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A PEDRA DE COBRE
 
 

 MEMORIA  SOBRE O COBRE VIRGEM OU NATIVO

DA CAPITANIA DA BAHIA

DESCOBERTO NO ANNO DE 1782

Por Domingos Vandelli 


 A rarissima peça de cobre nativo, que o Exmo. Sr. Martinho de Mello fez pôr neste Real Museu, merece toda a estimação pelo seu tamanho e pela sua mistura com huma mina de ferro, o que serve para explicar hum phenomeno particular da natureza. Esta massa de cobre nativo pesa arrateis 2619; he de figura rhomboidal com a superficie irregular causada por varias pequenas cavidadedes e protuberancias. A sua altura he de 3 pés e 2 pollegadas de Paris, a maior largura he de 2 pés e ½ e a grossura ½ pé, 4 pollegadas e 2 linhas.

A côr externa he avermelhada escura, com algumas nodoas e particulas azuladas e verdes produzidas da ocra ou ferrugem do mesmo cobre. Internamente he de côr vermelha como o melhor cobre purificado e como elle malleavel e ductil. Não contém ouro, porque a agua fervente o dissolve perfeitamente e por ter a sua origem no vitriolo de cobre.

Foi descoberta esta massa de cobre nativo na Capitania da Bahia, sepultada em huma argilla muito fina de côr amarella, misturada com mica talcosa, côr de ouro, disposta em camadas produzidas das deposições das aguas do rio... que desce da Caxoeira, longe 2 legoas da Bahia--------
------------------------------ differentes paizes
da Europa e da Asia, se encontra cobre virgem cristallisado, granulado, capillar, folliaceo, como tãobem no Brazil, ha alguns annos, na Capitania de Piauhy se descobriu hum pedaço de 30 e mais arrateis de cobre nativo com matriz espatosa, o qual se conserva neste museu, além de outro folhaceo, que eu descobri em grande abundancia no Ducado de Modena, entre estractos ou bancos de argilla, as cujas montanhas são abundantes de minas de cobre pyriticoso, pelo que he muito provavel que nos montes superiores á dita Caxoeira, donde se achou esta massa, se encontrem muitas outras sepultadas na argilla e riquissimas minas de cobre pyriticoso, de cuja decomposição se formou o vitriolo, que deu origem a esta cementação; além de riquissimas minas de ferro, que pelas superficies das mesmas, transportadas pelo rio, claramente vem indicada.

Mas até agora não se descobriu em parte alguma massa tão grande e assim circumstanciada de ser produzida pela cementação, como he esta da Bahia, a qual serviria para enriquecer o mais rico museu da Europa...

Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), ms. 11. 463.

 8. Carta de José da Silva Lisboa, em que dá conta das pesquizas a que procedeu nas serras da Cachoeira para a descoberta da supposta mina de cobre, cuja existencia as suas investigações deixaram muito duvidosa. Bahia, 19 de janeiro de 1784. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 11. 472.

9. Carta particular de Antonio de Amorim e Castro (para Martinho de Mello e Castro), em que lhe participa ter chegado á Bahia e que brevemente iria tomar posse do seu logar de Juiz de fóra da Cachoeira, onde desde logo se occuparia diligentemente da exploração da mina de cobre. Bahia, 28 de março de 1787. Anais da Biblioteca Nacional, 34 (1912), 1914, doc. 12.489.

10. Memórias inéditas de Domingos Vandelli. Memória sobre a pedra de cobre. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Documentos vindos do Brasil, livros 28, 29 e 30, Memórias inéditas de Domingos Vandelli, 122 memórias, 598 fls. Estes documentos são citados por: J.L.Cardos, O Pensamento ecoómico em Portugal, p. 317. J. Serrão, coord, Roteiros das fontes da História Portuguesa contemporânea; Arquivos do Brasil. Não foi visto ainda.

PEDRA DE COBRE, TEXTOS PUBLICADOS

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CIÊNCIA E HISTÓRIA, MANUSCRITOS E CATÁLOGO  

1. Officio do Desembargador Rodrigo Coelho Machado Torres (para Fran­cisco X. de Mendonça), relativo à devassa sobre o procedimento do Provedor da Casa da Moeda Manuel da Silva Ferreira. Bahia, 12 de setembro de 1768. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 7930.

2. Officio (de Francisco Xavier de Mendonça) para o Marquez de Lavradio, em que lhe determina que passe as ordens necessarias para ser enviado ás Cadeias do Limoeiro Manuel da Silva Pereira, que fôra Provedor da Casa da Moeda da Bahia e se achava preso na Villa da Cachoeira. Palacio de N.S. da Ajuda, 21 de Abril de 1769. Minuta. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 8166.

3. Viagens filosóficas ou dissertação sobre as importantes regras que o Filósofo Naturalista nas suas peregrinações deve principalmente observar, por Domingos Vandelli. Cópia de Frei Vicente Salgado. Manuscrito vermelho nº 405 (15), Academia das Ciências de Lisboa.

4. Cartas do Marquês de Valença a Martinho de Melo e Castro sôbre assuntos administrativos da Bahia e sôbre nomeação de José da Silva Lisboa como ouvidor interino de Ilhéus. Bahia, 1780. 4 cópias. II - 33, 18, 35. Anais da Biblioteca Nacional, 68, 1950, doc. 415.

5. Carta do Governador Marquez de Valença para a Rainha, no qual se refere á devassa a que se procedera sobre as queixas e diversas representações dirigidas ao Real Erario, contra o Provedor da Casa da Moeda da Bahia Manuel da Silva Ferreira. Bahia, 14 de julho de 1781. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 10.867.       

6. Officio do Marquez de Angeja para Martinho de Mello e Castro, relativo á devassa contra Manuel da Silva Ferreira. Junqueira, 3 de maio de 1782. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 10.868, anexo ao 10.867.       

7. Carta de Manuel  da Costa de Carvalho para Martinho de Mello e Castro em que se refere desfavoravelmente ao Juiz de fora Marcellino da Silva Pereira. Bahia, 13 de setembro de 1782. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 11.141.

8. Requerimento do Bacharel Marcellino da Silva Pereira, Juiz de fóra da Cachoeira, em que pede a nomeação de um ministro para lhe tirar a sua devassa de residência. S/d. Anais da Biblioteca Nacional, 32 (1914), doc. 11.975.

 
 
 
 

>>>>>>>>>>>>>>MEMORIA  SOBRE O COBRE VIRGEM OU NATIVO...

Por Domingos Vandelli 

Discursos e Práticas Alquímicas. Volume II (2002) - Org. de José Manuel Anes, Maria Estela Guedes & Nuno Marques Peiriço. Hugin Editores, Lisboa, 330 pp. Online no TriploV.