Agradeço aos meus amigos psicólogos, professores da Universidade Fernando Pessoa, pelas conversas e indicações de leituras que me têm aberto horizontes neste sentido.

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