PEREGRINAÇÕES MUÇULMANAS - RELIGIÃO AO SERVIÇO DAS CIÊNCIAS:
O LEGADO ISLÂMICO DE AL-ÂNDALUS (711-1492)

JOSEPH ABRAHAM LEVI
Rhode Island College
© 2003


NOTAS

1 João Silva de Sousa. Religião e Direito no Alcorão. Imprensa Universitária. 55. Lisboa: Editorial Estampa, 1986. 13.

2 Vejam-se: Mikel de Epalza. "La islamización de Al-Andalus: Mozárabes y neomozárabes." Revista del Instituto Egípcio de Estudios Islámicos en Madrid 23 (1985-1986): 171-179; Julio Samsó. "Astrology, Pre-Islamic Spain and the Conquest of Al-Andalus." Revista del Instituto Egípcio de Estudios Islámicos en Madrid 23 (1985-1986): 79-94. Também queremos despertar a atenção dos leitores para o facto de que as referências bibliográficas encontradas nas notas seguem as normas estilísticas estabelecidas pela Modern Language Association of America encontradas em Joseph Gibaldi. MLA Style Manual. 1985. Nova Iorque: Modern Language Association of America, 1998.

3 Principalmente composta por textos indianos, persas e das antigas civilizações pré-islâmicas — entre as quais sobressaem a caldaica e a babilónica.

4 Os primeiros astrónomos muçulmanos colocaram a ciência da Astronomia entre as ciências matemáticas, chamando-a, assim, `Ilm Al-Hay'a, isto é, "a ciência do aspecto do universo", ou também `Ilm Al-Aflak, ou seja, "a ciência das esferas celestiais". A razão disso fica no facto de considerar esta doutrina o resultado do conjunto dos movimentos puramente celestiais no(s) céu(s), daí a necessidade de representá-la em termos matemáticos. Hoje nós chamá-la-iam Astronomia Esférica. Além disso, a Astronomia abrangia o cálculo das órbitas planetárias, informava sobre a composição de tábuas astronómicas, incluindo as várias teorias a respeito dos instrumentos usados nestas pesquisas. Veja-se, por exemplo: P. M. Holt, Ann K.S. Lambton e Bernard Lewis, eds. The Cambridge History of Islam. 2 vols. Cambrígia: Cambridge University Press, 1970. 2: 757.

5 Bagdade, a nova capital do império muçulmano, durante a dinastia Abássida (750-1258), é um dos centros culturais do mundo islâmico inteiro. Sob a égide do grande califa Al-Mansur (754-775), a Ciência e a Filosofia, entre as outras disciplinas, entram oficialmente no mundo muçulmano e, desta vez, para ficar. Com muita probabilidade foi durante o reinado de Al-Mansur que os numerais indianos, de proveniência hindi, entraram na ciência muçulmana e, finalmente, através do intermediário de Al-Ândalus no Oeste. Vejam-se: George Sarton. Introduction to the History of Science. 3 vols. Carnegie Institution of Washington. Baltimore: Williams and Wilkins, 1927-1948. 1: 530; Mohammed Arkoun. "Introduction a la pensée islamique classique." Cahiers d’Histoire Mondiale/Journal of World History 11 (1969): 578-614.

6 Em Árabe Al-Sind Hind é a região do povo Hindu, isto é, a região que se estende ao longo do curso e do delta do rio Indo. Porém, Al-Sind Hind também se refere à região histórica da hodierna Índia e da actual zona Oeste do Paquistão. Com muita probabilidade os Siddhanta foram escritos durante a primeira metade do século V da Era Vulgar. Os Siddhanta são principalmente baseados em estudos gregos e helénicos — muito provavelmente pós-Ptolemáicos — de Matemática Astronomia junto com comentários e aperfeiçoamentos. Os Siddhanta são tratados teoréticos que complementam quer as Tábuas Astronómicas — os Al-Zij— quer os comentários, assim como os karanas, isto é, as anotações práticas. Há cinco tipos de Siddhanta e, dada a grande diversidade entre eles, é muito provável que tenham sido compostos em períodos diferentes, sempre por volta de ou durante o século V da Era Vulgar. Quanto à conexão entre a ciência greco-helénica e as tradições orientais, Bernard F. Reilly assim comenta:

[…] scholars of Islam appropriated not simply Greek science […] they had added the ancient Persian astronomical knowledge and the mathematics and astronomy of the Hindu Indian world. This process had largely taken place in the great days of the Abbasid caliphate at Baghdad and had seen a marvelous enrichment of the classical lore in the Near East by figures such as al-Battani and al-Khwarizmi.

