| Naquela tarde de estio O Senhor que guarda viu Passando no corredor Da oficina A viandante do rio Afilando o cabelo em trança Rosto de índia ou cigana Egípcia ou indiana Andar ritmado de dança Blusa branca de bordado Saia longa do Líbano Sandálias de peregrina O Senhor que guarda pensou Desta vez não vou sofrer Dor do fauno pela ninfa fugidia A viandante não irá partir Vou ser discreto e seguro Vejo apenas o bailar do seu corpo Pressinto e vivo o momento De a amar com a funda fibra Magia exacta do amor No dia já inesperado Arpejando a sigo e vejo Até à aurora dos dias Os espantos do arco-íris Sou o Senhor que a guarda A guardará para sempre No coração da vida E nos arpejos eternos | |
| | Ao Senhor que guarda Confio meus passos No ritmo rouco e limpo Dos homens e dos dias Não sei como arpejar Na hora da partida Apenas caminho firme Com o Senhor que guarda |
Histórias de terror e mágoa Nos serões de avós de outrora Ecoam nas encruzilhadas Crianças mudas ressequidas Sorvem medos e espantos Tremem ao som do monstro Sem trigo loiro nem grito | | |
| Nas bailes da noite de estio O Senhor que guarda Dá concertos de harpa Lisa harmónica bocal A música e os improvisos Perfume céltico de infância Concerta a alma | |
| | Sereia medita no painel Sacode a cabeleira de luz Desenha braços em triângulo Olha atenta e nua Os sulcos da memória |
É a vida que vibra De corpo em corpo Nas asas glaucas do tempo E ressurgirá sempre No mistério sem nome do canto Na luz de espantos e esperas No silêncio e fulgor das estrelas | | |