PREPARADORES DE QUÍMICA DA ESCOLA POLITÉCNICA (1837 – 1856)


Introdução – preparadores, farmacêuticos, e a Química
1. O primeiro lente e o primeiro preparador de Química da Escola Politécnica
2. De preparador a lente: glórias e vicissitudes do 2.º preparador de Química da Escola Politécnica
3. Quem é José Alexandre Rodrigues?
FONTES E BIBLIOGRAFIA

Introdução – preparadores, farmacêuticos, e a Química

A Química e em especial o seu ensino estão histórica e processualmente ligados não só aos lentes e investigadores, como aos laboratórios e aos seus preparadores. Figuras relativamente apagadas nos vários cenários que a História recria do passado das instituições do século XIX em Portugal, os preparadores eram, porém, factores de primeira ordem para o assegurar de um normal funcionamento, ao nível dos laboratórios e ensino da Química.

Destinado fundamentalmente a coadjuvar o lente, poupando-o às tarefas menores, preparatórias dos trabalhos práticos, para apoio às cadeiras, e de investigação, o preparador podia ver ainda o alcance das suas funções – e isto ditado em geral por necessidades conjunturais – oscilar do quase servente de laboratório até o quase assistente da cadeira. Percebe-se, contudo, que havia um limite, uma barreira, a impedir que lente e preparador – com situações profissionais totalmente independentes - alguma vez se confundissem. Não era desejável, admissível, até tolerável, que isso acontecesse, pois se um lente tinha um estatuto demasiado superior para “desprezar” o trabalho de preparador, “centrifugando-o” do exercício da suas funções de docente e investigador de uma ciência experimental, os requisitos normalmente requeridos para o lugar de um preparador não lhe permitiam, à partida, ascender ao de lente.

A incorporação de outras terapêuticas em Portugal, para além da galénico-hipocrática das sangrias e purgas dominante nos séculos XVI a XVIII, como a de tratamento com remédios químicos - sais metálicos, principalmente de antimónio e mercúrio, e substâncias medicamentosas obtidas por destilação de drogas vegetais - e utilização de drogas provenientes do Novo Mundo, começaram igualmente a surgir, associados ao exercício da Farmácia, ainda que excepcionalmente, indivíduos adestrados na prática de preparações de medicamentos químicos, que implicava o domínio de um conjunto de técnicas para obtenção de princípios activos puros, em oposição às misturas complexas obtidas nos preparados galénicos (v. DIAS, 1991).

“Forçados” a um contacto essencialmente prático - pelas novas exigências da sua profissão, e que era, apesar de tudo, privilegiado em relação a outras - com o mundo dos produtos e das técnicas químicas, estes farmacêuticos revelam-se, desde logo, candidatos com alguma credibilidade aos lugares de preparadores das cadeiras de Química, e de facto aí os encontramos, na Escola Politécnica de Lisboa (e também na Academia Politécnica do Porto), pelo menos nas suas duas primeiras décadas de funcionamento.

A história dos preparadores de Química destas duas instituições entronca-se, por isso, nos seus tempos iniciais, com a história da Farmácia. Mas sem a notoriedade dos lentes, estes actores do processo didáctico da Química nas instituições de ensino, ficaram mais vulneráveis à erosão do tempo, que os chegou a apagar por longos períodos de esquecimento.

Na decorrência desse processo de obliteração temporal, o conhecimento sobre os preparadores “arranca” assim, muitas vezes, somente pela identidade – são nomes, apenas. Depois do nome, em certos casos, a sorte de os podermos “mapear” profissionalmente. Foi de alguma maneira o que sucedeu com os dois exemplos referentes à Escola Politécnica que se exploram mais adiante. Mas apesar de virtuosos, por poderem trazer à luz o que estava na obscuridade, alguns dos elementos (escassos e muito dispersos) que foi possível recolher sobre a profissão “primeira” destes preparadores, têm no entanto limitações endémicas associadas ao carácter, via de regra secundário, das fontes de que são originários. Mesmo assim, o encontro de várias informações consonantes permitiu trabalhar o tema com algum grau de confiança. Assumamos pois, por agora sem outras dúvidas, que são farmacêuticos os primeiros preparadores da Escola Politécnica, e que para se fazer a sua história individual, será certamente necessário “beber” na taça maior da história da Farmácia.

Por isso, em primeiro lugar, gostaríamos de colocar a questão geral da identidade – quem são os farmacêuticos em Portugal, e como evoluíram, profissionalmente falando?

Segundo Américo Pires de Lima: até 1902, gente sem curso, que se apresentava a exame com oito anos de prática efectiva ou fictícia numa farmácia qualquer, e uns vagos preparatórios do liceu. Ainda segundo este autor, havia também os farmacêuticos de «1.ª classe», basicamente representados por estudantes da Faculdade de Medicina que tiravam cumulativamente o curso de Farmácia, e porque este último era quase nominal - eram «uma ínfima percentagem».

Sem o apoio a outras referências, correríamos o risco de “alinhar às cegas” numa perspectiva histórica “negra” sobre a formação dos farmacêuticos. Nesse sentido procurámos os estudos mais recentes que se realizaram sobre o ensino da Farmácia em Portugal que, segundo os especialistas, já existia, sob a esfera administrativa da Universidade de Coimbra desde o reinado de D. Sebastião.

De acordo com João Rui Pita, o regime destes estudos, segundo o qual se acredita que o ensino da farmácia basicamente se regulou até 1772, durava seis anos: os dois primeiros eram dedicados à aprendizagem do latim, que podia ser feita por exemplo em Coimbra, no Colégio das Artes; os outros quatro eram “gastos” numa botica que estivesse aberta ao público, em Coimbra, ou mesmo fora dela, desde que fossem todas de boa reputação – era o Reitor da Universidade que fazia a colocação dos alunos nas boticas; o regime de estudos envolvia um certo número de partidos. O aval final, que permitia o aparecimento de um novo boticário, em condições de exercer a sua actividade no país sem qualquer outra exigência do Físico-mor, era dado mediante uma prova que o aluno teria de prestar perante lentes médicos, nomeadamente o lente de prima e o lente de véspera da Faculdade de Medicina, e ainda dois boticários da cidade de Coimbra de reconhecida competência.

Citando o autor em questão: “Como facilmente se concluí, o ensino farmacêutico da responsabilidade da Universidade, e organizado nos moldes que acabámos de descrever, era um ensino exclusivamente prático de que era excluída qualquer frequência de aulas na Universidade. A sua formação limitava-se a um tirocínio numa botica onde, muito naturalmente, reinariam as doutrinas galénicas e toda a tradição galénica relacionada com a ideia de medicamento preparando-se assim, um profissional de uma arte mecânica” (cf. PITA, 1995, p. 319).

Este não era contudo, nem o primeiro, nem o único processo para habilitar boticários. De facto, havia o regime de acesso à profissão mediante exame perante o Físico-mor, que da mesma forma não proporcionava qualquer relação científica e activa com a Química, ou com os conhecimentos botânicos mais elementares e necessários, havendo contudo excepções a este estado de coisas, sempre que o mestre boticário por moto próprio se empenhava de modo diferente na formação dos aprendizes (PITA, 1995, pp. 320 – 321).

