ARPEJOS DE UMA VIANDANTE / O SENHOR QUE GUARDA (5)
HELENA LANGROUVA (PINTURA E TEXTOS)
11-07-2003 triplov.com

samo

Atroam trovoadas e relâmpagos
As entranhas secas da terra
Ecoam montanhas azuis e roxas

Casas frescas de granito
Nas tardes rubras do estio

O céu abre a chuva lisa
Exorciza mágoa e medo
Desnuda o sol em deserto

Decanta água parda luzidia
Nas ruas rentes de terra
Foi breve e leve
A onda de ser
O sopro da palavra
O cantar arfado
Nas ruas lisas
O eco nos jardins
De secreto amor

O fundo mais fundo
Que em nós é água
Atravessa de luz
A gruta sinuosa
E os abismos da alma
Conversação doméstica afeiçoa
Palavras de vaga música
Inesperado concerto
Sabor de ler poemas
De Juan Ramon Jiménez
Profundo arfar dos momentos

Pode um desejo imenso
Lento lívido e ardente

Compor um verso com a fibra da vida
Esperar o inesperado
Escrever como quem sulca a
.....................................montanha
Magia da palavra exacta

Aceitar a dor de nascer e morrer
Assumir a exactidão do amor
Superar a dor da partida
Sem estigmas de ausência

Onde está o auto-retrato
Pintado em meia hora

A memória o encurta
Na alma da viandante

Testa alta com madeixas
Sinuosas rias nos olhos
Cor de terra transparente
Nariz afilado leve arco
Boca rósea de adolescente
Expressão meiga de veludo
Barba hirsuta escura e lisa
Como a de Ulisses
Na praia de Nausicaa
Arfado rosto de amor
Mistério e mágoa de ser