Bernard F. Reilly. The Medieval Spains. Cambridge: Cambridge University Press, 1993. 123. Vejam-se também: Carl. Brockelmann. Geschichte der arabischen Literatur. Leiden: E.J. Brill, 1898. reimpr. 1943-1949. 1: 248; Ebenezer Burgess. Translation of the Sûrya-Siddhânta, a Text-book of Hindu Astronomy; with Notes and an Appendix. Journal of the American Oriental Society. vol. 6. New Haven: American Oriental Society, 1860; Gerge Sarton. Introduction to the History of Science, 1: 378; 386-388. Quanto ao conteúdo dos Siddhanta, podemos dizer que esta obra se dedicava ao cálculo do movimento das estrelas. Segundo a lenda, o texto original em Hindi foi trazido à corte de Bagdade e explicado oralmente ao califa Al-Mansur por um Indiano em 770 ou 771 da Era Vulgar. Logo depois Abu `Abdallah Muhammad ibn Ibrahim bin Habib Al-Fazari foi ordenado de calcular os elementos e os métodos para o cálculo das Tábuas Astronómicas — os azyaj, plural de zij — as quais ele adaptou, muito convenientemente, ao calendário lunar muçulmano. Al-Fazari é talvez responsável por ter introduzido no Islão — e depois no Oeste — os números indianos, de proveniência Hindu. As Tábuas Astronómicas de Al-Khwarizmi e aquelas de Habash eram baseadas na tradução de Al-Fazari. O original árabe do texto em Latim, Algoritmi de numero Indorum, apareceu pela primeira vez por volta de 825 da nossa era. Os primeiros documentos muçulmanos com os números indianos são de 874 e 888 respeitivamente. Vejam-se: P. M. Holt, Ann K.S. Lambton e Bernard Lewis, eds. The Cambridge History of Islam, 2: 758; David Pingree. "Islamic Astronomy in Sanskrit." Journal for the History of Arabic Science 2 (1978): 315-330; George Sarton. Introduction to the History of Science, 1: 531; 1: 601; David Pingree. "Precession and Trepidation in Indian Astronomy before A.D. 1200." Journal for the History of Astronomy 3 (1972): 27-35; Carl Brockelmann. Geschicte der Arabischen Litteratur, 1: 248.

7 Nomeadamente, Iraniano Medieval.

8 Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 5.

9 Designadamente, uma colecção de Tábuas Astronómicas. O título original em Pálavi era Zij Ash-Shash, ou seja, "tábuas astronómicas do rei". Trabalho produzido durante os últimos anos da dinastia dos Sassânidas (c. 226 - c. 641), a tradução em Árabe era muito usada no mundo muçulmano. Ma Sha' Allah, conhecido no Ocidente como Messahala, famoso astrólogo e astrónomo a viver no século IX da Era Vulgar, usou-a para os seus cálculos astronómicos. Um pouco mais tarde, no mesmo século, Muhammad bin Musa Al-Khwarizmi também usou esta obra em descrever a periodicidade dos movimentos planetários. Vejam-se, entre outros: P. M. Holt, Ann K.S. Lambton e Bernard Lewis, eds. The Cambridge History of Islam, 2: 759; David A. King. "New Light on the Zij al-Safa’ih of Abu Ja´far al-Khazin." Centaurus 23 (1980): 105-117; David A. King. "A Handlist of the Arabic and Persian Astronomical Manuscripts in the Maharaja Mansingh II Library in Jaipur." Journal for the History of Arabic Science 4 (1980): 81-86.