Mais tarde, pela reforma Pombalina, o ensino da Farmácia passa definitivamente a ser desenvolvido no próprio espaço físico da instituição universitária. Os Estatutos de 1772 determinaram que os alunos boticários teriam de, em primeiro lugar, praticar durante dois anos no Laboratório de Química da Universidade, e só depois podiam ser admitidos no Dispensatório Farmacêutico da mesma Universidade, para aí realizarem o seu tirocínio nas práticas da Farmácia propriamente dita. Findos estes dois últimos anos, os alunos podiam requer exame, que seria realizado pelo lente de Matéria Médica e do seu demonstrador, e pelo boticário do Dispensatório. Uma vez aprovados, ficavam habilitados a exercer em qualquer lugar, com preferência sobre quaisquer outros que não concorressem nas mesmas circunstâncias. A anteceder tudo isto, há provas da exigência do domínio da língua latina como condição fundamental para o ingresso no curso farmacêutico (PITA, 1995, pp.323-325 e p.328).

Apesar de apostar ainda fundamentalmente numa vertente essencialmente prática, a reforma da Universidade de Pombal foi inquestionavelmente inovadora em relação à formação dos farmacêuticos. Voltando a citar João Rui Pita:

...outras facetas [da reforma de 1772] se mostraram, também, inovadoras no panorama farmacêutico português, sendo uma das mais representativas a exigência de conhecimentos químicos por parte dos boticários portugueses.

Na verdade, a ausência da química na formação dos boticários portugueses com carta profissional em tempo anterior a 1772 mostrava-se cada vez mais inadequada e inadmissível face às influências determinantes que a química vinha exercendo na preparação de medicamentos e, de um modo geral, em toda a técnica farmacêutica.

Contudo, deverá reconhecer-se que a formação química dos boticários era destituída de fundamentos teóricos, sendo uma preparação feita unicamente pela prática. Porém, o facto dos jovens aprendizes de boticários contactarem com as técnicas e as operações químicas num local exclusivamente vocacionado para esse efeito não deixaria de lhes proporcionar um substracto de conhecimentos e uma sensibilização para a problemática química, que seria útil sem dúvida, para o exercício da sua actividade profissional. Mais: mesmo essa incipiente formação química, quando comparada com a existente até então, que era nula, ou que ficava a contento dos mestres boticários que tutelavam a formação dos aprendizes, era na verdade, relevante” (cf.,1995, pp. 325-326).

A organização seguinte dos estudos farmacêuticos, da reforma de Passos Manuel de 1836, só começou a vigorar em pleno na Universidade de Coimbra em 1846. Até lá, esteve presente a anterior reforma, de Pombal, verificando-se nesse intervalo de tempo apenas alguns casos pontuais de conclusão de curso em moldes modernos (PITA, 1995, p.342). A reforma de Passos Manuel marca um período de grande aumento na afluência de estudantes à Escola de Farmácia (771 alunos desde a instituição do curso respectivo até 1889), comparativamente com a reforma de Pombal, 186 alunos boticários em 74 anos de vigência oficial da reforma de 1772, quantitativo este último ainda mais contrastante com o número de boticários que seguiam a «via Físico-mor» em tempo anterior:1460 examinados em todo o país, entre 1700 e 1750. A grande disparidade verificada entre formados pelo regime da Universidade-reforma de Pombal e por exame prestado ao Físico-mor manteve-se até 1836, altura em que esta última via foi extinta, a confirmar que efectivamente, a via preferencial na profissionalização dos boticários em Portugal não passava pela Universidade (PITA, 1995, p.344).

As indagações históricas mais recentes em torno da Farmácia, seu ensino, e desenvolvimento sócio-profissional respectivo vêm, assim, ao encontro da ideia colocada de modo liminar, em 1933, por Pires de Lima: «gente sem curso». Até à reforma de Passos Manuel, a esmagadora maioria dos farmacêuticos formava-se à margem das escolas e, dentro desta perspectiva, com baixo nível de preparação científica.

E com Coimbra e a sua Universidade certamente que inacessíveis à bolsa de boa parte das gentes farmacêuticas de Lisboa e do Porto, que soluções se apresentavam àquelas que estavam interessadas em promover-se socio-profissionalmente, seguindo um percurso digamos que, mais científico?

O Curso de Física e de Química de Luís da Silva Mousinho de Albuquerque a funcionar no Laboratório de Química da Casa da Moeda nos anos vinte do século XIX (v. FERRAZ, 1997 e 1998; MIRANDA, 1987 e ainda LOPES, 1948) foi, aqui, uma “pedrada no charco”, e o número preponderante de farmacêuticos que acorreram - junto com os estudantes da Escola de Cirurgia perfaziam metade da afluência, surpreendentemente grande, conforme registos da época - confirma o quanto já era necessário (e também, profissionalmente vantajoso) complementar uma formação fundamentalmente empírica e baseada na replicação dos saberes artesanais e de tradição familiar de um ofício mecânico, com a científica, que importada do estrangeiro, vinha ilustrar as actividades da classe, e torná-la muito mais químico-farmacêutica que boticária (v., sobre esta última temática, DIAS, 1991).

Em relação ao Porto, não temos outra notícia senão a do funcionamento – quase contemporâneo do curso de Mouzinho, em Lisboa - de uma cadeira de Agricultura na Academia Real da Marinha e Comércio, onde o seu lente, Agostinho Albano da Silveira Pinto, resolvera incorporar umas matérias de Química e Botânica, o que o levou a redigir, para apoio às suas lições, as Primeiras linhas de química e botânica, em 1827. Sabemos que a sua frequência, de 1819/1820 a 1828/1829 (altura em que foi suprimida, durante o domínio miguelista, mais precisamente em Julho de 1829) oscilou numa média de 8 a 9 alunos por ano (BASTO, 1937, pp.29-31). Ficou por saber se entre eles se encontrava algum aspirante a farmacêutico, uma hipótese tanto mais apetecível quanto mais se evidencia a ligação de Agostinho da Silveira Pinto com a Farmácia - autor do Código farmacêutico lusitano, de 1835, ao qual acrescentaria, logo no ano seguinte, uma Farmacografia do código farmacêutico lusitano.

Também o curso de Física e de Química de Mousinho terminou cedo, em 1828, e, sem continuidade, deixou a Lisboa farmacêutica “a chuchar no dedo” e, em termos nacionais, uma classe mais empobrecida no que dizia respeito às soluções de “modernização” e consequente valorização socio-profissonal.

Para a posteridade ficou a importante obra (manual em cinco tomos, dois de Física e três de Química) elaborada por Mousinho para apoio às lições do curso em questão, Curso Elementar de Física e de Química (1824), um testemunho actualizado do “estado da arte” para as duas ciências naquela época, um produto raro no Portugal do início de oitocentos que, via de regra, bebia directamente nas fontes estrangeiras, dispensando por isso mesmo, um “intermediário activo” no processo de aquisição de conhecimento, e um exemplo de longevidade no nosso ensino – em 1860, encontramo-lo, a ser aconselhado ainda que como “auxiliar”, para uso nas lições de Física e Química, e de Introdução à História Natural dos Liceus (caso do Liceu de Ponta Delgada) -, e a conveniência de se apurar o seu possível impacto socio-profissional e no desenvolvimento científico, um estudo que de alguma maneira poderá estar facilitado, na medida em que os livros de matrícula para o curso em questão, parte de Física, estão aí, disponíveis no Arquivo da Casa da Moeda, com dados interessantes sobre os frequentadores (os matriculados, porque os ouvintes livres, esses infelizmente, parecem fugir ao nosso controle)...

