Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

 

40 Anos de Impasses em Teologia Moral
MATEUS CARDOSO PERES

 

1. Nota Prévia
2. O Concílio
3. O Pós-Concílio: Uma História Atribulada
3.2. A Razões
4. Balanço provisório
4.1. Da parte do magistério
4.2. Da parte dos autores de teologia moral
5. O que se fazia entretanto no ISTA

1. Nota prévia

Há, aparentemente, como que dois planos: o da elaboração da teologia moral, a partir do Concílio e o das intervenções hierárquicas, do magistério, sobre esse processo de elaboração, que, sendo apenas um aspecto desse processo, acaba, na minha análise –tudo o que se segue decorre, obviamente, de um ponto de vista muito pessoal -, por ser um factor preponderante destes 40 anos. Até porque constituiu uma novidade. De facto, a intervenção eclesial em campo moral foi, durante muito tempo, de grande sobriedade. São de assinalar um pequeno número de intervenções pontuais e no auge das querelas em torno dos sistemas morais, algumas condenações, poucas, das posições mais extremistas tanto de rigoristas como de laxistas. A partir de Leão XIII (1891), temos a Doutrina Social da Igreja (DSI) com todo um conjunto de documentos. No campo da moral pessoal (vida, sexualidade) há muito menos; a assinalar sobretudo a Enc. Casti Connubii de Pio XI (1930), algumas tomadas de posição de Pio XII e a Enc. Humanae Vitae (HV) de 1968. Desde então, ssurgem bastantes mais intervenções, a vários níveis: como encíclicas, a Veritatis Splendor de 1993 (moral fundamental) e a Evangelium Vitae sobre moral pessoal (1995). E outros documentos. A história deste período prende-se com as sucessivas intervenções do magistério. De facto, essas numerosas intervenções devem ser situadas e compreendidas no contexto de uma polémica mais vasta, com enormes repercussões eclesiológicas e pastorais, e até, algumas vezes, como tomada de posição em favor de uma das correntes, enquanto em outras, na posição superior de quem arbitra entre as partes.

Por outro lado, falar de 40 anos de impasses é exprimir um juízo de valor que pode ser inexacto, por ser excessivamente negativo. É, pelo menos, prematuro. Não se deve, no entanto, esconder a amplidão e a violência do debate, nem o carácter ideológico de algumas intervenções, aparentemente muito mais interessadas em defender posições ditas tradicionais e motivadas, sobretudo, pelo receio de que o magistério viesse a perder autoridade pelas mudanças doutrinais. O papel do magistério, neste tempo e neste campo, lembra toda aquela acção de repressão desenvolvida em favor das posições bíblicas mais retrógradas, nas primeiras décadas do século XX, a partir da Comissão Bíblica, para alguns anos depois se aceitarem pacificamente as posições contrárias. Seguramente, o medo, o imobilismo e o autoritarismo tiveram um papel muito mais decisivo do que a busca da verdade e o diálogo com o mundo contemporâneo, mas isso não significa que tudo tenha sido impasse; de forma paradoxal, também eles contribuíram para o avanço das coisas.

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