Do Jurássico Superior da povoação de Andrés, nos arredores de Pombal, foram igualmente descobertos restos de um Terópode, identificados como pertencendo ao conhecido Allosaurus fragilis Marsh, 1977 da América do Norte. Esta foi a primeira referência à existência desta espécie fora daquele continente, tornando-se mesmo a única espécie de Dinossauro conhecida em dois continentes. Trata-se de um bípede de grande porte que podia atingir cerca de 12 metros de comprimento e pesar cerca de 2 toneladas.

Lourinhanosaurus antunesi

Do ponto de vista paleogeográfico esta descoberta de A. fragilis em Portugal parece demonstrar que no Jurássico Superior, há portanto cerca de 140-150 M.a B.P., ainda existiriam ligações entre a América do Norte e a Europa, o que põe em dúvida que o Atlântico Norte já estivesse nessa altura completamente aberto como geralmente se admitia. A presença de Camptosaurus no Jurássico Superior de Inglaterra e da América do Norte já tinha aliás levado Galton a sugerir a possível existência, durante o Jurássico Superior, de ligação entre os dois continentes (Pérez-Moreno et aI1999).

Globalmente as faunas jurássicas portuguesas e norte-americanas (Formação de Morrison) de Dinossauros parecem ser efectivamente bastante semelhantes.

Segundo Peréz-Moreno et al. (1999) este facto pode estar também relacionado com a importante regressão do Titoniano, que poderia ter dado origem à formação de mares epicontinentais que teriam possibilitado a ocorrência de episódicos intercâmbios faunísticos.

Um outro Terópode (fémur direito e a tíbia esquerda) foi também encontrado, muito recentemente, no Jurássico Superior (Kimeridgiano// unidade da Praia de Amoreira-Porto Novo/ formação das "camadas de Alcobaça") de Rodela do Valmitão (Lourinhã), Ceratosaurus sp. (Mateus & Antunes 2000 ).

Trata-se de um Dinossauro do grupo dos Ceratosauria (grupo que inclui os Terópodes mais primitivos), da famtlia Ceratosauridae, caracterizado pela presença de um pequeno "corno" na extremidade do focinho. No dorso destes Dinossauros era evidente uma fiada de placas ósseas formando uma crista serreada que se estendia até à cauda. Eram, ao que parece, activos predadores, de cerca de 6 metros de comprimento, que caçavam em grupo.

O Ceratosaurus português é aparentemente uma forma próxima de C. nasicornis e C. dentisulcatus.

Em 1998 foi encontrada no Jurássico Superior (Titoniano Inferior/ formação de "Grés Superior" do Casal do Bicho/Caldas da Rainha/ Alcobaça) uma tíbia bastante robusta de um Terópode, identificado como Torvosaurus sp. (Mateus & Antunes 2000). Trata-se de um Tetanurea basal (Fastovsky & Weishampel1996), com cerca de 9 metros de comprimento, contemporâneo dos Terópodes de Cleveland-Lloyd (mas do lado do Colorado) da Formação de Morrison (U.S.A.), próximo de Torvosaurus tanneri. Finalmente, do Jurássico Superior da mina da Guimarota/Leiria, foram mencionados uma série de Dinossauros Terópodes (Martin & Krebs 2000):

. cf. Compsognathus sp. (Tetanurea/Coelurosauria/Coelurosauria incertae sedis);
. Stokesosaurus sp. (Tetanurea/ ? Tyrannosauridae); Tyrannosauridae indeterminado;
. Dromaeosaurinae indeterminado (Tetanurae/Maniraptora);
. Velociraptorinae indeterminado (Tetanurae/Maniraptora);
. ? Troodontidae indeterminado (Tetanurae/Maniraptora);
. cf. Ricardoestesia sp. (Theropoda incertae sedis);
. aff. Paronychodon sp. (Theropoda incertae sedis);
. Cerotosauria indeterminado;
. ? Allosauroidea indeterminado.

Do Oxfordiano/Kimeridgiano desta mesma mina de Guimarota, são ainda referidos dentes atribuidos à conhecida Ave primitiva, próxima dos Dromaeosauridae (para alguns considerada mesmo como um Dinossauro Dromaeosauridae), Archaeopteryx - cf. Archaeopteryx sp. (Weigert 1995; Buffetaut 1997; Martin & Krebs 2000).

