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HERPETOLOGIA
CABO VERDE
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FICHAS DE ESPÉCIES
SAURIA: SCINCIDAE:
Macroscincus coctei (Duméril & Bibron, 1839)
 
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1824. Ossements Fossiles, 4ª edição (1ª, 1812): Cuvier descreve um crânio que atribui a Lacerta (=Tiliqua) scincoides de Shaw (Austrália).

1839. Duméril & Bibron descrevem Euprepes coctei dizendo desconhecer-lhe a pátria. Informam que o exemplar fora levado de Lisboa em 1809.

1845. Gray refere Euprepis Coctei no Catalogue. Vou transcrever tudo, é pouco.

COCTEAU’S EUPREPES. Euprepis Coctei, Dum. et Bib. E.G. v. 666. Grey, brown, brown-varied, yellow-spotted; scales of the back small, with two distinct keels; ear large, open, with 3 or 4 short lobules; orbit with a series of small scales beneath; preanal scales 6, large; internasal broad, lozenge-shaped, frontonasal contiguous, 5-sided. Inhab. Africa? Mus. Paris. A single very large specimen, 5 feet 4 inches long, part of the collection “taken from the Lisbon Museum in 1809”

Em 1845, Gray não dá mostras de saber que os lagartos existem em Cabo Verde. As medidas que aponta equivalem a 1,625 m, talvez Gray fosse um inglês baixinho, porque lhe pertencem a ele e não ao bicho. Põe uma frase entre aspas, a mais importante da diagnose. As aspas tanto servem para citar como para exprimir dúvida ou mesmo discordância. Ele está a citar? Para já, Duméril & Bibron prestam de facto essa informação, não há necessidade de citar, basta parafrasear. O assunto não é assim tão problemático ou escaldante que exija transcrição literal. Mas não há transcrição literal, logo não há citação. Então sobra a dúvida ou a discordância: esse exemplar não era proveniente de Lisboa, querendo isto dizer que Gray sabia perfeitamente qual a sua origem. Fosse ela qual fosse, admitamos até Cabo Verde como hipótese, se o animal não pertencia às colecções do Gabinete da Ajuda, então não fora coligido por Feijó.

1873. Descrição de M. coctei por Bocage, que indica o ilhéu Branco como terra típica e habitat exclusivo em Cabo Verde.

1874. Bocage: D'après les derniers renseignements que j'ai reçus de M. le D. Hopffer, la patrie exclusive de cette espèce est un îlot inhabité de l'archipel du Cap-Vert, situé entre l'île de Santa Luzia et l'île de S. Nicolau, mais plus rapproché de la première île, dont il se trouve à peine à la distance d'une lieue et demie. Cet îlot, assez élevé au-dessus du niveau de la mer, produit abondamment de l'orseille; il est connu et se trouve désigné, dans nos cartes, sous le nom d'Ilheo Branco. Nos Proceedings, diz que Cessac lhe tinha falado em tempos de um grande lacertien num ilhéu de Cabo Verde. E porque é que Cessac não mandou o lacertien para Paris? Além de ter oferecido a Bocage o Hemidactylus cessacii=H. bouvieri, Cessac ainda ofereceu o Phenomenous entroncamentii.

1875. Sai a descrição de Euprepes (Charactodon) Cocteaui, de Troschel, a partir de um espécime coligido pelo geólogo Stübel no ilhéu Raso. Este artigo só será citado nos nossos dias, de resto é como se não tivesse existido. No entanto, não foi por acaso que lhe coube em sorte ter de refutar a exclusividade do Branco como habitat dos lagartos. O caso é idêntico à descrição de Hemidactylus Cessacii Bocage=H. Bouvieri Bocourt. Houve um atraso muito grande na publicação, o texto está datado de 1873, e foi objecto de comunicação oral em 1874. Enfim, nem tudo corre segundo os planos, por mais cientificamente premeditados. Por Peters, director do Museu de História Natural de Berlim, diz o Tarot.

1882. Vaillant conta que tem 12 exemplares vivos do ilhéu Branco, na ménagerie do Museu de Paris, da espécie que outrora D. & B. haviam incluído no grupo dos Eumeces. Diz que os maiores atingem 60 cm de comprimento. Não revela o tamanho dos normais nem dos anões. Acrescenta ainda que são muito herbívoros e gostam de sopas de pão. Da marmelada, esquece-se, do vinho cansado, também.

