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Estela Guedes:

Diário de Lilith

 

 

 

PRIMEIRO DIA - Penafiel

Em Penafiel existe um quartel
Pouca-terra... Pouca-terra... Pouca-terra...
Valongo, eis a terra da Chioglossa valonguensis,
antigamente as casas debruçadas para o comboio eram revestidas
a ardósia, parecem escamas de tartaruga, umas sobre as outras negras,
as negras placas de ardósia.
Pouca-terra, muita-água, algum-fogo, bastante-ar...
Tuf-tuf-brrrrrrrrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Ghuuuuu!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Xrank-xrank-xrank... Taf-taf-tafetá...........................................
Desliza rápido sobre carris de aço,
lá vai o comboio, sempre a apitar,
por montes e vales,
por pontes e túneis,
lá vai o comboio, piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmm!
a roncar e a tilintar!
Salta Pocinho
depois do Pinhão
mas eu fico na Régua
frente ao Maaaarão...................................
E não vou ao Vesúvio
da Agustina Bessa-Luís
mas mesmo sem ele
o ar escalda, e as salamandras morrem cozidas nas águas poluídas
dos tanques de rega.
Em Penafiel estive uma vez parada, suspensa
dos lábios de alguém,
esperando o que não era possível.
Um amigo que me convidou a ir com ele visitar um soldado
ao quartel, e me deixou num café à espera enquanto ele ia ao quartel,
e eu pensando que era a mim que queria ver,
mas não, havia realmente um soldado no quartel de Penafiel,
isto em tempos remotos, quando estas coisas eram escandalosas
e nem se falava nelas,
nem se sabia de nada,
podíamos lá imaginar?
Mesmo quando os meninos da nossa idade, em vez de brincarem com
as meninas, se vestiam de meninas, punham bâton
e lenços de seda na cabeça,
e brincavam às meninas uns com os outros.
Em Penafiel existia um quartel.
No quartel de Penafiel há soldadinhos à espera
de visitas de meninos,
mas não creio que nos cafés de Penafiel
ainda estejam meninas sentadas à espera de meninos
que foram visitar soldadinhos
ao quartel de Penafiel..........................................
 
 
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