REFLEXÕES EM TORNO DE UM BLOCO DE COBRE*
Isabel Cruz

Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa
 
4. Uma dúvida

Quando o sonho dourado do progresso científico e tecnológico se começou a desfazer, entre fumos e maus cheiros, bombas atómicas e guerra fria, e os clamores da defesa do equilíbrio ecológico e da preservação do mundo natural atingiram finalmente as periferias, a Ciência entrou em crise na opinião pública. Apostou-se então no papel correctivo da mesma em relação aos estragos que produzia, e para os nossos programas escolares «saltaram» os temas quentes da Sociedade, como as questões do esgotamento dos recursos naturais e energéticos, da poluição, da qualidade de vida ambiental, do esclarecimento ao consumidor. Para tudo isto a Ciência tinha solução - a marcha dos prodígios continuava. 

A relativa frieza com que os alunos actualmente encaram o papel da Ciência na resolução de problemas na Sociedade não deixa de provocar algumas perplexidades a quem foi educado tomando-a como um valor a defender e a preservar. Em algum momento da comunicação entre professor e alunos, a mensagem apelativa da Ciência falha, mesmo podendo ainda explorar-se o anelo do experimental.

A experiência parece assumir então uma função lúdica, que se esgota em si mesma. Não há dúvida de que é desejada (a insistência com que os alunos solicitam a realização de demonstrações é disso prova) e apreciada (os aplausos e ovações que por vezes as rematam assim parecem evidenciar). A dúvida permanece, contudo, ao nível da eficácia da comunicação - conseguiu-se prender a atenção do receptor, mas será que a mensagem passou? Porque há uma mensagem. Um professor tem sempre uma mensagem.

A dúvida agudiza-se ainda mais, quando se passa ao domínio das manipulações directas. Concentração, domínio psicomotor, destreza, correcção e perfeição, responsabilidade e respeito parecem ter sido erradicadas definitivamente da praxis dos que experimentam. Porque nestas ocasiões, a maioria não experimenta, brinca, e não compreende tão pouco a validade destes termos naquele contexto.