1887. Boulenger era jovem mas já sabia muito, só fala entre dentes e por monossílabos. Do M. cocktail só disse algo como isto: a escama que o bicho tem na testa - escudo frontal, acho eu - que em D. & B. se diz estar fendida de alto a baixo talvez por acidente, na verdade é uma anomalia vulgar. Anomalia vulgar em que criaturas, já Boulenger não diz. Mas para dizer tão pouco conhecia muitos bichos ou não saberia distinguir anomalia nenhuma. Sim, porque isto até pode ser um sinal secreto, marca na testa ou algo afim. Li-o no Conde de Peracca, que também é dos tais, diz que os ovos do M. coktail mediam nada menos que cinco centímetros e não sabia qual das fêmeas os tinha posto porque no seu harém havia várias.

ERRATA: Acaba de me chegar às mãos o capítulo dos Scincidae de Boulenger (1887). Tragicamente, não diz nada do que Peracca diz que ele disse acerca do escudo frontal, a que aliás Peracca chama frontonasale (internasale). Boulenger fala de supranasais, de uma single nasal, pré-frontais, frontoparietais, interparietal, pós-nasal, rostral, frontal, supraoculares, supraciliares, nucais, dorsais, laterais, ventrais, e creio mesmo que o número de 106 a 113 diz respeito a estas escamas barrigais à volta do meio corpo, um dos caracteres absolutamente únicos do M. coctei, além dos dentes de iguana: mais nenhum Scincidae até hoje conhecido tem tantas escamas a dar a volta ao corpo, digamos que na região do umbigo, se é que os répteis têm umbigo, receio que não. De pré-anais, Boulenger também fala. E acabou. Não há referência a uma escama frontonasal, que literalmente estaria pregada à ponta do nariz, nem internasal, que literalmente ficaria no interior do nariz. Também nada na descrição de Boulenger corresponde a Le scaglie del capo presentano alcune anomalie molto frequenti, que Peracca dá como citação da pág. 149 do vol. III do catálogo dos lagartos de Boulenger, e a maior parte das escamas que referi até vêm na pág. 150. Por consequência, Peracca está a reinar com o pessoal. Quando continua, dizendo que estas escamas são supranumerárias, acredito que diga a verdade. Porque escamas dentro do nariz e postas à frente dele, realmente devem ser excepcionais. O carácter quadricarenado das escamas do rabo também é supra-numerário, porque Boulenger só fala de escamas com duas e três carenas. Nenhuma tem quatro. Para além da cauda preênsil, óptima para se enroscar aos troncos de árvore, Peracca refere ainda esta estranha circunstância de os machos se distinguirem das fêmeas por terem a cabeça mais larga que comprida, ao passo que as fêmeas a têm mais comprida que larga. Uma cabeça mais larga que comprida tem lados supranumerários. Etc.. Vide 1891.

Ao contrário de Peracca, o que Boulenger diz é que os scincos seus conhecidos são todos ovovivíparos. Mais acrescenta: todos os modos de vida existem entre eles, salvo o aéreo e o aquático. Ou seja: não têm asas nem barbatanas. Enfim, até ver.

Boulenger assinala ainda que os dentes do género Macroscincus são similar to those of the Iguana; que a cauda é cilíndrica, as long as head and body. Amarelo com pintas cinzentas por cima, cinzento oliváceo na face ventral. C. corporal: 275 mm. Ilhéu Branco, Cape Verde Islands, medidas de um exemplar adulto oferecido pelo Dr. W. K. Parker.

O facto mais importante referido por Boulenger é o artigo de Troschel, que obrigará Bocage a revelar o Raso como habitat do M. coctei.