Já vimos que a reforma de Passos Manuel, de 1836, que criou em Lisboa e no Porto as Escolas Médico-Cirúrgicas e anexou a cada uma delas uma de Farmácia, e que em Coimbra anexou outra à Faculdade de Medicina, não foi suficiente para inverter a ordem das coisas, em termos da via de formação predominante dos farmacêuticos. Foi no entanto um passo importante para a valorização da classe profissional em causa, pela extensão do seu ensino e das matérias científicas que o incorporavam. Segundo o decreto de 29 de Dezembro de 1836, as Escolas de Farmácia anexas às Escolas Médico-Cirúrgicas compreendiam cursos teóricos e curso prático. Os primeiros eram 1.º: Botânica; 2.º: História Natural dos Medicamentos; 3.º: Química e 4.º: Farmácia. O curso prático consistia no exercício de operações farmacêuticas no espaço de dois anos no Dispensatório Farmacêutico, ou em qualquer outro estabelecimento aprovado, e creditado. Os cursos de Química e Botânica podiam ser frequentados nas cadeiras em Coimbra, ou nas que se iriam estabelecer em Lisboa e no Porto (e que vêm a ser as da Escola Politécnica, em Lisboa, e as da Academia Politécnica do Porto, portanto).

Determinava-se ainda que cinco anos depois do estabelecimento regular dos Liceus, eram preparatórios essenciais para a matrícula no curso farmacêutico, as disciplinas das cadeiras primeira – Gramática portuguesa e latina, clássicos portugueses e latinos; segunda – Línguas francesa e inglesa e suas gramáticas; terceira – Ideologia, gramática geral e lógica; quarta – Moral universal; sétima – Princípios de física, de química e de mecânica aplicada às artes e aos ofícios; e oitava – Princípios de história natural dos três reinos da natureza aplicados às artes e aos ofícios, dos Liceus Nacionais, que junto com os exames de Química e de Botânica, constituíam as condições de admissão à matrícula em classe separada, à cadeira da Escola Médico-cirúrgica, Matéria Médica e Farmácia, onde o lente lia o curso de História Natural dos Medicamentos, e de Farmácia comum para os alunos das duas escolas, e ia frequentar depois no curso prático do Dispensatório Farmacêutico, as operações convenientes, durante dois anos.

Verificamos que, numa vizinhança temporal relativamente próxima, vão ocorrer “mexidas” neste sistema, não só ao nível das condições de admissão à matrícula, como no próprio curso de Farmácia. Temos, por exemplo, pela reforma da Instrução Pública, de 20 de Setembro de 1844, Art.154.º, que os professores dos Dispensatórios Farmacêuticos das Escolas Médico-Cirúrgicas passavam a leccionar, junto com o curso prático de operações farmacêuticas, prelecções teóricas e práticas de Farmácia e Toxicologia, um enriquecimento óbvio na qualidade de ensino a ministrar pelas instituições em causa, mas que pela exigência aumentada sobre o currículo do farmacêutico que podia ocupar este lugar, não deixava de criar alguns embaraços quando estas tinham de encarar futuras substituições. Na década de 50, mais precisamente em 1857, das condições para a matrícula para o curso de farmácia da Escola Médico-cirúrgica de Lisboa tinham sido suprimidas os Princípios de Física e de Química, e de História Natural dos Liceus. A documentação consultada, enviada pelas Escolas Médico-cirúrgicas para o Ministério do Reino, sua tutela, revelam para estas mesmas décadas, um número muito reduzido de estudantes matriculados no curso farmacêutico – podemos citar por exemplo, os números relativos ao ano lectivo de 1844 – 1845: para a Médico-cirúrgica do Porto, 1 aluno matriculado, (contra 6 que realizaram exame com oito anos de prática); para a Médico-cirúrgica de Lisboa, 5 contra 140 matriculados no curso médico-cirúrgico, e de uma forma geral, «alguns alunos todos os anos».

E esta rarefacção de alunos nas Escolas de Farmácia de Lisboa e do Porto, remete-nos novamente para o decreto criador: para os que não tivessem seguido a via das Escolas de Farmácia, a lei estipulava que podiam ser admitidos a exame, desde que com oito anos de «boa prática», face ao mesmo Júri que examinava os aspirantes a farmacêuticos alunos das Escolas, que os interrogava «vagamente» (são termos da própria lei) sobre matérias de Química e Botânica com relação com a Farmácia. Terá sido talvez esta medida que impediu que, na decorrência da extensão do ensino da Farmácia em três pontos geográficos estratégicos do país, Lisboa, Porto e Coimbra, se verificasse o avanço da formação farmacêutica de «1.ª classe» sobre a de «2.ª», afinal ainda consentida e com o aval da lei, e que as Escolas de Farmácia fossem a verdadeira via de profissionalização...

Não obstante os progressos obtidos, parece que o ensino oficial de Farmácia nunca atingiu um nível considerado satisfatório e, principalmente, superior, o que veio a acontecer somente no século XX, com a reforma de Hintze Ribeiro, em 1902.

Novamente segundo Pires de Lima, por esta lei, o curso de Farmácia passou a ter a duração de dois anos, mais os preparatórios nas Politécnicas de Lisboa e Porto, ou na Faculdade de Filosofia da Universidade de Coimbra, e era professado em escolas que, não obstante os movimentos dados no sentido de uma autonomia, ainda permaneciam anexas (às Médico-Cirúrgicas em Lisboa e no Porto, e à Faculdade de Medicina em Coimbra). E de uma forma já manifestamente insuficiente, embora tivesse em embrião a maior parte das disciplinas indispensáveis, o curso compreendia as seguintes matérias: história natural das drogas, posologia, farmácia química, análises microscópicas e químicas aplicadas à Medicina e à Farmácia, farmacotecnia e esterilizações, análises toxicológicas, Química legal, alterações e falsificações de medicamentos e alimentos. Mas à revelia desta via de instrução pública, mesmo assim, e com palavras do mesmo autor, até 1912, ainda se formavam autênticas «chusmas» de farmacêuticos de «2.ª classe».

Vemos assim que esta demarcação entre farmacêuticos de «1.ª» e de «2.ª», emanava de diferenças fundamentais ao nível da formação, e constituiu um sério factor reivindicativo para a classe, à medida que cada vez mais matérias científicas e da especialidade eram incorporadas no currículo dos cursos oficiais de Farmácia.