10 Al-Khwarizmi: o seu nome, sob a forma estropiada latino-medieval, deu origem ao termo matemático algoritmo: Algorismus, ou também Alghoarismus, transformou-se em algorismo. Al-Khwarizmi, o maior matemático, astrónomo e geógrafo do seu tempo, viveu durante o reinado de Al-Ma’mun (813-833). O grande mérito de Al-Khwarizmi foi aquele de ter posto em forma sincrética a ciência greco-helénica com aquela hindu e, às vezes, aperfeiçoando-a, como no caso da Geografia e dos mapas de Ptolomeu. Vejam-se: Georges S. Colin. "De l’origine grecque des "Chiffres de fès" et de nos "chiffres arabes"." Journal Asiatique 222 (1933): 193-215; George Sarton. Introduction to the History of Science, 1: 563; Solomon Gandz. "The Origin of the Ghubar Numerals, or the Arabian Abacus and the Articuli." Isis 16 (1931): 393-424.

11 Ibn Khaldûn. The Muqaddimah. An Introduction to History. Trad. Franz Rosenthal. 3 vols. Londres: Routledge and Kegan Paul, 1958. 3: 135-136.

12 Hégira: a partida de Muhammad de Meca para Medina, em 622, marca o início da Era Muçulmana, comummente abreviada A.H., isto é, Anno Hegirae.

13 Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 7-8.

14 Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 8.

15 Ma Sha’ Allah, isto é, "A coisa que nós gostávamos de saber, Allah a sugeriu", (m. em c. 815-820), era um judeu-árabe, talvez egípcio. Ma Sha’ Allah é um dos primeiros astrónomos/astrólogos do Islão. Das suas muitas obras temos só uma em Árabe, o restante são traduções em Hebraico e Latim, entre estas últimas encontramos a famosa De scientia motus orbis, traduzida por Gherardo Cremonese, (c. 1114-1187). Rabban Sahl Al-Tabari, isto é, o Rabino do Tabaristão (c. primeira metade do século IX), era um astrónomo e médico judeu. Com muita probabilidade foi também o primeiro a traduzir em Árabe o Almagesto. Abu Al-Taiyib Sanad ibn ‘Aly (m. em c. 864), era um astrónomo e matemático famoso pelas suas tábuas astronómicas. Abu ‘Uthman Sahl ibn Bishr ibn Habib ibn Hani, ou Haya (c. primeira metade do século IX), era um astrólogo judeu do Khurasão famoso pelos seus tratados sobre Astrologia e Álgebra. Veja-se: George Sarton. Introduction to the History of Science, 1: 531; 1: 565-566; 1: 569.

16 Magrebe: do Árabe garb, isto é, Ocidente. Por Magrebe define-se aquela área geográfica a abranger a África do Norte inteira com a exclusão do Egipto e, às vezes, segundo alguns autores, (parte da hodierna), Líbia. Na Península Ibérica, ao invés, Garbe:

[…] era o território ocidental do Andaluz (Espanha muçulmana), o qual abarcou o território ocupado hoje por Portugal e ainda as cidades de Badajoz e Mérida.

António Borges Coelho. Portugal na Espanha Árabe. 2 vols. 2ª ed. Lisboa: Caminho, 1989, 1: 47.

17 Bernard F. Reilly. The Medieval Spains, 123.

18 Richard Fletcher. Moorish Spain. Berkeley: University of California Press, 1992, 147-148.

19 Claudius Ptolomeu, (Alexandria, m. depois de 161). O Almagesto é uma completa e detalhada exposição de Astronomia Matemática, um dos mais influentes tratados científicos da História, não só pelas suas teorias e observações técnicas e práticas, mas também pela sua influência no desenvolvimento da Astronomia no futuro. Ambos o Islão e o Ocidente serão fortemente influenciados, estimulados e transformados por esta obra.