1891. Peracca, continuemos. As medidas que fornece não permitem saber o tamanho dos bichos: diz que a cauda tem comprimento variável, a dos machos é mais comprida que a das fêmeas e não dá o comprimento corporal. Vinte e cinco dos seus quarenta espécimes foram medidos há pouco por Cei e o resultado afiança que não merecem o epíteto de gigantes. Posto isto, Peracca censura Bocage por dar só três dimensões (c. total. c. corporal, c. cauda), com isto só pretendendo demonstrar o gigantismo dos seus exemplares. Crespo sugeriu que mencionasse a escala de cores fornecida por Peracca, pois era prova não explicou de quê, mas isso dá imenso trabalho. Por isso, resumo: os bichos têm todas as cores, o que prova de facto que continuamos no reino da alegria. Ovos, as fêmeas puseram mais seis, de dimensões iguais às do primeiro, que em rigor tinha 5 centímetros e meio de comprimento e dois de diâmetro, o que, na opinião de pessoas entendidas, é um exagero, isso são ovos de galinha. Bom, deve ser um ovo supranumerário, por isso super-grande, porque só uma fêmea o pôs, sendo quinze os animais recebidos a seis de Junho, e mais nenhum ovo tendo sido posto até vinte do mesmo mês, data em que Peracca deu à luz o artigo. As fêmeas já deviam ter posto os ovos todos antes de chegarem a Turim, motivo pelo qual aquele primeiro ovo, antes dos seis postos mais tarde, era supranumerário. Os seis ovos supranumerários restantes foram postos até 9 de Julho seguinte, data em que Peracca pôs o segundo artigo. Ao todo, as fêmeas de Peracca, 20 que já viviam em sua casa antes de recebidas as outras, mais estas, não puseram mais do que sete mais sete ovos, o que dá catorze. Supondo que todas tenham posto ovos, 20+X: 14, dá em média cerca de 0,3 ovos por cabeça, o que demonstra a correcção do estudo de Peracca, segundo o qual estes animais põem poucos ovos. Mas se na tabela de dimensões Peracca menciona 8 fêmeas e onze machos, no total diz que possui quarenta exemplares, e no capítulo de ovos refere 20 fêmeas anteriores às chegadas na remessa seguinte, constituída por 15 indivíduos, conclui-se que de início tinha só 5 machos para 20 fêmeas, na tabela ignora X-6 fêmeas, o que no mínimo dá 11+X rejeitadas, no mínimo vieram mais 6 machos, o que no total dá 11, e o resto é estatística, pura objectividade da linguagem matemática. Sem objectividade, em linguagem perfeitamente passional, os lagartos iam comer à mão de Peracca os frutos que lhe oferecia, preferindo eles as maçãs, e comiam acima do proporcional ao corpo, daqui retirando Peracca a conclusão de a sociabilidade não decorrer da falta de medo, sim de estarem habituados a viver em lugares sem perigo. Lugares isentos de riscos, em que os animais vêm comer à mão de rabito a dar-a-dar, a saracotearem-se todos, é em casa. E podemos até fazer-lhes festas, quando saem da água para se esticarem ao sol, feitos Miss Urraca de perna ao léu, que não se espantam nem retraem para dentro da carapaça. Olham, seráficos, com sorrisos de orelha a orelha, esparramados de bem-aventurança, como quem diz. Acresce ainda que Peracca declara nada saber do ilhéu Branco, mas em todo o caso a temperatura deve aí ser elevada, pois a 30 graus centígrados, no terrário, os bichos recolhem ao não-estou-cá, para só se activarem a partir do crepúsculo, quando a temperatura baixa para 20-24 graus. Mas é quando desce para 15-20, pelas 8 horas da noite, que se atiram francamente à comida e ficam num desassossego toda a noite. Isto permite a Peracca supor que os animais são nocturnos quando esplende a lua, apesar da pupila perfeitamente circular, própria dos animais diurnos. A 15 graus centígrados, um mamífero como o que escreve sente falta de um casaquinho, espantoso como animais de sangue frio preferem os gelados raios lunares. Com água a 23 graus, no Inverno, Urraca, Tarejo e Mesquita perdem o apetite, mal se mexem, e Tarejo quase deixou de comer. No Verão, comem este mundo e o outro, não descansam, sempre num rodopio de namoro ou natação, e Urraca até se atirou do aquário abaixo na aflição de pôr um único ovo. Não tinha nada que se parecesse com 5,5 cm de comprimento e 2 de diâmetro. Menos de metade, para aí. Nada nasceu do ovo excepto bolor.