A um seu congénere, Dacentrurus lennieri (Nopcsa, 1910), foram atribuidos vestígios do Jurássico Superior de Atalaia (Lourinhã), S. Bemardino (Peniche ), Foz do Arelho, Praia da Areia Branca, Alfazeirão, Maceira e Pombal (Lapparent & Zbyszewski 1957).

Entre os Omitischia, vestígios do Estegossauro Dacentrurus armatus (Owen, 1875) são conhecidos do Jurássico Superior do Baleal (Zbyszewski 1946), Foz do Arelho, Lourinhã e Sesimbra (Lapparent & Zbyszewski 1957).

Segundo Galton (1990, 1991), Dacentrurus lennieri deve ser considerado sinónimo de D. armatus. Os vestígios que lhe foram atribuidos pertencerão a juvenis ou sub-adultos desta última espécie.

Os Estegossauros eram tipicamente um grupo de pesados quadrúpedes herbívoros de 2-9 metros de comprimento, de dorso e cauda ornamentada por estruturas ósseas salientes, dispostas em duplas fiadas, cuja função, mais do que defesa, se deveria relacionar com os seus processos de termorregulação. Efectivamente, eram estruturas relativamente frágeis, com numerosas cavidades, onde se supõe que circulasse grande quantidade de sangue. As suas patas posteriores eram mais longas do que as anteriores o que levava a que assumissem uma postura de cabeça inclinada para baixo. Embora com cabeça e cerébro minúsculos tinham, no entanto, um gânglio espinal sagrado cerca de dez vezes maior que o próprio cérebro.

Outro Omitischia, este do grupo dos Ankylosauria Nodosauridae, foi descrito do Jurássico Superior de Ribamar (Ericeira) - Dracopelta zbyszewskii Galton, 1980. É de assinalar que estes restos, descritos por Galton, conjuntamente com os do Jurássico Médio e Superior de Inglaterra, são os mais antigos vestígios de Anquilossauros conhecidos a nível mundial (Galton 1980).

Os Anquilossauros eram, de modo geral, animais pesados e lentos, caracterizados por terem e corpo, especialmente o dorso, coberto por espessa armadura óssea com espinhos e esporões.

Os Omithopoda são outro grupo de Dinossauros Omitischia com representantes no Jurássico do nosso país. Deste grupo são referidos: um grande Omitópode, Camptosaurus sp., do Jurássico Superior de Torres Vedras e da zona da Lourinhã (Galton 1980b; Carvalho 1989); Alocodon kuehnei Thulbom, 1973 do Jurássico Superior de Pedrógão (Vieira de Leiria) (Thulbom, 1973; Dantas 1990); Trimucrodon cuneatus Thulbom, 1973 e Hypsilophodon sp., ambos do Jurássico Superior da praia do Porto Dinheiro/Lourinhã (Thulbom 1973) e Phyllodon henkeli Thulbom, 1973 do Jurássico Superior (Kimeridgiano) da mina de Guimarota/Leiria (Thulbom 1973; Martin & Krebs 2000).

Embora Thulbom (1973) tivesse inicialmente incluído estes últimos quatro géneros -Alocodon, Trimucrodon, Hypsilophodon e Phyllodon - na família Hypsilophodontidae, acabou contudo, posteriormente, por admitir que os dois primeiros poderiam ser incluídos nos Fabrossauridos, um grupo basal dos Ornitischia (ver Norman 1985).

Acontece contudo que, em trabalhos de revisão posteriores, muitas destas espécies não foram reconhecidas. Assim, Alocodon kuehnei é considerado como um Omitischia nomina dubia, o mesmo se passando com Trimucrodon cuneatus (Weishampel & Witmer 1990; Sereno 1991). Da mesma forma, Phyllodon henkeli, descrita apenas com base em dentes isolados, é classificada por Weishampel (1990) como um Hypsilophodontidae indeterminado e por Sues & Norman (1990) como um Hypsilophodontidae nomina dubia.

Muito recentemente mais dois Omitópodes foram descritos do nosso país.

