REVISTA TRIPLOV
de Artes, Religiões e Ciências
ISSN 2182-147X
NOVA SÉRIE

 

 

 

 
 

A.M. GALOPIM DE CARVALHO

2015 - ANO INTERNACIONAL DOS SOLOS

Falando dos solos (14)

Os solos de Portugal

O conhecimento sistemático dos solos de Portugal teve início nos anos cinquenta do século XX com os trabalhos inerentes à elaboração da Carta dos Solos de Portugal na escala de 1:50 000 e da Carta de Capacidade e Uso do Solo, na mesma escala. Destes trabalhos resultou, ainda, uma sistemática dos solos nacionais, editada pelo antigo Serviço de Reconhecimento e de Ordenamento Agrário (SROA), actual Centro Nacional de Reconhecimento e Ordenamento Agrário (CNROA). Nesta carta que, na sua concepção e bases de classificação, reflecte a “filosofia” da agricultura nacional  em meados do séc. XX., são propostas como categorias taxonómicas: ordens, subordens, grupos, subgrupos, família e séries.

À semelhança das cartas ou mapas geológicos, os pedólogos elaboram cartas ou mapas dos solos nas quais se desenham, a uma dada escala, e se explicam as unidades pedológicas (unidades-solo) consideradas, para o efeito, pertencentes a um escalão taxonómico compatível com essa escala. Assim, , quanto maior for a escala adoptada, maior será a pormenorização e, portanto, mais baixa será a categoria taxonómica da unidade cartografada. Na Carta dos Solos de Portugal, a unidade–solo adoptada é a família. Em complemento da parte gráfica, há uma parte descrita versando todos os elementos susceptíveis de possibilitar e, até, valorizar a leitura da carta, entre os quais, por exemplo, indicações no sentido da sua melhor utilização para fim agrícolas, planeamento, etc.. 

Todavia, nas notas que aqui deixamos à disposição do leitor, apenas serão referidas os primeiro e segundo escalões hierárquicos, num caso ou noutro o terceiro (grupos), dado que são estes que definem e caracterizam os grandes tipos de solo. 

I – SOLOS INCIPIENTES (ordem) – Solos não evoluídos, praticamente reduzidos à capa de alteração da rocha-mãe, sem horizontes pedológicos bem diferenciados. Inclui quatro subordens.

1.- Litossolos – de muito pequena espessura ( 10cm), esqueléticos, derivados de rochas consolidadas.

2.- Regossolos – de muito maior espessura, derivados de rochas arenosas e areníticas não consolidadas. (Do grego regos, cobertura).

3.- Aluviossolos – instalados sobre aluviões, não embebidos de água (não hidromórficos). Podem separar-se em dois grupos: Modernos e Antigos.

4.- Coluviossolos ou de sopé – instalados na base das vertentes 

II – SOLOS LITÓLICOS – Designação proposta por Botelho da Costa para os solos pouco evoluídos, derivados de rochas não carbonatadas, com duas subordens:

1. -Solos litólicos húmicos – com epipédon úmbrico (do latim, umbra, sombre).

2. -Solos litólicos não húmicos - sem epipédon úmbrico. 

III – SOLOS CALCÁRIOS – Solos pouco evoluídos derivados de rochas carbonatadas, com duas subordens:

1.- Solos calcários pardos – de cores castanho-escuras.

2.- Solos calcários vermelhos – de cores vermelhas e avermelhadas.

IV – BARROS – Solos evoluídos, muito argilosos, com três subordens.

1.- Barros pretos – de cor negra, geralmente muito escuros, como acontece com os barros de Beja, bem conhecidos como campos de trigo.

2.- Barros pardos – escuros, acastanhados.

3.- Barros castanho-avermelhados – de tons variados. 

V – SOLOS MÓLICOS – Solos evoluídos com epipédon mólico (do latim, mollis, fofo, macio).