Regressando à temática das cadeiras de Química e seus preparadores, nas primeiras décadas de funcionamento das Politécnicas de Lisboa e do Porto, talvez tenham sido estas diferenças que fizeram com que os lentes de Química (ou aqueles que se encarregaram do assunto dos preparadores) preferissem os que, se bem que podendo ser farmacêuticos pela prática e pela família, tinham também frequentado cursos de Química e que, de alguma maneira, fugiam ao padrão imposto pela “maioria de 2.ª classe”. Parece ter sido assim com F.C. Cardoso Mendes Leal Júnior (Curso de Física e Química no Laboratório de Química da Casa da Moeda), e com José Alexandre Rodrigues (6.ª cadeira, Química Geral e noções das suas principais aplicações às Artes, da Escola Politécnica), preparadores na Escola Politécnica, e com José António de Aguiar (9.ª cadeira, Química e Artes Químicas, na Academia Politécnica) - chegou a ser avaliada pelo Conselho Académico, a hipótese de José António de Aguiar, ainda apenas farmacêutico e aluno da Academia, ser designado preparador do Laboratório de Química, porém, essa hipótese foi rapidamente ultrapassada, assim que terminou o curso. José António de Aguiar veio a ser lente substituto na Academia e não preparador - e Manuel Nepomuceno (idem), este efectivamente o primeiro preparador oficial do Laboratório de Química da Academia Politécnica.

Mas não obstante o indiscutível interesse de que se revestem para a História da Ciência e do seu Ensino, não incluímos as figuras de José António de Aguiar e de Manuel Nepomuceno neste trabalho, pensado apenas para o caso da Escola Politécnica, uma instituição que se apresenta muito mais insondável para a época que tratamos, pelas dificuldades decorrentes da falta de fontes produzidas pela instituição - só a propósito deste assunto, refira-se que o Anuário da Escola Politécnica só se começou a publicar na 1.ª década do século XX, enquanto que a Academia Politécnica tem óptimos números desde 1878... Devemos referir, igualmente, que em Outubro de 1856, quando se abriu concurso para «guarda do laboratório químico» da Academia Politécnica (guarda é um termo em uso, na altura, que muitas vezes substituiu, erroneamente, o de preparador), de entre as habilitações exigidas, lá estava a cadeira de Química, feita em «em qualquer estabelecimento de instrução superior do reino».

A partir daqui o nosso texto circunscreve-se apenas à Escola Politécnica, e aos seus Preparadores de Química; com ele esperamos ter dado alguns contributos importantes, em particular, para um seu melhor conhecimento, e em geral, para a compreensão das dinâmicas existentes na interface lente-preparador, a demonstrarem que por vezes os limites são ultrapassáveis.

1. O primeiro lente e o primeiro preparador de Química da Escola Politécnica

Quando em 1837 se criou a Escola Politécnica de Lisboa, destinada a apetrechar superiormente os alunos candidatos a oficiais do Exército e da Marinha, em conhecimentos fundamentais de ciências físico-naturais e matemáticas, estabeleceu-se desde logo, pela pena do legislador, que existiria nesta escola, dentro da categoria dos «Empregados que não exercem o magistério», um Preparador de Química (também um de Física, e eventualmente mais algum, se de absoluta necessidade). E se bem que o decreto orgânico da Escola Politécnica apenas referisse de forma singela «Estabelecimentos da Escola (...) necessários para o ensino das diversas disciplinas», sabemos que essa designação abarcava não só o Observatório Real da Marinha, já existente à data do decreto (e que fora transferido, em 1824, da Sala do Risco do Arsenal do Exército para o Colégio dos Nobres, cujo edifício serviu depois para acomodação da recém-criada Politécnica), como implicitamente outros anexos, que estariam ainda para vir.

De entre esses, destacamos naturalmente o Laboratório de Química, local de privilégio e eleição, para esta ciência e para o seu ensino, e «habitat» do preparador. Funções do preparador de Química no dito laboratório podem ser inferidas de algumas fontes da época; mais imediato é, porém, o reconhecimento de que estamos em presença de alguém considerado imprescindível para o andamento do ensino da Química. A existência de um preparador foi desde logo, na Escola Politécnica, colocada como condição sine qua non para o início das aulas da cadeira de Química, a 6.ª: Química Geral e noções das suas principais aplicações às Artes, pelo lente respectivo, e de facto, cedo se deverá ter desencadeado o processo para satisfazer essa condição – em 1841 há provas concretas da existência de um Preparador de Química na Escola Politécnica. Mas não obstante a sua importância, foram necessárias quase duas décadas para aparecerem regulamentadas as suas incumbências (1854).

O primeiro lente da 6.ª cadeira da Escola Politécnica foi Júlio Máximo de Oliveira Pimentel (1809 – 1884), que a regeu desde finais de 1837 até meados de 1859, altura em que transitou para a nova cadeira, de Química Orgânica. Oliveira Pimentel pertencia a uma família de tendência liberal (era sobrinho do General Claudino Pimentel) e fora “apanhado”, ainda estudante em Coimbra, onde cursava a Faculdade de Matemática, pelos confrontos entre liberais e absolutistas. Transformado em alferes do Exército, em 1833, homenagem de D. Pedro IV aos mais bravos na serra do Pilar, foi “reciclado” no fim da contenda após ter completado o seu curso de Matemática - diz-se que devido às “mazelas” que lhe ficaram - e integrado no “corpo” de lentes da nova escola, preparatória para os cursos da Escola do Exército, que, também ela, nascia em Lisboa.

Ainda não dispomos, para Oliveira Pimentel, do nome do professor que, na Faculdade de Filosofia, lhe forneceu os conhecimentos da única cadeira de Química que existia na Universidade, e que integrava o currículo do curso de Matemática. Sabemos, no entanto, da sua amizade com Tomé Rodrigues Sobral (o “oráculo” da Química em Portugal, antigo catedrático em Coimbra, entretanto jubilado na década de 20), e da sua “simpatia” pelas coisas das ciências naturais – o que talvez explique a cedência de Pimentel face à pressão de Mota Pegado e de Sá da Bandeira para que assumisse a regência da 6.ª cadeira – assim como, que considerava a sua preparação nessa ciência manifestamente insuficiente – muito provavelmente, a razão de ser das reticências por ele colocadas, à aceitação do cargo e, desta feita sem qualquer dúvida, o argumento de peso que permitiu “negociá-la”, condicionando-a à realização de um período probatório, em prática laboratorial e conhecimentos industriais, no estrangeiro.

Mas não obstante esta insuficiência “congénita” de formação, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel ainda ponteou o período inicial da Química na Escola Politécnica (de 1837 até 1844, altura em que sai para Paris) com algumas iniciativas no sentido de um maior desenvolvimento do ensino da Química, nomeadamente o “arranjo” do primeiro Laboratório de Química da Escola Politécnica (provavelmente adaptado da cozinha do extinto Colégio dos Nobres, onde se instalara a Escola), a publicação do seu Curso de Química Elementar professado na Escola Politécnica (que antecedeu o mais conhecido, Lições de Química Geral e suas principais aplicações, de 1850-1852), e a elaboração de um curso prático para a cadeira em questão. Em Dezembro de 1839 – e tal como determinado pelos trâmites legais, após um período probatório de dois anos - o Conselho Escolar assumia definitivamente Júlio Máximo de Oliveira Pimentel como lente de Química, propondo-o para proprietário da 6.ª cadeira. A sua nomeação oficial surgiu alguns meses depois, em Abril de 1840. A linha em crescendo dos acontecimentos relacionados com a Química na Politécnica foi contudo tragicamente interrompida quando, em Abril de 1843, um incêndio de grandes proporções reduziu a escombros o edifício do Monte Olivete.