Do Jurássico Superior do Porto das Barcas (Lourinhã), uma série de vértebras caudais e parte dos ossos dos membros posteriores e da cintura pélvica, foram atribuídos a um Iguanodontia Dryosauridae indeterminado (Pedro Dantas et al. 2000). A confirmar-se esta identificação, trata-se dos vestígios mais antigos deste grupo conhecidos na Europa. Restos atribuídos a este grupo de Dinossauros apenas tinham sido assinalados do Cretácico Inferior de Inglaterra e da Roménia. Vestígios contemporâneos dos agora encontrados na Lourinhã estão apenas assinalados da América do Norte e da Tanzânia. A presença destes Dinossauros no Jurássico Superior português já tinha sido aliás sugerida por M. Lockley et al. (1998), com base em pegadas encontradas em S. Martinho do Porto (a Norte das Caldas da Rainha) e na Praia da Areia Branca. Os autores sugeriram na altura que se poderia tratar de pegadas de um Dryosauridae ou de um Hypsilophodontidae.

O Dryossaurídeo português pode pertencer a um género diferente dos já conhecidos Dryosaurus (Jurássico Superior da América do Norte e Tanzânia) e Valdosaurus (Cretácico Inferior da Europa). Este novo Iguanodontia (grande grupo de Ornitópodes que inclui além dos dois géneros atrás referidos, os também muito conhecidos Iguanodon e Camptosaurus), media cerca de 1.6 metros, não se sabendo por enquanto se se trata de um jovem ou de um adulto. Alguns autores consideram Dryosaurus como um Hypsilophondontidae primitivo (Norman 1985; Palmer 1999).

Outro Omitópode Iguanodontia foi agora descrito do Jurássico Superior (Titoniano/Unidade do Bombarral) de Vale Frades (Lourinhã), Draconyx loureiroi Mateus & Antunes, 2001. As peças ósseas encontradas (dentes, vértebras caudais e fragmentos de ossos apendiculares) em Vale Frades, e depois também na Praia do Caniçal, 1km a Norte (um fémur), permitem identificá-lo como um Iguanodontia/Camptosauridae (Mateus & Antunes 2001). Este material está depositado no Museu da Lourinhã. Duas pegadas descobertas em Porto Escada, em 1990 (dados não publicados) podem pertencer a indivíduos desta espécie (Mateus & Antunes 2001).

Um Iguanodontia indeterminado é igualmente citado da mina de Guimarota/Leiria (Martin & Krebs 2000).

Os Omitópodes eram, de modo geral, Dinossauros herbívoros, de postura bípede, mas que poderiam contudo, nalguns casos, apoiar-se nas quatro patas. Incluem formas de dimensões muito variáveis.

Além de fragmentos ósseos, também se descobriam, em numerosos locais da orla Meso-Cenozóica portuguesa, pegadas destes animais.

Do Jurássico Médio apenas são conhecidas pegadas na Pedreira do Galinha/Fátima (Saurópodes). Esta é a mais antiga pista de Dinossauros que se conhece em Portugal e uma das mais importantes a nível mundial.

São pistas de icnofácies Brontopodus (Saurópodes) (Santos et al. 1994; Azeredo et al. 1995).

Do Jurássico Superior conhecem-se pegadas de Dinossauros no Cabo Mondego (Terópodes: Eutynichniuni lusitanicum e Megalosauripus - Gomes 1915/16; Lapparent & et ai 1951; Lapparent & Zbyszewski 1957; Carvalho 1994; Lockley et al1998; Antunes 1999), Serra da Pescaria/Nazaré (Terópodes e Saurópodes), S. Martinho do Porto (Megalosauripus, outros Terópodes e Ornitópodes), Serra do Bouro/Foz do Arelho (Terópodes e Saurópodes), Paimogo/Lourinhã (Terópodes), Praia da Areia Branca (Terópodes), praia de Valmitão (Terópodes e Ornitópodes), praia da Corva/Lourinhã (Terópodes), pedreira da Ribeira do Cavalo/Sesimbra (Terópodes/Megalosauripus e Saurópodes), Lagosteiros/Cabo EspicheI (manada de Saurópodes, adultos e juvenis -Lockley et al1994), Pedreira do Avelino/Sesimbra (Saurópodes), Zambujal (Terópodes/Megalosauripus) (Lockley & Santos 1993; Carvalho 1994; Lockley et al. 1998).

Lockley et al. (1998) reservam a designação de Megalosauripus para as pegadas dos grandes Megalossauridos do fim do Jurássico. Conservam contudo a designação de Eutynichnium para as pegadas de outros Terópodes do Jurássico Superior, como as encontradas no Cabo Mondego. Consideram ainda que deve ser mudada a designação aos vestígios do Cretácico Inferior, designados por Megalosauropus.