1.- Castanozemes - próprios de climas secos de regime xérico (do grego xeros, seco). As rendzinas são castanozemes (do latim castanea, castanha, e do russo zemlja, solo.), ricos de carbonato de cálcio. 

VI – SOLOS ARGILUVIADOS – Termo introduzido por J. Carvalho Cardoso na literatura pedológica internacional. Dele foi retirada a designação luvisol adoptada na Carta dos Solos do Mundo (FAO – UNESCO). Correspondem a solos evoluídos comuns nas regiões mediterrâneas, com duas subordens:

1.- Solos mediterrâneos pardos – de cores pardacentas.

2.- Solos mediterrâneos vermelhos ou amarelos – de cores avermelhadas ou amareladas. Alguns destes solos derivam de rochas-mãe calcárias, sendo conhecidos por terra rossa, de que temos bons exemplos em associação com os mármores de Vila Viçosa – Estremoz - Borba. 

VII – SOLOS PODZOLIZADOS – Solos evoluídos, com diferenciação de um horizonte espódico. Inclui duas subordens:

1.- Solos podzolizados não hidromórficos – sem características de embebimento de água (encharcamento).

2.- Solos podzolizados hidromórficos – com características próprias de hidromorfismo. 

VIII – SOLOS HALOMÓRFICOS – Com excesso de sais solúveis.

1.- Solos salinos – em geral, com cloreto de sódio. 

IX – SOLOS HIDROMÓRFICOS – Com encharcamento temporário ou permanente de água, sujeitos a gleização (do russo gley, termo que refere uma massa de solo resultante da redução do ferro pela matéria orgânica.) , com duas subordens:

1.- Sem horizonte eluvial.

2.- Com horizonte eluvial (planossolos). 

X – SOLOS ORGÂNICOS HIDROMÓRFICOS – Solos com epipédon hístico (do grego histós, tecido orgânico), em condições de saturação de água.

1.- Solos turfosos – com horizontes de matéria sáprica (apodrecida). 

Convidado a participar na Carta de Solos do Mundo, na escala 1/5 000 000, Portugal contribuiu com a Carta de Solos de Portugal, na mesma escala. Para tal houve que estabelecer correspondência entre as unidades taxonómicas adoptadas pela FAO e as utilizadas no CNROA, na Carta do Solo de Portugal 1/50 000. Assim, às unidades pedológicas adoptadas pela organização da Unesco (à esquerda) correspondem as respectivas designações taxonómicas do CNROA (à direita). 

Luvissolos - solos argiluviados pouco insaturados. Do latim luere, lavar.

Planossolo - planossolos.

Podzóis - solos podzolizados.

Lixissolos - solos mediterrâneos não calcários, com materiais lateríticos. Do latim lixiviare, lavar.

Alissolos - solos argiluviados muito insaturados. Do latim alumen, alumínio, elemento essencial na composição das argilas.

Histossolos - solos orgânicos hidromórficos.

Fluvissolos - aluviossolos e coluviossolos.

Gleyssolos - solos hidromórficos sem horizonte eluvial.

Leptossolos - litossolos, rankers e rendzinas. Do grego leptós, delgado.

Arenossolos - regossolos psamíticos.

Vertissolos – barros. Do latim vertere, entornar, verter.

Cambissolos - solos calcários.

Calcissolos - solos calcários.

Kastanozems – castanozemes.

A.M. Galopim de Carvalho. É professor catedrático jubilado pela Universidade de Lisboa, tendo assinado no Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências desde 1961. É autor de 21 livros, entre científicos, pedagógicos, de divulgação científica e de ficção e memórias. Assinou mais de 200 trabalhos em revistas científicas. Como cidadão interventor, em defesa da Geologia e do património geológico, publicou mais de 150 artigos de opinião. Foi diretor do Museu Nacional de História Natural, entre 1993 e 2003, tempo em que pôs de pé várias exposições e interveio em mais de 200 palestras, pelo país e no estrangeiro.
Blogue: http://sopasdepedra.blogspot.com/