Pimentel ausentou-se no estrangeiro cerca de dois anos, mas na Primavera de 1846 já estava em Portugal, recuperando a regência de Química das mãos de Fradesso da Silveira. As aulas da 6.ª cadeira funcionavam desde o incêndio no Laboratório de Química da Casa da Moeda, prontamente disponibilizado na sequência imediata do desastre, para continuidade das aulas de Química e de Física. A apoiar o trabalho do regente deverá ter estado alguém, primeiro designado por Preparador do Laboratório de Química da Casa da Moeda (1844), e depois 2.º Ensaiador (1846), da mesma instituição - quando acordou em realizar as análises de minerais, como galenas e minérios de cobre e de estanho, requeridas mediante inúmeros pedidos que “choviam” no laboratório, reflexo imediato da reanimação mineira que se começava a manifestar um pouco por todo o país, e que o pessoal da Casa da Moeda, com prática apenas em ensaios para o ouro e prata, não conseguia dar vazão. Isto não impedia, contudo, que o próprio se apresentasse como «Preparador de Química da Escola Politécnica e da Casa da Moeda» (1845).

Pouco sabemos sobre aquele que foi provavelmente o primeiro preparador de Química da Escola Politécnica. De seu nome Francisco Mendes Cardoso Leal Júnior, deverá ter nascido mesmo no dealbar do século XIX ; encontramo-lo nos livros de matrículas do Curso de Física e de Química, de Luís da Silva Mousinho de Albuquerque (que funcionou no Laboratório de Química da Casa da Moeda entre 1823 e 1828), ano lectivo de 1824/1825 – parte de Física, já com 25 anos e identificado como Farmacêutico. Não temos qualquer informação sobre o estabelecimento em que deveria praticar, no entanto, vinte anos depois era proprietário de um Laboratório Químico sito na antiga igreja demolida do Carmo. Em 1849 tinha «voto na matéria» - com alguma autoridade - em Artes Químicas, uma vez que integrava a Comissão de Química, do Júri da Exposição da Indústria, realizada pela Sociedade Promotora da Indústria Nacional em 1849, junto com, precisamente, Júlio Máximo de Oliveira Pimentel, para além de José Lourenço da Luz e de Francisco António Pereira da Costa.

Conhecimentos, maturidade e experiência suficientes para aparecer na Comissão Portuguesa para a Exposição da Indústria de todas as Nações em Londres (na qual podemos encontrar, por exemplo, nomes como o Conde do Farrobo, mas não Oliveira Pimentel) e, igualmente, participar nesse primeiro evento universal, em 1851, com o seu «laboratório analítico e consultivo», no Carmo, em Lisboa, apresentando vários produtos, na sua maioria com aplicações à medicina e medicina veterinária, e à tinturaria, e que mereceram, pelo número e variedade, uma referência especial de «notável» por parte do júri. Entre os apresentados a concurso encontramos a “linha” dos tártaros (sal, cremor, ácido), a do mercúrio (óxido e cloreto) as caparrosas verde e azul (sulfatos de ferro e de cobre, respectivamente), cromato de chumbo, iodeto de potássio, e outros como o álcool, essências (alfazema, rosmaninho, zimbro, limão) e ácido cítrico.

A partir daqui torna-se difícil seguir o percurso de Francisco Mendes Cardoso Leal Júnior. Registamos a sua ausência na 2.ª Exposição Universal, a de Paris, em 1855, onde já não aparece, nem como membro de comissão, nem tão pouco como expositor. A sua actividade como preparador de Química na Escola Politécnica poderá ter morrido por aqui ou, muito provavelmente, ainda alguns anos antes. Quanto ao laboratório químico de que era proprietário, esse, porém, será um exemplo de continuidade: encontramo-lo em 1865, n.º 22 da rua da Trindade, e ainda no início da década de oitenta, expandido (n.ºs 18 a 26), mas já pela mão de outra pessoa, Júlio Moreira Feyo - o «sucessor de Cardoso Leal» - e entre outras coisas, tem preparados para restituir aos cabelos a sua cor primitiva (Água Veneziana), sabão em pó Hudson, e realiza análises químicas de todos os minerais, águas, vinagres, azeites, etc.

2. De preparador a lente: glórias e vicissitudes do 2.º preparador de Química da Escola Politécnica

A reconstrução da Escola Politécnica trouxe, seguramente, algumas vantagens ao desenvolvimento da Química nesta instituição, uma das quais ressalta de imediato, pelo facto de estarmos agora necessariamente em presença de um Laboratório de Química que, levantado com o novo edifício, será projectado e criado de raiz, em contraposição ao espaço mais ou de menos de improviso, adaptado de acomodações no edifício do Colégio dos Nobres (que não tinha ensino da Química) anteriores ao incêndio.

Em Março de 1846 noticia-se que irão finalmente começar os trabalhos de re-edificação da Escola Politécnica, agora sem a Escola do Exército “agarrada”, que terá também ela um edifício próprio. Em 1863 já tinham voltado há muito para o Monte Olivete, todas as aulas da Escola, mas a maior parte funcionava ainda em apartamentos provisórios. A Química era no entanto uma excepção, uma vez que nessa altura já estavam concluídos o «grande anfiteatro», e o «magnífico laboratório», e também a aula de Física, o museu de zoologia e o observatório.

Não dispomos de uma data exacta para o início do funcionamento das aulas de Química nas novas instalações da Escola Politécnica, mas com alguma margem de erro poderemos situá-la na 2.ª metade da década de cinquenta. Por essa época, deverá ter ocorrido a mudança do preparador de Química. Não sabemos porque motivo não continuou Cardoso Leal Júnior neste cargo. O futuro preparador, José Alexandre Rodrigues (conta-se), praticava na farmácia Azevedo, no Rossio, e foi o duo Pimentel (lente da 6.ª cadeira, de Química) – Pegado (lente da 5.ª, de Física) quem procurou o candidato em questão. Desconhecemos também quando se estabeleceu este contacto, mas é certo que em 1853 José Alexandre Rodrigues já trabalhava no Laboratório de Química da Escola Politécnica, como preparador de Química (ainda provisório), quando se abriu concurso para provimento do lugar de lente substituto para a cadeira de Química, iniciando-se o processo para a sucessão da cadeira de Química.

A regência da cadeira exigia, porém, uma continuidade que nem sempre o proprietário, regra geral muito comprometido com outros afazeres, normalmente governamentais e de administração pública, comissões oficiais, etc., podia assegurar. Existia para isso, então, o lente substituto, um coadjuvante do lente proprietário, igualmente pertencente ao quadro da escola, que regia a cadeira na ausência do primeiro. Este sistema funcionava para todas as cadeiras, mas a lei orgânica dotava as dez cadeiras de um número inferior de substitutos, o que significava que havia cadeiras com o mesmo substituto.