Outros vestígios da presença de Dinossauros no Jurássico português, como coprólitos, gastrólitos, ovos e até embriões fossilizados, têm sido igualmente encontrados.

O primeiro ovo de Dinossauro que foi referido do nosso território foi encontrado em 1908, em Alfazeirão, e na altura atribuído a Omosaurus (= Dacentrurus) (Lapparent & Zbyszewski, 1957). No entanto, parece que não se trata efectivamente de uma metade de um ovo, como inicialmente se suponha, mas apenas de um pseudo-fóssil (Verbatim Karl Hirsch 1992, cf. P. Dantas).

Os primeiros vestígios - a casca de um ovo - realmente de dinossauro, foram recolhidos, em 1981, no Jurássico Superior de uma jazida de Paimogo (Lourinhã). Em 1986, uma segunda casca foi descoberta no mesmo local (Dantas 1987). Cerca de 5 ovos deformados e incompletos, acompanhados de múltiplas cascas foram depois encontrados em 1987, em vários níveis de duas diferentes jazidas da região de Peralta (Lourinhã) (Dantas 1987; Dantas et al. 1991, 1992a, 1993).

Cascas de ovos de Dinossauros são ainda referidos do Jurássico Superior da Praia de Porto Dinheiro (Kohring 1993). No mesmo ano (1993) foram descobertas no Jurássico Superior de Paimogo/Lourinhã cerca de uma centena de ovos com embriões de Terópodes (Mateus H.1998; Mateus I. et al. 1997, 1998; Antunes et al. 1998).

Em Espanha são conhecidos numerosos vestígios de Dinossauros do fim do Jurássico e do começo do Cretácico (Sanz et ai 1990; Quesada et al. 1998).

Entre os Saurischia são referidos os Terópodes: "Megalosauridae"/ "Megalosaurus" das Astúrias, Castellón, Teruel, Cuenca, La Rioja e Valência; "Megalosaurus" cf. dunkeri, grande Terópode de estatuto duvidoso, também conhecido do Wealden (Cretácico Inferior de Inglaterra) de Valência; Ricardoestesia Currie, Rigby & Sloan, 1990, pequeno Terópode cuja descrição, baseada apenas em dentes, levanta dúvidas (Dodson pp. 10-13, em Currie & Padian, 1997) de Cuenca; Coelurosauria de Sória e Burgos; Coeluridae das Astúrias, Teruel e Castellón; Paronychodon Cope, 1876, cuja descrição baseada apenas em dentes levanta dúvidas (Dodson pp.1 0-13 em Currie & Padian, 1997) de Teruel; Euronychodon Telles Antunes & Sigogneau -Russell, 1992, género também assinalado do Cretácico português, de Cuenca; Pelecanimimus polyodon Perêz-Moreno, 1994, Tetanurae/Omithomimosauria, primeiro Dinossauro deste grupo encontrado na Europa e um dos mais antigos conhecidos, próximo dos Tryronossauridae (Holtz 1998) de Cuenca; Carcharondontosaurus Stromer, 1931/Tetanurae/Tyranosauridae, gigantesco Terópode, de Teruel; Dromaeosauridae de Cuenca.

Entre os Sauropoda são assinalados: Aragosaurus ischiaticus / Camarasauridae de Teruel; Brachiosauridae de Valência; Brachiosaurinae de Teruel, Cuenca e Valência; cf. Astrodon, género também referido do Cretácico Inferior português (ver atrás), de Teruel; Cetiosaurus/Cetiosauridae (Saurópodes primitivos) de Castellón e Valência; aff. Haplocanthosaurus/ ?Brachiosauridae de Valência.

No que respeita aos Omitischia são referidos os Ornithopoda: Iguanodon de Castellón, Teruel, Cuenca e Burgos; Iguanodon bernissartensis de Teruel, Cuenca, Castellón e Burgos; Iguanodon mantelli (actualmente: I. atherfieldensis Hooley, 1924), espécie também assinalada da mesma época em Portugal, de Teruel e CastelIón; Valdosaurus Galton, 1977/Dryosauridae, pequeno Omitópode primitivo também conhecido do Jurássico Superior/ Cretácico Inferior de Inglaterra e do Níger (África), de Teruel e Burgos; Rhabdodon priscus/lguanodontia basal, da Catalunha; Hypsilophodon Huxley, 1869, género também assinalado do Cretácico português, de Teruel e Sória; Hypsilophodon foxii, pequeno Omitópode corredor de cerca de 3 metros de comprimento, também conhecido do Wealden de Inglaterra, de Teruel e Castellón; Hadrosauridae de Teruel; Echinodon/Fabrosauridae (Thyreophora incertae sedis) de Teruel, Cuenca e Castellón; aff. Echinodon de Teruel; Trachodon/ Trachodontidae, considerado nomen dubium (Dodson pp. 10-13, em Currie & Padian 1997), de Teruel.

