GEOMONUMENTOS
DE LISBOA








EXTRACTOS DE:
JAZIDA DE BRIOZOÁRIOS DO MIOCÉNICO INFERIOR DE LISBOA
Pólo Sampaio Bruno
Por A.M. Galopim de Carvalho
Edição do Museu Nacional de História Natural
Patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa - 2000

CONCLUSÃO

As espécies de briozoários marinhos do Aquitaniano da Rua Sampaio Bruno são:

Classe GIMNOLAEMATA (Alman, 1856)
Ordem CHEILOSTAMATA (Busk, 1852)
Subordem ANASCA (Levinsen, 1909)
Divisão Malacostega (Levinsen, 1909)
Família Membraniporidae (Busk, 1854)
- Membranipora tuberculata (Bosc, 1801)
- Bíflustra savartii (Savigny-Audouin, 1826)
- Conopeum reticulum (Lineu, 1767)


Divisão Coilostega (Levinsen, 1909)
Família Onychocellidae (Jullien, 1881)
- Onychocella angulosa (Reuss, 1847)

Família Microporidae
- Rosseliana brevipora (Canu e Lecointre, 1927)

Família Calpensidae (Canu e Bassler, 1923)
- Calpensía calpensis (Busk, 1854)

Família Thalamoporellidae (Levinsen, 1902)
-Thalamoporella neogenica (Buge, 1950)
-Thalamoporella elongata (Canu, 1916)


Divisão Cellularina (Smith, 1867)
Família Farciminaridae (Busk, 1884)

- Nellía oculata (Busk, 1852)

Subordem ASCOPHORA
Família Schizoporellidae (Jullien, 1883)
- Buffonelodes incisa (Reuss, 1873)
- Schizoporella unicornis (Johnston, 1847)
- Chizomavella auriculata (Hassal, 1842)

Família Microporellidae (Hinks, 1880)
- Microporella ciliata (Pallas, 1876)

Família Umbonulidae (Canu, 1904)
- Hippopleurifera sedgwicki (Milne-Eduards, 1836)

Família Smittinidae (Levinsen, 1909)
- Smittina lobata (Busk, 1859)

Família Escharellidae (Levinsen,1909)
- Escharella ventricosa (Hassal , 1842)

Família Tubucellaridae, (Busk, 1884)
- Tubucellaria bipartita (Reuss, 1869)

Família Sertellidae (Julien, 1983)
- Sertella aff. beaniana (King, 1846)

Família Celleporidae, (Busk, 1852)
- Cellepora sp.
- Haloporella palmata (Michelin, 1847)
- Schismopora perforata (Canu e Lecointre, 1930)


Em conclusão, verifica-se que a fauna de briozoários fósseis da jazida da Rua Sampaio Bruno "Calcários com Venus ribeiroi dos Prazeres", compreende vinte espécies, das quais e no que se refere a Portugal, onze são conhecidas no Burdigaliano-Helveciano e três no Pliocénico, havendo duas (B. savartii e Cellopora sp.) que são comuns a todos os períodos. As nove espécies exclusivas desta jazida são:

- Rosseliana brevipora
- Thalamoporella neogenica
- Thalamoporella elongata
- Smittina lobata
- Escharella ventricosa
- Tubucelaria bipartita
- Sertella aff. beaniana
- Holloporella palmata
- Schismopora perforata

Entre estas, apenas T. bipartita e T. elongata, características do Aquitaniano do sudoeste da França, parecem possuir valor estratigráfico, consideradas isoladamente.

R. brevipora e S. perforata correspondem a espécies do Miocénico francês. T. neogenica, S. lobata e H. palmata são comuns ao Miocénico e Pliocénico europeus. Finalmente, E. ventricosa e S. aff. beaniana vivem ainda na costa portuguesa. H. palmata que em Portugal é conhecida apenas no Aquitaniano superior, é aqui a espécie mais abundante. As respectivas colónias foram utilizadas como suporte por outros zoários incrustantes, em ocupações sucessivas da mesma ou de diferentes espécies. H. palmata constitui o essencial do calcário do jazigo estudado, cujo carácter recifal, posto em evidência anteriormente,
parece confirmar-se.

O conjunto da fauna indica águas temperadas, pouco profundas, podendo ter suportado, ocasionalmente, a presença de correntes frias. Por outro lado, este mesmo conjunto parece confirmar a idade deAquitaniano superior atribuída por G. Zbyszewski a esta formação, a que chamou "Calcários com Venus ribeiroi dos Prazeres".

Nesta altura, num intervalo de tempo da era Cenozóica, de há 23 a 21 milhões de anos, grande parte de Lisboa e, em particular, a zona de Campo de Ourique - Prazeres começou a ser invadida por águas marinhas pouco profundas, marcando um litoral. A área onde hoje se situa a cidade era plana, ribeirinha pantanosa com zonas alagadiças favoráveis à deposição de argilas e facilmente invadida por braços de mar que aqui deixaram, sob a forma de fósseis, os testemunhos da vida que neles habitava. Nestas águas, mais límpidas do que as que temos hoje, proliferaram colónias de briozoários, invertebrados recifais à semelhança dos corais.