HOMO SAPIENS

Na composição do corpo humano e, em particular, na do seu cérebro - expressão maior da complexidade de organização da matéria - entram os mesmos elementos químicos (emespecial, oxigénio, hidrogénio, carbono, azoto, enxofre e fósforo) constituintes de substâncias tão inertes como os minerais, as rochas, a água e o ar, igualmente essenciais na constituição das plantas e dos outros animais.

O nosso cérebro é a mesma matéria, num estado de combinação tal que adquiriu possibilidade de pensar, isto é, de se interrogar e de se explicar na globalidade da sua presença à escala do Universo. Em consequência, o Homem assume-se com capacidade de intervir de motu próprio no seu curso, como ser individual, e nos da sociedade e do mundo que o rodeiam e de que faz parte como simples elo, provavelmente não o último, na vastíssima cadeia da biodiversidade.

Este quase nada de matéria, na imensidade do tempo e na vastidão do espaço cósmico é, hoje, contudo e apesar de tudo, um gigante da ciência e da tecnologia que desenvolveu, domínios esses que são, através dele, expoentes máximos dessa mesma matéria a tomar consciência de si própria e a tentar libertar-se das leis que sempre a regeram. Capaz de observar, relacionar, e prever, o Homem está hoje a interferir nos caminhos da Natureza onde foi fabricado.

Após mais de uma dezena de milhar de milhões de anos, a história do Universo que procuramos conhecer, passou pela nucleossíntese dos elementos químicos, primeiro na fornalha do “big-bang” e depois no coração de sucessivas gerações de estrelas. Seguiu-se-lhe a evolução molecular a nível dos corpos planetários e dos espaços interstelares e, só mais tarde, no caso da nossa própria história, após uma longa evolução química abiótica, surgiu, há pouco menos de 4 000 milhões de anos, da primeira célula seguida da subsequente cadeia viva que antecedeu a entrada em cena deste auto-denominado Homo sapiens.

Lisboa, 9 de Janeiro de 2003
A. M. Galopim de Carvalho