Cadernos do ISTA . número 17
A verdade em processo

 

Aspectos da cristologia
JOÃO DUQUE

INDEX

Introdução
Percursos cristológicos
A questão da identidade
Conclusões

 

0. Introdução

A cristologia constitui, sem dúvida, um dos âmbitos mais fundamentais no interior da denominada «teologia dogmática», ou seja, daquela área da teologia que se debruça sobre os conteúdos fundamentais da fé cristã. O que não é de estranhar, pois os principais debates teológicos – desde os dos primeiros anos do cristianismo, que conduziram às primeiras e fundamentais definições dogmáticas (contidas no símbolo niceno-constantinopolitano) – foram debates essencialmente cristológicos. Que Jesus de Nazaré, em tudo o que disse e fez, foi mais que um interessante pregador e curandeiro; que continua a ser aquilo que sempre foi; e que, nisso que foi e é, é para nós revelação e presença activa do Deus que salva, isto é, o verdadeiro Cristo, ungido e enviado de Deus – esses poderão ser considerados os principais conteúdos da fé cristã, que transforma o próprio nome de «Jesus Cristo» numa profissão de fé teológica, isto é, relativa a Deus e à sua relação com o ser humano.

Nesse sentido, quando a tradição teológica opta por falar em «cristologia», e não apenas em «jesulogia» ou outra coisa qualquer, está a fazer uma opção com significado profundamente teológico, que em si já engloba a própria definição dogmática relativamente à pessoa em causa, assim como a tudo o que fez e disse e ao movimento comunitário que se lhe seguiu.

E porque o cristianismo brota, na sua identidade central, dessa opção teológico-dogmática, o repensar da sua identidade implica, sempre, um repensar da própria cristologia. Ora, essa actividade nunca atingiu, ao longo dos séculos que nos precederam, um ponto de chegada final, que pudesse significar impossibilidade de re-pensar e re-dizer os conteúdos da fé, quando se refere à pessoa que constitui o cerne dessa mesma fé.

De seguida, apresentarei uma brevíssima resenha de alguns percursos mais recentes – seleccionados, embora não arbitrariamente, entre muitos outros possíveis – relativamente às possibilidades plurais de considerar o que significa o nome «Jesus Cristo», ou seja, que conteúdo poderá atribuir-se a essa profissão de fé (1).

Por estranho que possa parecer, a imensa variedade das abordagens não irá desembocar numa proposta final e acabada, mas numa perspectiva teológica e pragmática em que a própria cristologia nos surge como algo a fazer-se, assim como acontece com o próprio cristianismo. Cabe-nos, como cristãos do tempo que nos coube, re-inventar o cristianismo (2), sempre de novo, reinventando a própria cristologia que o alimenta. Da tradição herdámos os parâmetros de reinvenção, para que não se torna puro devaneio subjectivo; mas herdámos também a obrigação de não repetir, pura e simplesmente, aquilo que recebemos.

 

(1) Nessa resenha, seguirei de perto a belíssima síntese de E. Bueno, Los rostros de Cristo, Madrid: BAC 1997. Opto por não dar indicações bibliográficas dos autores referidos, uma vez que são numerosas e de fácil acesso.

(2) Sobre o assunto, sugiro: J. Duque, O excesso do dom. Sobre a identidade do cristianismo, Lisboa: Alcalá, 2004.

 
 

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