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Maria Estela Guedes
Foto de Aline Daka

Poemas para Federico García Lorca

Em louvor dos arquitetos

Mil sóis rosados e vermelhos

Barrocos a montão

Piscam os olhos

Pela noite fora vivos e acordados.

Encandeiam os pobres de visão

Mais do que de espírito,

Oriundos de terras em que os excessos

Se cingem ao altar-mor das igrejas.

«Mais brilhante que mil sóis»

Eis um chavão, um título,

E outro - «As mil luzes de Nova Iorque».

Sim, é certo que a luz fascina

Mas também ensina,

A luz trespassa de lado a lado

A imaginação

E esta luz esculpida pelas casas

De mais andares do que os contáveis

Esta luz arquitetónica

Que se reflete e refrata

Em paredes facetadas

Imita as pedras - «Diamonds are forever» -

Outro título, outro chavão,

Pedras, pedras cortadas por si mesmas

Em laboratórios inexpugnáveis

E vendidas ali nas sofisticadas lojas

Do Diamond District,

Esta luz não imita,

O diamante é carbono puro, original,

Por isso esta luz arquitetónica

De arranhacéus como pedras preciosas

É uma das três luzes mais sagradas

A par da Bíblia, do Compasso e do Esquadro.

Poemas para Federico García Lorca - Index

Britiande, Fevereiro de 2010

Maria Estela Guedes. Membro da Associação Portuguesa de Escritores, da secção portuguesa da Associação Internacional de Críticos Literários, do Centro Interdisciplinar da Universidade de Lisboa e do Instituto São Tomás de Aquino. Directora do TriploV. Alguns livros publicados: Herberto Helder, Poeta Obscuro; Eco/Pedras Rolantes; Crime no Museu de Philosophia Natural; Mário de Sá-Carneiro; A_maar_gato; Ofício das Trevas; À la Carbonara; Tríptico a solo; A Poesia na óptica da Óptica; Chão de Papel; Geisers. Espectáculos levados à cena: O Lagarto do Âmbar (Fundação Calouste Gulbenkian, 1987); A Boba (Teatro Experimental de Cascais, 2008).