ARPEJOS DE UMA VIANDANTE / O SENHOR QUE GUARDA (3)
HELENA LANGROUVA (PINTURA E TEXTOS)
11-07-2003 triplov.com

magia

Magia dos cantares
Do altiplano andino
Roda digna
De soberano olhar
Envolve dias e vida
De quem aceita parar
Na brisa do tempo
Dara aconchegado no manto verde
Nas costas de sua mãe
Não vê que a seu lado
Dança em roda a solo
Envolto em vestes ruivas
Chapéu negro de corvo
Um homem de rosto macerado
Que olha o lodo do rio
E ambos não vêem a ave curva
Com o bico verde e agudo
Que a seu lado vai caindo
Fulminada
pela calma rubra do estio
E o relâmpago cintilante da fome
Ode ao Pássaro Madrugador

Dança de poncho vermelho
Sombrio olhar envolto
No chapéu negro
De nuvem e cinza
Pássaro ondulando
Ritmos de fogo-lua
Subida que equilibra
Flauta terra sena
Oblíqua e firme
Entre o pássaro erguido
E o índio em sonho

Amálgama cor de laranja
Envolve de lume e brilho
O coração da casa vazia
A porta aberta esvoaça
Dara jaz hirto e sereno
Hesita entre o fragor do lume
Do interior da casa vaga
E o escuro da espera
De um cais sem partida

Músicos esfinges azuis
Mantos cor de montanha
Afinam rondadores
Guitarras e charangos
Preparam sanjuanitos de luz e malva
Vozes acutilantes e ritmadas
Cantam a quebra do tempo
A alegria de ser índio e inteiro

Dizer como ninguém
A palavra de Herberto Helder
Deixar correr o rio
Voz ritmada
Pelo canto da terra
O frio da cascata
E as ondas do estio
Voz sonora acutilante
Penetra abismos
De luz cava e divina