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MARIA ESTELA GUEDES


«Chão de Papel»

INDEX

A oitava praga

Chegavam num xaile negro
De desgraça
Maior que um fado, morna ou choro
Chegavam pelas carreiras do céu
Como formação cerrada de aviões a jato
O ruído surdo de máquinas
Helicópteros sem sentimentos
Abruptos e mágicos
E aterravam em pesado e derrapante impacto
Sobre as árvores, o capim tenro
E úmido da cacimba.
As gentes aterradas saem das palhotas
A bater testos de lata
E a enxotá-los com farrapos
Inutilmente – Inutilmente – Inutilmente.
O verde da vegetação
Rapado até às últimas instâncias da clorofila
O ocre da terra à vista
Como se tivesse sido escalpado o Chão de Papel
Gaia em sangue, lívida, esvaída
Nem as folhas duras dos mangueiros escapavam
Às máquinas trituradoras do aparelho bucal
Da oitava praga lançada por Moisés sobre o Egito
E regiões várias da África subsariana.

Vinham então as pás e as vassouras
Para os montes de gafanhotos
Erigirem em piras ardentes
Ateadas com creolina.
Não haverá arroz este ano
Nem mancarra nem feijão.

As couves plantadas pela mãe
Nos tambores do velho alambique
Só sobreviveram
Porque as taparam com cobertores
Mal se ouviu no horizonte
O matraquear dos dentes dos esfomeados
Helicópteros.

Os ainda milhões de sobreviventes
Depois levantavam voo e partiam
Em formação cerrada de sombrios caças
Não por terem sido afugentados
Não por terem sido derrotados
Apesar de vencedores
Partiam porque tinham de partir
Porque essa era a sua missão
Partiam com a inevitabilidade e determinação
Genética do fatum. Estava escrito lá em cima,
Tiago. Estava escrito lá em cima,
Jacques, le Fataliste.



 



LISBOA, APENAS LIVROS EDITORA


Chão de Papel
LISBOA, 2009
Autor: Maria Estela Guedes
ISBN: 978-989-618-233-5
Edição: 48 páginas

Estado: disponível
Preço: 3,80 € Poesia

http://apenas-livros.com/pagina/apenas_de_cordel/7?id=337

Maria Estela Guedes (1947, Britiande / Portugal). Diretora do Triplov

Membro da Associação Portuguesa de Escritores, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV.

LIVROS

“Herberto Helder, Poeta Obscuro”. Moraes Editores, Lisboa, 1979;  “SO2” . Guimarães Editores, Lisboa, 1980; “Eco, Pedras Rolantes”, Ler Editora, Lisboa, 1983; “Crime no Museu de Philosophia Natural”, Guimarães Editores, Lisboa, 1984; “Mário de Sá Carneiro”. Editorial Presença, Lisboa, 1985; “O Lagarto do Âmbar”. Rolim Editora, Lisboa, 1987; “Ernesto de Sousa – Itinerário dos Itinerários”. Galeria Almada Negreiros, Lisboa, 1987 (colaboração e co-organização); “À Sombra de Orpheu”. Guimarães Editores e Associação Portuguesa de Escritores, Lisboa, 1990; “Prof. G. F. Sacarrão”. Lisboa. Museu Nacional de História Natural-Museu Bocage, 1993; “Carbonários : Operação Salamandra: Chioglossa lusitanica Bocage, 1864”. Em colaboração com Nuno Marques Peiriço. Palmela, Contraponto Editora, 1998; “Lápis de Carvão”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2005; “A_maar_gato”. Lisboa, Editorial Minerva, 2005; “À la Carbonara”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2007. Em co-autoria com J.-C. Cabanel & Silvio Luis Benítez Lopez; “A Boba”. Apenas Livros Editora, Lisboa, 2007; “Tríptico a solo”. São Paulo, Editora Escrituras, 2007; “A poesia na Óptica da Óptica”. Lisboa, Apenas Livros Lda, 2008; “Chão de papel”. Apenas Livros Editora, Lisboa. 2009; “Géisers”. Bembibre, Ed. Incomunidade, 2009; “Quem, às portas de Tebas? – Três artistas modernos portugueses”. Editora Arte-Livros, São Paulo, 2010.

ALGUNS COLECTIVOS

"Poem'arte - nas margens da poesia". III Bienal de Poesia de Silves, 2008, Câmara Municipal de Silves. Inclui CDRom homónimo, com poemas ditos pelos elementos do grupo Experiment'arte. “O reverso do olhar”, Exposição Internacional de Surrealismo Actual. Coimbra, 2008; “Os dias do amor - Um poema para cada dia do ano”. Parede, Ministério dos Livros Editores, 2009.

TEATRO

Multimedia “O Lagarto do Âmbar, levado à cena em 1987, no ACARTE, Fundação Calouste Gulbenkian, com direcção de Alberto Lopes e interpretação de João Grosso, Ângela Pinto e Maria José Camecelha, e cenografia de Xana; “A Boba”, levado à cena em 2008 no Teatro Experimental de Cascais, com encenação de Carlos Avilez, cenografia de Fernando Alvarez  e interpretação de Maria Vieira. 

E-mail: estela@triplov.com

Curriculum vitae

Curriculo abreviado