1894. Orlandi, assistente de Zoologia na R. Univ. de Génova, publica um longo estudo anatómico sobre os monstrinhos. Duas fotografias do esqueleto inteiro, de lado e de costas, ilustram o ensaio, encomendado de certeza por Giacomo Doria, director do Museu de História Natural e da Sociedade de Geografia de Génova. Também há desenhos de umas tripinhas, enfim, dos órgãos digestivos. Em resumo, o M. cocktail é muito pouco afim do sardão mas menos da Tiliqua scincoides, scinco de língua azul da Austrália.

1896. Bocage refere finalmente que os lagartos também existem no Raso. Figuram actualmente na nossa colecção doze exemplares do Macroscincus coctei: três do Ilhéo Branco, remetidos em 1784 ao Gabinete da Ajuda pelo naturalista Feijó; quatro desta mesma localidade que o dr. Hopffer nos ofereceu em 1873; dois do ilhéu Raso também oferecidos pelo dr. Hopffer em 1874; enfim três magníficos exemplares vivos, igualmente do Ilhéu Raso, que acaba de nos enviar de Cabo Verde o nosso célebre explorador Serpa Pinto, actualmente governador daquela província ultramarina.
Nova descrição, dada como citação do trabalho publ. no J. Zool., adiante transcrito quase na íntegra:

«Dimensions d'un individu en alcool:
Du bout du museau à l'extrémité de la queue 570 mm
Longueur de la tête 94 "
Largeur de la tête 73 "
Longueur de la queue 250 "
" du memb. ant 98 "
" du memb. post 116 "»

Falta o comprimento corporal, aquele que permite saber qual de facto o comprimento total; falta a indicação sobre se a cauda está ou não mutilada, sem o que não sabemos quais as suas dimensões reais; o comprimento da cabeça é estranho; falta identificar o espécime. Os bichos recebidos já não tinham as dimensões dos tipos. Em 1873 Bocage escrevera: Dimensions du plus grand de nos individus vivants: longueur totale, 57 centimètres; tête, 6,5 cent.; tronc, 25,5 cent.; queue, 25 cent. Largeur de la tête, derrière l'angle de la mâchoire, 7 cent; largeur du tronc à sa moitié postérieure, 9,7 cent.; membres postérieurs, 11,5 cent.

Estamos em 1896, e Bocage afirma: Para melhor elucidação da nossa estampa julgamos conveniente transcrever para aqui, resumindo-a, a descripção que em 1873 publicámos d'esta especie. Nem é um resumo nem uma citação.

1897. Bocage: Archipelago de Cabo-Verde: Ilheo Raso, tres exemplares enviados em 1784 para o Gabinete da Ajuda pelo naturalista J. da Silva Feijó. O Branco foi riscado do mapa.

1902. Pela infinitésima vez, Bocage conta como Feijó apanhou os bichos no Branco, etc., e remeteu para Lisboa 4 expls, dos quais um foi levado por Geoffroy para Paris, etc., informando que Newton enviara exemplares do Raso. Newton enviou bastantes exemplares do Raso. Balanço de 1902: 9 espécies de Cabo Verde. Hoje há vinte e seis e tal, impossível dar o número com rigor científico, os autores não concordam nesse e noutros pontos. Digamos que aproximadamente 26,89 taxa. Desses 9, diz Bocage que os que pertencem em exclusivo a Cabo Verde são Hemidactylus Bouvieri, "Tarantola" Delalandii, "Tarantola" gigas, que são aranhas, e acabou. Quem escreveu isto foi Teresa Roma, ele estava já cego, esqueci-me. Peço desculpa. Só interessa o que Bocage considera exótico: Mabuya stangeri, africana, e Hemidactylus brooki, da Austrália, Bornéu, África ocidental, incluindo Fernando Pó. Informação relativa aos haveres do Museu Britânico, o que já nada tem a ver com Teresa Roma, é obsessão séria mas já não tem cura.

1905. Sem quaisquer comentários, Boulenger refere Macroscincus coctaei D. & B. para o ilhéu Raso, sem indicar quantos exemplares coligira Leonardo Fea.