Dos Ankylosauria são mencionados: Hylaeosaurus Mantell, 1833, também conhecido nos depósitos de Wealden de Inglaterra (Cretácico Inferior), de Burgos; Nodosauridae de Castellón e Burgos.

Entre os Stegosauria são referidos: Dacentrurus armatus, espécie também assinalada no Jurássico Superior português, com cerca de 6 metros de comprimento e 2.5 toneladas de peso, de Los Serranos/Valência; Stegosauria de Teruel e Valência.

Lepidossauros

São Répteis Diapsida que se diferenciam dos Archosauria pela ausência de fenestra pré-orbitária e em que a fossa temporal inferior pode ficar aberta por perda do arco temporal inferior (nos Squamata).

SQUAMATA

Este grupo caracteriza-se globalmente pela presença de escamas córneas epidérmicas. Do Jurássico de Portugal são conhecidos restos de representantes de vários grupos de Squamata (Seiffert 1973; Broschinski 2000).

Eolacertilia

É um grupo proposto por Romer para agrupar as formas mais primitivas de Squamata cuja inclusão nas classificações das formas actuais e fósseis (a partir do Jurássico) se tomava problemática.

Neste grupo estão incluídos os vestígios de Kuehneossaurídeos que foram encontrados no Jurássico Superior de Vieira de Leiria (Pedrógão) (Thulbom 1973a). Estes animais eram Répteis voadores, melhor dizendo, planadores, com as costelas muito alongadas que davam suporte a membranas alares como acontece com os actuais Draco ( dragões- voadores) (Dixon 1991).


Scincomorpha

Este grupo de Répteis caracteriza-se pela morfologia da língua, estreita, e pela particular disposição da musculatura. No seu conjunto, os Répteis deste grupo mostram certa tendência para um alongamento do corpo e para uma redução dos membros, que podem desaparecer por completo.

Do Kimeridgiano Superior da mina de Guimarota e da Praia de Porto Dinheiro (=Porto Pinheiro/costa da Lourinhã) foram descritos vestígios (dentes) de um escincomorfo de posição sistemática duvidosa, Macellodus cf. brodiei Owen, 1854 (Seiffert 1973). Este material foi depois reclassificado como Paramacellodus Hoffstetter, 1967 sp. (Broschinski 2000; Martin & Krebs 2000) e consequentemente colocado na família Paramacellodidae Estes, 1983 (Scincomorpha basais). É possível que alguns restos atribuídos por Seiffert (1973) a "Saurillus" cf. obtusus possam pertencer a este género. À família Paramacellodidae são igualmente atribuídos os restos de um outro escincomorfo, encontrados no Kimeridgiano da mina de Guimarota, Becklesius (=Beklesisaurus) hoffstetteri (Seiffert, 1973) (Seiffert 1973; Broschinski 2000; Martin & Krebs 2000). Era um pequeno mas robusto "lagarto", talvez morfologicamente próximo dos actuais Gerrhossaurinae, com uma armadura de placas queratínicas rectangulares, osteodermos e com os membros ligeiramente reduzidos.

Três Scincoidea (famllia incertae sedis) são igualmente .conhecidos do Kimeridgiano português (Seiffert 1973; Broschinski 2000; Martin & Krebs 2000): Saurillodon (=Saurillus) prorafonnis (Seiffert, 1973) e Saurillodon (=Saurillus) ?henkeli (Seiffert, 1973) - da mina de Guimarota; e Saurillodon ( =Saurillus) cf. obtusus (Owen, 1850) - da mina da Guimarota e da Praia de Porto Dinheiro.

Os Saurillodon eram os Squamata mais abundantes desta jazida da mina de Guimarota. Eram parecidos com os actuais escincídeos e tinham muito provavelmente hábitos fossadores. Possuíam um esqueleto robusto, focinho curto e membros ligeiramente reduzidos. Deviam representar o ponto de partida para a evolução de corpos serpentiformes (e com acentuada redução dos membros), como adaptação a hábitos subterrâneos (Broschinski 2000).