Encontrava-se nesse caso, a 6.ª cadeira, de Química, cujo substituto acumulava igualmente com a 5.ª, de Física. A primeira nomeação recaiu sobre Joaquim Henriques Fradesso da Silveira (1825 – 1875), em Abril de 1844, e cerca de seis anos depois de se terem iniciado as aulas da cadeira de Química. Fradesso da Silveira frequentara todas as cadeiras da Escola Politécnica, e para completar o seu Curso Geral só lhe faltou o exame à 4.ª cadeira, que nunca chegou a realizar, porque o calendário do concurso para esse lugar assim o determinou.

Era proprietário da 5.ª cadeira, Guilherme António Dias Pegado (1803 – 1885), formado em Filosofia e em Matemática por Coimbra, doutor em Matemática pela mesma universidade, liberal e exilado em França durante o período do domínio absolutista, que fora professor de Oliveira Pimentel, e de quem era amigo particular.

No início da década de 50 Pimentel e Pegado pertenciam ambos à Câmara de Deputados. Como só havia um substituto, a regência das duas cadeiras assumia foros de absoluta irregularidade, pois como Fradesso dava as aulas da cadeira de Física, a de Química não funcionava. Face às dificuldades existentes, em Janeiro de 1853 o Conselho Escolar representou ao governo, expondo a situação, e pedindo um lente substituto para a 6.ª e outro para a 5.ª Em Julho do mesmo ano foi então criado o lugar de lente substituto da 6.ª cadeira da Escola Politécnica, e como Fradesso optou pela Física, abriu-se então o respectivo concurso. Pela primeira vez, a Química da Politécnica podia dispor de um lente substituto próprio e, desse modo, proporcionar-se ao proprietário algumas condições para começar a pensar no seu “assistente”, e em trabalhar os termos da sua sucessão.

As esperanças pareciam concentrar-se todas em Joaquim António da Silva, do 4.º ano da Escola Médico-Cirúrgica, que na Escola Politécnica, entre 1847 e 1849, provara ser um aluno de “eleição” nas ciências físico-naturais. E quando foi o momento, o Conselho votou unanimemente neste candidato. Tinha-se encontrado o sucessor à 6.ª cadeira.

Preterido nesta escolha, porque também tinha acorrido ao concurso, José Alexandre Rodrigues demite-se do seu lugar de preparador, em princípios de 1854; segundo a própria instituição, alegando incompatibilidade do lugar com outras ocupações. Quem lhe suceder - o proprietário da cadeira de Química avançou o nome de João José de Sousa Pereira – irá encontrar, pelo regulamento para a Escola elaborado por essa altura, um conjunto de atribuições e regras de funcionamento especificamente definidas:

“Preparador, e Laboratório de Química

(...)

Art. 285.º Incumbe ao Preparador de Química

1.º Preparar todos os objectos que forem necessários para as demonstrações e experiências, que lhe forem ordenadas pelo Director do Laboratório.

2.º Fazer as compras, e incumbir-se das encomendas que lhe forem ordenadas pelo mesmo director para o serviço do Laboratório.

3.º Coadjuvar os Lentes de Química nas experiências do ensino e serviço público, sempre que estes lho ordenarem.

4.º Fiscalizar o serviço dos operadores subalternos e serventes do Laboratório.

5.º Assistir às lições de manipulações, e coadjuvar nelas o lente de Química, bem como nas experiências e demonstrações que tiverem lugar nas sessões ordinárias.

Art. 286.º O Preparador é obrigado a comparecer no Laboratório todos os dias não santificados, e de festividade nacional ; e a conservar-se nele durante todo o tempo destinado para as preparações, experiências, e demonstrações

1.º O tempo destinado para estes trabalhos será, nos dias de aula, a começar do 1.º de Outubro até o 1.º de Março, desde as 9 horas da manhã até às 2 da tarde ; e do 1.º de Março até o 1.º de Julho, desde as 9 horas da manhã até às 3 e meia da tarde e nos outros dias durante o tempo necessário para perfazer os trabalhados que estiverem destinados para esse dia pelo director do Laboratório.

Durante as férias o Preparador comparecerá no Laboratório quando lhe for ordenado pelo Director ; e ali se demorará o tempo necessário para satisfazer aos trabalhos do ensino, e serviço que o mesmo lhe destinar.

2.º Quando o Preparador por impossibilidade de saúde, ou qualquer outra causa, não puder comparecer, dará imediatamente parte ao Director do Laboratório, que a comunicará ao Secretário para constar ao Director da Escola.

3.º Só o Director da Escola poderá dispensar o Preparador do seu trabalho ordinário, quando haja de o empregar em serviço urgente da mesma Escola, e que não possa ser feito por outro empregado, não prejudicando esta dispensa o serviço regular do Laboratório.

Art. 287.º O Preparador é responsável pela conservação dos utensílios, aparelhos, produtos, e todo o material do Laboratório. Esta responsabilidade é imediata para com o Director do Laboratório.

Art. 288.º O Preparador é obrigado a lançar diariamente em um caderno todos os trabalhos em que se ocupou.

Art. 289.º As requisições do Director da Escola e dos Lentes, relativas a algum serviço do Laboratório, devem ser dirigidas por escrito ao Director do Laboratório ; mas no caso deste senão achar presente, o Preparador as satisfará, guardando a competente requisição para lha apresentar logo que este compareça, e só assim ficará salva a sua responsabilidade pelo que respeita ao objecto requisitado.

Art. 292.º Os operadores subalternos e serventes do Laboratório deverão executar as ordens do Director daquele estabelecimento, e na sua ausência as do Preparador, que só os poderão empregar em serviço da Escola.

Art. 293.º Dar-se-ão no Laboratório de Química lições práticas de manipulações aos alunos matriculados na sexta cadeira, que serão obrigados a assistirem a elas. Estas lições serão dirigidas pelo Lente de Química coadjuvado pelo Preparador.

Com uma estrutura e organização estabilizadas, a Escola Politécnica parece entrar num novo período de funcionamento. O mesmo se pode aplicar à 6.ª cadeira, que com lente proprietário devidamente “apetrechado” no estrangeiro, lente substituto privativo, preparador, laboratório (talvez já o novo, no edifício em reconstrução), alguma regulamentação própria, e sem manifestações evidentes de insuficiência de dotação, tem condições para “descolar” com suficiente energia. Nomeadamente, são visíveis algumas demarches realizadas por Oliveira Pimentel, reveladoras da importância que este atribuía ao ensino prático como factor de aprendizagem e formação – o ensino prático deveria ser um valor a ter em conta nos resultados obtidos pelos alunos da 6.ª cadeira.

A acompanhar esta “onda”, encontramos Joaquim António da Silva, “consumindo-se” no Laboratório de Química, ao mesmo tempo que procurava acabar o curso médico-cirúrgico. Mas isto por pouco tempo: a precariedade e o progressivo agravamento do seu estado de saúde acabaram finalmente por justificar a sua transferência para a substituição da cadeira de Física, entretanto deixada vaga por Fradesso da Silveira, tarefa, pelo menos na parte prática, menos penosa do que os trabalhos no Laboratório de Química.

