ARPEJOS DE UMA VIANDANTE - LIMIAR BREVE (1)
HELENA LANGROUVA (PINTURA E TEXTOS)
11-07-2003 triplov.com

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À memória de meu Pai
A Jean Marchal
A Luís de Sousa Rebelo
A Ivone Silva Santos, Isaura Neto e Joana Silva
A todos os Amigos e Companheiros de Caminho
Para a Alida
AOS LEITORES


O presente livro agrupa três pequenos livros – Limiar Breve (33 poemas), O Senhor que Guarda (37 poemas), Artes Peregrinas (30 poemas), filtrados pelo tempo. Alguns poemas do segundo livro foram inspirados em quadros sem título (excepto “Pássaro Madrugador”), pintados por Eduardo Langrouva. O terceiro livro reúne em palavra artes do canto, pintura e dança; alguns poemas entrecruzam-se com quadros pintados pela autora e reunidos nas suas exposições, com o título “Espaços, Imagens e Enigmas”; um dos quadros foi escolhido para a capa. A autora assume, neste livro, a escrita como arpejo tocado no instrumento desta passagem da caducidade para a eternidade. Assume a sua palavra como procura, encontro, espera; as artes como via para aceitar, assumir, superar e festejar a vida. Helena Langrouva

Vem dos abismos perdidos
O sono das crianças
Mortas
Ritmo crescente
Do sono
Das conchas
Ouvindo a lua
Per amica silentio luna
Qual Arjuna adormecido
Percorrendo as ruas
Da terra e dos homens
no devir do ar
Se os meus versos percorressem
Costas desoladas
Areias quentes
Vales e mares
Se o meu canto crescesse
Pelos abismos do céu
Entranhas da terra
Correndo caminhos
Inesperados eclipses
Anónimas luas

Se meu pranto as mágoas calasse
Como bálsamo de infância

Partirias do porto
Onde ancoraste
Dores nunca adormecidas
IN MEMORIAM DE SAFO

De Lêucade partiram teus sonhos
Qual sereno olhar
De eros e erros

Nem jades
Nem tempestades cíticas
Desérticas ou lídicas
Cobriram teu corpo
Nos lagos iluminados

Só o mar das ilhas puras
Bebeu teu rosto brando
As estrelas de fogo
Que o teu peito apertou
Velaram a serenidade
Que raiva
Que riso
Na onda da praia
Rebenta
Em grito

Em uivo
Ao luar
Que raiva
Que riso
Rebenta
Um cento
Conto
No assento da ponte
Onde
Apodrecem
Fantasmas
Do norte
Do sul
Do leste
Do poente

Um cento
Conto
Nas ruas
Onde lusos
Apodrecem
No deserto
agudo
e liso
do profundo
Embaraçados
Laços
Sentimentos
Afectos
Pensamentos

Medusas
Sem gesto
Jazem hirtas
Na selva
Do momento