ARPEJOS DE UMA VIANDANTE / = SENHOR QUE GUARDA (4)
HELENA LANGROUVA (PINTURA E TEXTOS)
11-07-2003 triplov.com

neig

Senhor que guarda
Passos ritmados
Na côncava nau
Do silêncio exacto

Fundo de água vibra ecos
Voz meiga de veludo
Harpa rocha céltica

Aldeia à beira do rio
Senhor que guarda
A alma do amigo
Cavalga ao vento
A brisa marinha
Do estio

Magia da mão arpejante
No barro solto dos dias
Corpo de sereia ardente
Âncora cheia de mágoa
no mundo de Glauco
a chorar
a metamorfose sua
e de Cila sua amada

Recolhe o sereno pastor
A noite das montanhas frias
O guardador de rebanhos
Demanda ovelhas errantes

No presépio da serra intacta
No silêncio de castelos à vista
Confluem pastores e ovelhas
Magia da mão exacta
Do Senhor que guarda
Modula a vida e o sonho

Cisnes em leque vidrado
Cabras em barro vermelho
Bisontes das encruzilhadas
De Mercúrio ausente
Elefantes azul turquesa
Ovelhas com anéis inocentes
Como o manto do pastor

A vós, nascidos das mãos ondulantes
Do Senhor que guarda

Prometo
Que Ele estará sempre
No instante
Com sabor de eternidade
Nas rias das nossas vidas
Por Ele atravessadas
A sua vida é a nossa vida

Jóias brilhantes vidradas
Colares ocre de outono
Taças do peregrino ausente
Caixas de perfume da terra
Moldadas no barro vermelho
Na cor do vidro esmaltado
Ânforas antigas leves
Sulcam o rio da montanha

Do outro lado da montanha
O sino toca a ausência
As badaladas de Espanha
Acordam o índio luso
Abrem sulcos no tempo

Na madrugada de outono
O tio da manta queimada
Cavalga a prumo na aldeia
Para além de passos e ecos
A cúpula do céu estrelado
Luz de alga verde esmaltada