GEOMONUMENTOS
DE LISBOA









EXTRACTOS DE:

JAZIDA DE BRIOZOÁRIOS DO MIOCÉNICO INFERIOR DE LISBOA
Pólo Sampaio Bruno
Por A.M. Galopim de Carvalho
Edição do Museu Nacional de História Natural
Patrocínio da Câmara Municipal de Lisboa - 2000
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III - OS BRIOZOÁRIOS DO MIOCÉNICO INFERIOR DA RUA SAMPAIO BRUNO
a) Introdução


As espécies de Briozoários marinhos representadas pelos fósseis estudados na jazida do Miocénico inferior de Campo de Ourique pertencem à classe GYMNOLAEMATA (Alman, 1856) (1) constituída por espécies essencialmente marinhas, de configuração predominantemente tabular, de esqueleto calcário. Nesta classe o polipídeo caracteriza-se pelo lofóforo circular. Reúne duas ordens, CTENESTOMATA e CHEILOSTAMATA, sendo a segunda, definida por Busk, em 1852, a que reúne a fauna representada nos fósseis da Jazida da Rua Sampaio Bruno.

Os CHEILOSTAMATA reúnem os indivíduos de organização mais complexa. As zoécias normais são formadas por uma câmara calcária, são curtas e contêm um opérculo quitinoso que Ihes fecha a abertura sempre que o polipídeo se recolhe. Existem nas colónias desta ordem vários tipos de heterozoécias, diferenciadas conforme a função que desempenham: ovicelos, aviculários, vibraculários, etc. Um sistema hidrostático permite a entrada de água no saco ou compensatriz, sempre que o polipídeo sai da zoécia, compensando assim a depressão que se produz no seu interior. Este saco comunica com o exterior através de um orifício próprio, o ascóporo, ou utiliza uma diferenciação da abertura e do opérculo (rímula, lírula, mucro). As paredes laterais das zoécias justapostas apresentam orifícios comuns ou séptulas que permitem a passagem de fibras mesenquimatosas. O ovicelo é uma parte da zoécia modificada em câmara, onde se processa a maturação dos ovos. Os aviculários são constituídos por pequenas câmaras com fibras musculares que movimentam uma mandíbula móvel. Os vibraculários são formados por uma pequena câmara ou vibracelário munida de uma longa seda (vibraculário ou flagelo), a que se atribui função de equilíbrio, pelo menos, nas colónias livres. Os radicelos desenvolvem-se na base do zoário e servem para o fixar às rochas ou outros suportes no fundo do mar.

Os CHEILOSTOMATA dividem-se em quatro subordens, tendo como critério a estrutura da frontal e a presença ou ausência de um verdadeiro sistema hidrostático. Destas quatro subordens, duas estão representadas noAquitaniano de Lisboa, ANASCA e ASCOPHORA ambas definidas em 1909 por Levinsen.

Os ANASCA não possuem um verdadeiro sistema hidrostático zoecial, cuja função é desempenhada por um outro aparelho mais rudimentar. O mesmo autor distinguiu nesta subordem três conjuntos, a que chamou divisões e que têm, por assim dizer, o significado de superfamílias. São elas: Malacostega, Coilostega e Pseudostega, das quais, as duas primeiras, têm representação na jazida em causa. Uma quarta divisão, Cellularina, estabelecida por Smith, em 1867, está aqui igualmente representada. Nos Malacostega, conhecidos a partir do Jurássico (há uns 200 milhões de anos), os músculos parietais fixam-se ao criptocisto que, nos animais pertencentes a esta divisão, é sempre mais ou menos membranoso.

Das dez famílias atribuídas aos Malacostega apenas uma, Membraniporidae, tem representação conhecida no Aquitaniano de Lisboa. Os indivíduos desta família constroem normalmente colónias (zoários) incrustantes, por vezes erectas e foleares. As zoécias, de natureza calcária, têm normalmente contornos rectangulares, com a frontal quitinosa. Os aviculários são pouco comuns e possuem ovicelos. O gimnocisto e o criptocisto são pouco desenvolvidos e a opésia é, em geral, grande e oval. Esta família reúne 15 géneros, dos quais dois estão presentes nesta jazida.


A família Membraniporidae está aqui representada por duas espécies:

(1) As restantes duas classes são: a dos Phylactolaemata, de água doce e esqueleto não calcário (quitinoso), com representantes conhecidos a partir do Jurássico, e a dos Stenolaemata, cujos indivíduos são cilíndricos, com esqueleto calcário e com fósseis identificados a partir do Ordovícico inferior (480 milhões de anos).