E é no processo de preenchimento do cargo de lente substituto da cadeira de Química, novamente posto a concurso, que vamos reencontrar a figura de José Alexandre Rodrigues. Em Fevereiro de 1856 vota-se unanimemente a colocação do antigo preparador de Química no lugar em questão e, dois anos depois, em Março de 1858, o Conselho Escolar decide-se igualmente a favor do seu provimento definitivo. Um preparador no lugar de lente substituto seria, a todos os níveis, facto já de si insólito para o ensino superior da Química na altura, mas a sucessão dos acontecimentos não ficou por aqui, tornando o cenário ainda mais extraordinário.

Com o “desdobramento” verificado em Junho de 1859, em que a Química passou a ter duas cadeiras (cada uma com um proprietário e um substituto) na Escola Politécnica - a 6.ª, já existente, agora dedicada apenas à Química Inorgânica, e a nova, a Química Orgânica, com a Análise Química pendente - abriram-se outras perspectivas na colocação dos lentes. Em consequência disso houve uma certa movimentação, que resultou, digamos, numa nova distribuição, em que Júlio Máximo Pimentel transitava (sem concurso) para a propriedade da cadeira de Química Orgânica, e José Alexandre Rodrigues, de lente substituto para proprietário da 6.ª cadeira. Pelo regulamento, estes lugares careciam de confirmação à posteriori; isto significava que para ambos existia um período “experimental”, de dois anos, ao fim do qual se votava o seu provimento definitivo.

Foi assim que José Alexandre Rodrigues ganhou a propriedade da cadeira de Química Inorgânica. O facto de alguns dos mais verosímeis opositores ao seu lugar estarem afastados da Escola Politécnica, deve ter contribuído bastante para que ele tenha surgido como a escolha certa – Fradesso, temporariamente, porque exonerado das funções a seu pedido, somente retornará em Novembro de 1860 (e não nos esqueçamos que não se evidencia qualquer inclinação especial de Fradesso para a Química; para além do seu interesse pela indústria, o seu perfil é muito mais de físico), e Joaquim António da Silva (este sim, muito mais químico), provavelmente porque o seu estado de saúde, cada vez mais gravoso, não lhe permitia assegurar um cenário de estabilidade junto de qualquer instituição, apesar da dedicação e do muito trabalho que desenvolvia (J. A. da Silva faleceu em Agosto de 1860, de retorno a Lisboa, a bordo do paquete D. Pedro, que fazia serviço entre a capital e os portos de África).

Os dados de que dispomos permitem-nos concluir que não houve mais opositores à propriedade da 6.ª cadeira, pura e simplesmente porque o Conselho resolveu adoptar para ela o mesmo sistema da Química Orgânica e da Geometria Descritiva, isto é, que a sua primeira proposta de provimento fosse feita em lente da Escola, ora como Pimentel quisera a Química Orgânica, esse lente era ... José Alexandre Rodrigues.

Mas em situações anteriores, nomeadamente para o momento da eleição do candidato à substituição da 6.ª cadeira, em 1856, os documentos são omissos. Não sabemos se houve mais candidatos, ou se já nessa altura José Alexandre Rodrigues aparecia como a única opção. Talvez mais uma espécie de “mal menor”, do que a “melhor opção”, pois não deveria ser totalmente pacífica, a inclusão de um elemento com perfil adequado a categorias inferiores às dos lentes na Escola Politécnica.

Como é natural, José Alexandre Rodrigues teve lugar no volume comemorativo do 1.º Centenário da Fundação da Escola Politécnica de Lisboa, dedicado aos lentes das cadeiras de Química desta instituição. Mas contrastando com a abundância de elementos biográficos e de referências laudatórias a alguns dos “notáveis” como Oliveira Pimentel, António Augusto de Aguiar, ou Agostinho Vicente Lourenço, temos uma apreciável economia de informações para José Alexandre Rodrigues, de quem não se indica quando e onde nasceu, onde estudou, ou onde desenvolveu actividades, antes e durante o período como lente na Politécnica.

São estes os termos do perfil composto para José Alexandre Rodrigues, enquanto lente da 6.ª cadeira, Química Inorgânica, para os fins comemorativos em questão:

«José Alexandre Rodrigues

(28 – 2 – 1856 a 27 – 3 – 1865)

Foi preparador da cadeira de Química (6.ª cadeira) até 7 – 5 – 1854, em que pediu a sua exoneração, por incompatibilidade do lugar com outras ocupações.

Em 28 – 2 – 1856 foi nomeado, precedendo concurso por provas públicas, lente substituto da 6.ª cadeira.

Em 7 – 6 – 1859, o lente proprietário desta cadeira, Júlio Pimentel, optou pela cadeira de Química Orgânica, recentemente criada. Por este facto passou José Alexandre Rodrigues a lente proprietário da 6.ª cadeira, em 12 – 4 – 1860.

Sendo nomeado verificador da Alfândega Grande, de Lisboa, em 1 – 3 – 1865, José Alexandre Rodrigues foi demitido de lente proprietário da 6.ª cadeira em 23 – 3 – 1865.

Enquanto serviu como lente proprietário teve como lente substituto António Augusto de Aguiar que, pela demissão do lente José Alexandre, foi promovido a proprietário da 6.ª cadeira.»

3. Quem é José Alexandre Rodrigues?

Por este motivo, questionamo-nos sobre José Alexandre Rodrigues. Há referências de que trabalhava numa farmácia, quando foi “desafiado” para servir como preparador de Química na Escola Politécnica. Mas seria ainda apenas alguém que ganhava prática? Terá feito exames para farmacêutico? Terá realizado um curso de Farmácia, em Lisboa, Porto ou Coimbra? De facto temos algumas pistas sobre a sua possível formação, mas são menos fiáveis que no caso de F. C. Mendes Leal Júnior, e carecem de posterior verificação.

Estas pistas conduzem-nos à Exposição Universal de Paris de 1855, onde alguém chamado José Alexandre Rodrigues e identificado como contramestre da fábrica de produtos químicos de Serzedello & C.ª aparece premiado.

Deste Laboratório – Fábrica sito na Margueira, temos notícia desde 1825, quando surgiu, pela mão de João Paulino Vergolino de Almeida, que se preparara no Curso de Física e de Química do Laboratório de Química da Casa da Moeda, trabalhando durante dois anos «debaixo das vistas e direcções do hábil Professor Luís da Silva Mousinho de Albuquerque», que pretendia avançar, nesse estabelecimento, com a obtenção em grande do óleo de vitríolo (ácido sulfúrico) que era, na altura, importado na totalidade. Os obstáculos encontrados no respeitante à isenção de direitos das matérias-primas – condição necessária para viabilizar economicamente essa produção – que nem mesmo as vantagens da substituição de importações pareciam ter o efeito de afastar, foram atrasando o processo de concretização desta indústria no dito estabelecimento, que entretanto foi tratando de vender outras coisas (algumas produzidos localmente, outras adquiridas no estrangeiro), como preparados de chumbo, de marfim, de mercúrio, cremor tártaro, etc. O estabelecimento de produtos químicos da Margueira só obteve a isenção desejada em 1834, porém, na falta de elementos, não podemos precisar se a ela se seguiu, ou não, o início da produção de ácido sulfúrico - certo é, porém, que a fábrica da Verdelha do Conde do Farrobo já o produzia em 1838, e em 1849 dizia-se que era o único produtor deste género a nível nacional. O laboratório químico da Margueira foi vendido à família Serzedello, em 1844, e a sua exploração ganhou um considerável desenvolvimento a partir de 1848, altura em que – necessariamente - se deverá ter procedido a reformas tecnológicas no referido estabelecimento.

