ALESSANDRO

ZIR

Pleif Mapa

Capítulo 1

Eu acho que você nasceu mais próximo das 19 horas, ela disse.

Você nasceu na Terra na época em que ela foi incendiada, pensou. Por isso, é que traz consigo essa imagem do deserto. Você é o deserto. Seca, afastada e definida: olhava para a ruga q ele tinha abaixo do olho esquerdo. Teria sido proposital? Não que tivesse sido feita artificiosamente, mas uma transformação concreta do olho, do seu poder de análise. A recusa em se aproximar ou dissolver.

Na época ainda não se sabia se o apocalipse viria pela água ou pelo fogo, ele respondeu. E foi por isso que se decidiu incendiar a água. Consumiu-se o dilúvio. Teriam todos morrido se não fosse isso – eu não estaria aqui com você.

Ela se afastou da mão dele que avançava para ela para impedir a aproximação dissolvente. E se fosse mesmo o seu filho? Poderiam de fato se aliar? Mas contra o que? Bom, muita coisa poderia ainda ser evitada.

A visão dela deitada de lado na cama, o ombro recuando, fez o desejo dele latejar. Ele avançou a mão como se fosse natural empurrá-la. Estava seguro, não corria nenhum risco. Não disse nem diria mais nada. Veria as cicatrizes quando ela estivesse nua. Faria com que elas ardessem, queimando-as de novo uma por uma.

Sentia prazer naquilo? Se contorcia, espalhada pela pele e as sacudidas bruscas. O scanner iria de qualquer forma identificá-la. Era o trabalho dele. Cinco a seis seções e tudo estaria resolvido.

Ele sorriu. Teria a prova de que precisava. Depois de todo o trabalho investido no laboratório. Só estava faltando encontrá-la. E ela apareceu quando ele estava pronto. Já via o resultado construído no gráfico. Um risco preto no gráfico, feito com lápis-carvão.

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