HELDER PROENÇA

Foto: António Aly Silva

POEMAS - INDEX

Canto a Sundiata (1)

Esta é a noite
do perfume
sorriso
brotando
E digo-te
canta flor
mas fita sério!
Este luar-guitarra
é longo e suave
e jovem e sorridente
solfeja e dedilha
refina ancas
emacia o beijo e a ternura
E também
amo
neste tom guitarra
do luar, Sundiata
E digo-te
canta flor
mas fita bem!
Neste luar prata
se atiçam sensibilidades
esqueço-me
e afirmo-me
Como fumos sorridentes
e prateados
em longas andanças
E digo-te
canta flor
mas fita bem!
Esta é a noite
do perfume sorriso
brotando

Os olhos de ver
morrem na doçura prateada do horizonte
E namoro a cruel dureza das rochas
Caso-me com o cristal mais negro
e triste do debaixo da 1ª terra

E também
sonho
neste tom guitarra do luar, Sundiata

Neste luar prata
perfilo-me entre os lábios
mais usados
Hasteio como estandarte
o sexo de todos os Deuses,
enfim, e da virgem santíssima, também!

E digo-te
canta flor
mas fita sério
Também
agonizo neste tom guitarra do luar, Sundiata
E digo, Amem!
E digo-te — Sundiata:
«abô i fidjo di miséria
ca bu tchora bu sufrimentu»
Porque há sono de dormir
ainda
no solfejo cristalino
de cada nuance pequeno-burguês
se assim é...
em cada coisa, em tudo ou
em cada coisa?!
e digo, que assim seja, Sundiata!

Desenhando

este silêncio interno
esta música permanente
este retrato multifacético do luar e da agonia

Digo-te
não posso adiar a palavra, Sundiata
se pequei contra ti
e porque no
Amem
e Aleluia subescrevendo
Agora?!
E digo-te, Sundiata
canta flor
mas fita bem
Porque
esta é a noite
do perfume
sorriso
brotando.

(1) Sundiata Keita (ou Sundjata Keita, ou ainda Soundiata Keita) era o Imperador do Mali, nascido em 1190 em Niani (Reino Mandinga, atual Guiné) e faleceu em 1255. Filho de Naré Maghann Konaté (também conhecido Maghan Kon Fatta ou Maghan Keita) e Sogolon Djata (a mulher búfalo). O épico de Sundjata é contado pelos griots, através da tradição oral. A lenda conta a história de Sundiata um pouco diferente do que realmente aconteceu, era mágica, magia e várias outras coisas. A história verdadeira foi realmente apenas uma guerra que ele venceu e virou rei.
 

Escritor da Guiné–Bissau, envolveu–se, nos anos 70, no movimento independentista do seu país, abandonando os estudos liceais e partindo para a guerrilha em 1973. Após o 25 de Abril, regressou a Bissau, prosseguindo os seus estudos.

Hélder Proença começou por se dedicar à literatura era ainda adolescente, escrevendo poemas anticolonialistas, de afirmação da identidade nacional, que acompanharam a sua actividade política. Os textos desta fase foram reunidos no volume Não Posso Adiar a Palavra, editado apenas em 1982. Este carácter panfletário foi-se atenuando progressivamente, embora o autor nunca tenha descurado uma vertente de intervenção política e social. Considerado uma das grandes figuras da nova literatura guineense, escrevendo tanto em português como em crioulo, foi o co-organizador e prefaciador da primeira antologia poética do seu país Mantenhas Para Quem Luta! (1977). Alguma da sua produção continua inédita.

Fonte:http://web.educom.pt/p-ccomum/2/biblioteca/biografias/guine.htm

http://www.didinho.org/HELDERPROENCAOUOPOETALIBERTADOR.htm

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