É lógico pensarmos então, que o contra-mestre do estabelecimento da Margueira premiado em 1855 (premiado, portanto com competências notórias para ser distinguido), na Exposição Universal de Paris, poderá muito bem ter sido quem orientou e supervisionou as tais reformas efectuadas em finais da década de 40. Isto significa que José Alexandre Rodrigues, contra-mestre da fábrica de produtos químicos dos irmãos Serzedello já estava ao serviço da dita casa por essa altura. Como se apetrechou este homem com técnicas, conhecimentos e o know-how suficiente para o efectuar? Em 1855 o laboratório da Margueira produzia ácido clorídrico e nítrico, diversos sais de chumbo e de mercúrio, dissoluções de sais (de nitrato de cobre e de cloreto de antimónio) e nitratos (de potássio, de bismuto, de prata, entre outros), os “tártaros”, a potassa cáustica (hidróxido de potássio), etc.

Diziam os Serzedello em 1881 que o seu laboratório tinha um director técnico que fora discípulo do Visconde de Vila Maior (Júlio Máximo de Oliveira Pimentel) quando a Química da Escola Politécnica funcionava ainda no Laboratório da Casa da Moeda. Somos assim remetidos para as décadas de 40 – 50; Será então este director técnico o antigo contra-mestre premiado? Assumamos que sim. E mais: digamos que José Alexandre Rodrigues frequentou a cadeira de Química (talvez como ouvinte, talvez já depois de Pimentel regressar do estrangeiro, em 1846) e que com os conhecimentos adquiridos pode validar-se como o elemento “renovador” – o contra-mestre - do laboratório dos Serzedello (contra-mestre determina um mestre: havia um mestre no estabelecimento visado, mas foi José Alexandre Rodrigues, pelas razões já apontadas, quem deverá ter sido o elemento colocado na estrutura para a reformar).

Mas aluno ou não de Oliveira Pimentel, o certo é que temos um José Alexandre Rodrigues, contra-mestre de uma fábrica de produtos químicos, em 1855, e um José Alexandre Rodrigues que fora preparador de Química na Escola Politécnica, que se demitira em 1854 - depois aparece como mestre da Oficina de manipulações químicas/preparador do Laboratório de Química do Instituto Industrial de Lisboa, para a 7.ª cadeira - Química aplicada às Artes, (o lente proprietário era Júlio Máximo de Oliveira Pimentel), um lugar onde a lei dava preferência «a pessoa devidamente habilitada que mostre ter prática das preparações e operações de química industrial e que tenha já trabalhado em algum laboratório ou fábrica de produtos químicos» - e que em breve se voltaria a propor ao lugar de lente substituto da 6.ª cadeira, de Química, da mesma Escola.

Perguntamos: - será o mesmo indivíduo? E em caso afirmativo, como é que conciliamos estes factos com a informação de que o José Alexandre Rodrigues – preparador, trabalhava numa farmácia (Azevedo, no Rossio), na altura em que foi “desencaminhado” pelos lentes de Física e de Química, i.é, Pegado e Pimentel? A pessoa afinal trabalhava em dois sítios diferentes? Podia ser? Como também não sabemos bem quando foi feito este contacto, pode haver um desajuste temporal entre o trabalho na farmácia Azevedo e no laboratório da Margueira ... por outro lado a fonte que fornece este último dado, altamente “secundarizada” também pode estar equivocada ... Ou podem mesmo ser pessoas diferentes!

Apesar de haver alguma confusão, com questões insuficientemente esclarecidas, datas que não estão ainda apuradas, muito mais sombras e escuridão que luz, nada disto porém, invalida para já a hipótese de se poder tratar da mesma pessoa, e parece haver pelo menos um elo de ligação entre os dois, o lente da 6.ª cadeira. Pimentel conhece o José Alexandre Rodrigues – farmacêutico (o preparador de Química da Escola Politécnica e do Instituto Industrial), e deve conhecer o José Alexandre Rodrigues – contra-mestre, mas este facto não é o suficiente para podermos fazer coalescer os dois nomes sobre a mesma figura.

E se são duas pessoas distintas então, com o mesmo nome, com percursos profissionais afins da Química, lidando ambos com a produção de compostos para a Medicina e Farmácia, potencialmente capazes de um desempenho no Laboratório de Química da Escola Politécnica, e ambos vivos na mesma altura “crítica”, então não será pelo menos lícito perguntar: qual deles foi o preparador?

Para concluir esta rubrica em aberto sobre a identidade do preparador de Química da Escola Politécnica, José Alexandre Rodrigues, relembremos que este é demitido do seu cargo de lente proprietário da 6.ª cadeira em 1865, por ter sido nomeado verificador da Alfândega Grande. E acrescentemos ainda outro dado: em 1865 existe um Laboratório Químico no n.º 36 da rua do Sacramento, a S. Sebastião da Pedreira, cujo proprietário se chama ... José Alexandre Rodrigues.

FONTES E BIBLIOGRAFIA

FONTES IMPRESSAS E MANUSCRITAS

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ESCOLA POLITÉCNICA DE LISBOA. Actas do Conselho Escolar – Livro 2.º, de 27 de Abril de 1839 a 1 de Novembro de 1843

ESCOLA POLITÉCNICA DE LISBOA. Actas do Conselho Escolar – Livro 5.º, de 29 de Dezembro de 1851 a 30 de Junho de 1864

ESCOLA POLITÉCNICA DE LISBOA (1854) – Regulamento da Escola Politécnica; Janeiro de 1854. Lisboa

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ACM/INCM. Casa da Moeda. Registo da correspondência recebida – Livro 17 A, de 1843 a 1847

ACM/INCM. Casa da Moeda. Laboratório de Química. Aula de Física e Química. Matrículas dos Alunos – Livro 1.º, Ano de 1824 para 1825 – Parte Física

3. Fundo da Junta do Comércio – Arquivo do Ministério das Obras Públicas, AMOP

AMOP. JC 8. Processo de Licenciamento de Fábricas. Laboratórios Químicos – Laboratório da Margueira (1825 - 1834)

4. Arquivos da Torre do Tombo

ANTT. Ministério do Reino. Instrução Pública: Consultas, Mç 3504 (1860 – 1866)

ANTT. Ministério do Reino. Direcção Geral de Instrução Pública. Relatórios, Mç 3644 (1843 – 1847)

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Sociedade Promotora da Indústria Nacional (1850) – Exposição da Indústria em 1849; Relatório Geral do Jurado; Relatórios especiais, Relação dos produtos. Lisboa, Tipografia da Revista Universal Lisbonense

TELES, João José de Sousa (1904) – “Sousa Martins”. In Comissão Executiva da Homenagem a Sousa Martins - “Sousa Martins (In Memoriam)”. Lisboa