1934. Para Mertens, M. coctei é uma relíquia, mas não diz de quê (Greer, 1976). Bertin também.

1949. Hoffstetter publica um trabalho em que fala de subfósseis, animais havia pouco extintos no Lago dos Sonhos (Mare-aux-Songes), na ilha Maurícia (osgas, scincos, anuros, uma piton, uma cobra-cega, roedores, insectívoros, quirópteros), no qual estuda Didosaurus mauritianus Günther, 1877, espécie estreitamente aparentada com o Macroscincus coctei. As principais diferenças dizem respeito à estrutura dentária. Uma delas é que Didosaurus tem dentes pterigóides. Censura Günther por ter caracterizado de forma vaga a posição taxonómica do extinto sáurio: não é uma iguana, um varano, nem um lagarto. Talvez pertencesse à família Zonuridae, Gerrhosauridae ou Scincidae. Entre os scincos, talvez fosse um Cyclodus=Tiliqua. Hoffstetter invoca a opinião de Gadow, segundo a qual o extinto lagarto é Cyclodus (=Tiliqua), de Nopesa, segundo a qual é um scinco, de Camp, que mantém o scinco mas tira o Cyclodus, e de Kuhn, que sem discussão o considera um scinco. Resumindo: o subfóssil não é uma iguana, para Hoffstetter é definitivamente um scinco. Mas não uma Tiliqua: "Didosaurus se rapproche beaucoup de Macroscincus Coctei Duméril et Bibron, dont les derniers survivants habitent l'Ilheo Branco, une des îles du Cap-Vert". Facto notável: neste longo ensaio, nem na bibliografia se refere o nome de Bocage.

Os tipos de Günther são um fragmento de mandíbula, dois bocados de úmero e um fémur. Gadow aumentou com outras peças, mas por engano incluiu um atlas de mamífero na gravura. Hoffstetter consegue ter fragmentos em tal quantidade que só frontais (ímpares) são 58, o que parece significar que no Mare-aux-Songes foram recolhidos no mínimo restos de 58 indivíduos. Alguns com mandíbula de 76 mm, tal como refere Gadow. O maior Macroscincus conhecido de Hoffsteter tinha 61. Trachydosaurus (=Tiliqua) e Tiliqua não vão além de 60 e são os maiores Scincidae actuais.

Hofsttetter compara o fóssil com Macroscincus cotei D. & B. (Cabo Verde), Tiliqua scincoides (White) e Trachydosaurus rugosus Gray, da Austrália, garantindo que são as únicas formas cuja relação com Didosaurus é legítimo encarar com seriedade. Entre inúmeros caracteres osteológicos, vem a inevitável similaridade dos dentes do Macroscincus com os de Iguana.

1976. Greer publica um ensaio com muita filogenia em que considera os lagartos altamente derivados de uma de duas Mabuya caboverdianas. Explica que a dentição se modificou profundamente na direcção do herbivorismo por a digestão da carne não ser tão difícil como a da erva. Diz que as Mabuya caboverdianas são muito parecidas entre si e que só Mabuya irregularis Lonnberg, 1922, do Quénia e Uganda, tem em comum com elas uma particularidade osteológica. Nada impede que M. irregularis tenha sido levada para C.V. E porque se chamará ela irregularis? O mais estranho de tudo isto é só ter sido descoberta em 1922. Para Greer, o M. coctei é uma Mabuya que se agigantou em C.V. Hoffstetter, se garante parentesco estreito entre Didosaurus e Macroscincus, vai na direcção contrária.

Os animais foram diminuindo as dimensões até pelo menos 27 cm de c. total (Cardoso Júnior, 1902). Cei fez há pouco um estudo dos 25 exemplares do Museu de Turim (das antigas colecções de Peracca), garantindo que a minha análise é correcta. Portanto a hipótese de Greer, quanto ao gigantismo, fica sem base de apoio.

1982. Schleich escreve: "Macroscincus coctei deve ser considerado espécie extinta". Mas não encontrou nem um ossinho dele e mais procurou em todos os buracos. Se for à ilha Maurícia, no Lago dos Sonhos é capaz de encontrar mais uns atlas de mamífero dos fósseis de M. coctei.

1996. Diria eu: os monstrinhos devem ser considerados uma raça exterminada. Ou então evaporada. A maior afinidade entre o Phenomenous entroncamentii não é com o M. cocktail, ainda menos com a Mabuya irregularis, sim com a Hyalonema lusitanica Gray e com o sardão preto da ilha de Hierro, Gallotia simonyi Gray-Gray.

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