Do Kimeridgiano Superior da mina de Guimarota é ainda mencionado um escincomorfo que não foi possível determinar. Corresponde a larga parte do material referido por Seiffert (1973) como "Saurillus cf. obtusus (Broschinski 2000).

Anguimorpha

Diferenciam-se dos outros sáurios pelos dentes de substituição alternada e pela língua bifída anteriormente, não elástica, e retráctil numa bainha posterior. Os seus osteodermos podem chegar a formar verdadeiras couraças.

Três espécies de anguimorfos varanóides foram inicialmente referidas do Kimeridgiano da mina de Guimarota (Seiffert 1973), duas atribuídas aos Dorsetosauridae, Lisboasaurus estesi e L. mitracostatus, uma terceira, embora com dúvidas, atribuida à família Dolichosauridae, ? lntrosisaurus pollicidens Seiffert, 1973. Como atrás referimos, os restos atribuídos ao género Lisboasaurus foram posteriormente interpretados, primeiro como pertencendo a um Dinossauro Maniraptora e, finalmente, como pertencendo a um crocodilo Metasuchia. lntrosisaurus pollicidens foi entretanto reclassificado como Dorsetisaurus pollicidens (Seiffert, 1973) família incertae sedis (Broschinski 2000).

Da mina de Guimarota foi também recentemente citado um outro Anguimorfo do grupo dos "Platynota" famíla incertae sedis, Parviraptor Evans, 1994 sp. (Broschinski 2000; Martin & Krebs 2000). Era um "lagarto" tipo-monitor (Varanus) que se alimentaria de pequenos Vertebrados.

Do Jurássico Superior de Lérida (Espanha) são referidos os Anguimorfos Meyasaurus faurai e Meyasaurus (= Ilerdasaurus) crusafonti (Quesada et al. 1998).

Anfíbios

Os Anfíbios, embora referidos como relativamente abundantes em alguns depósitos do Jurássico, na maior parte dos casos não foram, na altura, taxonomicamente discriminados.

Do Kimeridgiano da mina de Guimarota foram mencionados restos de Anuros e Urodelos (Krebs 1968; Thulbom 1973a) e do Jurássico Superior de Pedrógão, Urodelos (Seiffert 1973).

Posteriormente, numa comunicação apresentada no 2° Congresso Mundial de Herpetologia, realizado em 1993 (Adelaide / Austrália), Evans & Milner referem para o Jurássico Superior da mina da Guimarota (Leiria), a presença de uma comunidade de Urodelos próxima da que existia no Jurássico Médio de Kirtlington (Inglaterra), ou seja, salamandras, talvez do género Marmorerpeton (cf. Marmorerpeton sp.), outras próximas da família Scapherpetontidae (Cretácico/Eocénico dos U .S.A ) e também ainda outras semelhantes às do género Prosiren. A referência à presença de Mannorerpeton sp. no Kimeridgiano português é de novo feita, num trabalho posterior, em que é descrito o novo género (e espécie) de salamandra do Cretácico Inferior de Las Hojas/Espanha, Valdotriton gracilis (Evans & Milner 1996). Muito recentemente Wiechmann (2000) refere para o Kimeridgiano da mina da Guimarota a presença de um Albanerpetontidae, cf. Celtedens sp., de Caudata de família incertae sedis, cf. Mannorerpeton sp., bem como Anuros da família Discoglossidae, indeterminados.

Os Albanerpetontidae eram pequenos Anfíbios de cauda longa, de hábitos terrestres, parecidos com as actuais salamandras. Surgiram no Jurássio Médio e extinguiram-se no Miocénico. Eram um dos elementos faunísticos mais abundantes do Kimeridgiano Superior da mina de Guimarota (Wiechmann 2000).

Em Espanha foram descritos, do Jurássico Terminal, restos de Eodiscoglossus santonjae (Discoglossidae) e de duas outras espécies atribuídas à família Palaeobatrachidae: Neusibatrachus wilferti e Montsechobatrachus gaudryi (Sanchiz 1977a). No entanto, segundo Sanchiz (1998), N. wilferti deve ser considerado sinónimo de E. santonjae e M. gaudryi um nomen vanum. Deve tratar-se de uma larva nas últimas fases da metamorfose ou de um juvenil de E. santonjae.