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Helena Langrouva
JOSÉ AFONSO

JOSÉ AFONSO E A POESIA POPULAR PORTUGUESA CANTADA BREVE SÍNTESE TEMÁTICA
De 1964 a 1977

Introdução
O canto popular aprendido com o povo
Cantos de trabalho
Os cantos de festa
A poesia cantada de José Afonso
A mulher do povo
As heroínas populares
A VIDA QUOTIDIANA
A emigração
As conversas no campo
A vida quotidiana na cidade
Elegia e tomada de consciência de Portugal nos anos 60
A morte, a violência e a injustiça
A agonia, as trevas, a indiferença
A nostalgia, a ignorância de si próprio e a anquilose
A procura de libertação
A procura de intrepidez, de verdade, de não-violência
Os símbolos de purificação: a madrugada, a água, a brisa, o vento e o fogo: “Canto Moço”
O lugar santo (“locus sanctus”) da luz e da paz: “Tecto do mendigo”
E todo o resto que é imenso
BIBLIOGRAFIA - DISCOGRAFIA

A vida quotidiana na cidade

Como José Afonso, até 1977, escreveu poucos poemas sobre a cidade, escolheu o poema “Cidade” de Ary dos Santos, sobre a asfixia da vida na cidade e que é também uma alegoria de Portugal dos anos 60-70.

José Afonso canta sobretudo a mulher na cidade, nos bairros populares de Lisboa e de Lourenço Marques.

Em “As noivas de bilros” ( texto não musicado, Textos e Canções, pp. 158-159) apresenta com muito humor todo o trabalho artesanal de preparação para a festa de casamento, na manhã de Santo António, na Sé de Lisboa, para onde as noivas irão de burro.

“Vai, Maria, vai” (Contos Velhos Rumos Novos) mostra o reverso da escravatura em Moçambique, pois há uma criada que recusa fazer todo o trabalho para um patroa que não quer fazer nenhum trabalho, tentando em vão obrigar a criada a fazer tudo.

O tema da prostituição é desenvolvido, conciliando algo da estética neo-realista com a própria estética da palavra e da música de José Afonso, no poema “Avenida de Angola” (Traz outro amigo também) e num passo de “No Lago do Breu”. José Afonso mostra as contradições desta forma de vida, sem a julgar nem a desprezar.

Em “Avenida de Angola”, a impersonalidade das “meninas feitas da mesma maneira” contrasta com a escolha de nomes –“Ana, Serafina e Mariana mais pura”. O drama da possível perdição espiritual das prostitutas – “meninas perdidas” – opõe à possível inocência que lembra o tratamento que Fellini deu à protagonista de “Noites de Cabíria”. José Afonso metaforiza as prostitutas em “pombas” e “columbinas”, pela sua deambulação e por uma certa pureza de intenções que nelas possa existir.