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Estela Guedes:

Diário de Lilith

 

 

 

SEGUNDO DIA - O Peso da Régua















No tempo em que os trabalhos agrícolas eram uma festa. Por baixo da foto que mostra uma pisa das uvas animada com música, o edifício pombalino da Real Companhia Velha - Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.

O peso económico devia-se ao vinho do Porto. Desse tempo áureo, na cidade, restam marcas, muitas, e o edifício de 1756 da Real Companhia Velha, fundada na sequência das iniciativas do Marquês de Pombal para animar a agricultura, as pescas, a indústria, o comércio, as ciências e as navegações em Portugal e no território das Conquistas. Vandelli ainda não tinha chegado a Portugal, só partiria de Itália uns quatro anos depois. Decerto se empenhou na questão dos vinhos, como deputado da Junta do Comércio. Terá vindo ao Peso da Régua? A Régua é uma terra recente, data desse tempo a constituição do aglomerado populacional.

O vinho do Porto periga, a Casa do Douro e a agricultura em geral periclitam, face a uma concorrência europeia fundada na quantidade e estandardização dos produtos, por isso no seu menor custo. Não sabe a nada a comida de supermercado. A que produzimos em casa é saborosa mas fica muito cara.

O peso de chumbo na cabeça vai aliviando. Sinto-me bem aqui, num cafezinho à beira-rio, de máquina fotográfica em punho, como qualquer turista. O quiosque para venda de bilhetes nos cruzeiros do Douro permanece fechado. São dez horas. Ah, abriu agora, uma jovem levanta a portada verde e dispõe na bancada os suportes dos postais ilustrados. Vamos lá a ver. Já fiz, há anos, um cruzeiro no Douro, entre o Porto e a Régua. Num dia de bruma, fresco, a ameaçar chuva, as gaivotas a voarem baixo e os turistas, tiritando, abrigados no interior do navio. Um dia como este. O regresso ao Porto faz-se de comboio. É muito bela a viagem, mas só no trecho em que se vê rio, entre a Régua e Marco de Canaveses. Vamos lá a ver, Lilith, vamos lá a ver que cruzeiros são estes agora.

- Um passeio de barco, meia hora para baixo e meia hora para cima - descreve a jovem, seca e objectiva, sem grande vontade de vender bilhetes.

Vamos, meia hora para baixo e meia hora para cima dá um passeio da Régua até à Rede e da Rede até à Régua. Tiramos umas fotografias bem na água. Talvez o navio se aproxime da casa cor-de-rosa da outra margem, uma quinta sem nome à vista, apetecível na frescura que se adivinha nos seus pátios interiores sob latadas. Em geral estas quintas estão identificadas pelo nome que também figura no rótulo das garrafas. São marcas famosas de vinhos, como Sandeman, o embuçado que se ergue no topo do monte a dominar a paisagem.

Regresso ao hotel, aquece muito a rua. Falta uma hora para o barco largar, um rabelo, "Cenários do Douro", conforme informação da menina do quiosque.

 
 
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