20 Al-Hajjaj ibn Yusuf ibn Matar, talvez originário de Bagdade, onde viveu entre c. 786- 833. Foi o primeiro a traduzir em Árabe os Elementos de Euclides e o Almagesto, em Árabe Kitab Al-Mijisti. A tradução do Almagesto foi feita em 829-830 sob uma versão siríaca — a de Sérgio de Resaina (m. em 536), executada durante a primeira metade do século VI. Este último era um siríaco monofisita a viver em Alexandria e Ra's Al-`Ain, Mesopotâmia, onde faleceu em 536. Foi médico, filósofo e tradutor do Grego para o Siríaco. Além desta obra, também temos uma tradução em Árabe do século X, feita por Abu Al-Wafa’ Al-Mubashshir. Para mais informações sobre a etimologia do Almagesto, consultar a nota seguinte. Veja-se: George Sarton. Introduction to the History of Science, 1: 423-424; 1: 562; Heinrich Suter. Die Mathematiker und Astronomen der Araber und ihre Werke. Leipzig: Abh. Gesh. Math. Wiss., 1900. 208.

21 Esta obra foi intitulada Kitab Al-Majisti, isto é, "O livro maior". A última palavra Majisti parece ser uma forma corrompida do superlativo grego 'megiste': grande > maior. Megiste era a abreviação comum de Megale Syntaxis, ou seja a "Grande Colecção", termo referente ao longo título "Os treze livros das colecções de matemática". O artigo árabe Al — em Português o/a/os/as — junto a Megiste, deu origem, assim, à nova forma com o título Al-Megiste, e desta última formou-se a denominação latina Almagest. Vejam-se: Carl Brockelmann. Geschicte der Arabischen Litteratur, 1: 363; W. Montgomery Watt. A History of Islamic Spain. 1965. Edimburgo: Edinburgh University Press, 1967. 30-43; "Der Name Almagest," in "Dokumentarischer Teil," segundo capítulo do livro de Paul Kunitzsch. Der Almagest. Die Syntaxis Mathematica des Claudius Ptolemäus in arabisch-lateinischer Überlieferung. Wiesbaden: Otto Harrassowitz, 1974. 115-125.

22 De todas as tentativas medievais, a tradução do Almagesto do original árabe para o Latim feita por Gherardo da Cremona, (c. 1114-1187) — copiada em Toledo e completada em 1175 — é, sem dúvida qualquer, a melhor e uma das mais importantes no processo de redescoberta e reintrodução da obra magna de Ptolomeu no Ocidente.

23 David C. Lindberg. The Beginnings of Western Science. Chicago: University of Chicago Press, 1992. 39.

24 Nafis Ahmad. "Muslim Contributions to Astronomical and Mathematical Geography." Islamic Culture 18 (1944): 167-186. 167-168.

25 Também conhecida como As-Sina`ai, isto é, "a arte." Veja-se: Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 1-87. Esta fonte bibliográfica aplica-se também às quatro notas que seguem. Também consultar: Joseph Schacht e C.E. Bosworth, eds. The Legacy of Islam. 2ª ed. Oxónia: Oxford University Press, 1979.

26 Outros sinónimos são: Al-Qadaya, Al-Najamah e Al-Nijamah.

27 Também conhecidos como `Ilm At-Tangim, isto é, "a arte de determinar alguma coisa na subordinação das revoluções das estrelas".

28 Também chamada Astrologia Iudiciaria e/ou Astronomia Iudiciorum.

29 Outros sinónimos: Najjam e Ahkami.

30 Carlo Alfonso Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 1-2; 5: 42. Para a terminologia árabe consultar: Albert De Biberstein Kazimirski. Dictionnaire Arabe-Français. 2 vols. Paris: Editions G.-P. Maisonneuve, 1960; Júlio Cortés. Diccionario de árabe culto moderno: árabe-español. Biblioteca Románica Hispánica. V. Diccionarios. 18. Madrid: Gredos, 1996; Renato Traini, ed. Vocabolario arabo-italiano. 3 vols. 1966-1973. Roma: Istituto Per l’Oriente, 1993.

31 Shari’ah, literalmente: caminho, vereda, Lei Divina. A Shari’ah governa o comportamento humano nesta terra, ou seja, as relações entre os homens e Deus e entre homem e homem. O Fiqh, ciência, talento, é o conhecimento destas leis que governam a vida diária. É a união das Dogmáticas e da Ciência, a primeira a vigiar sobre a vida religiosa de cada crente. Para uma boa e acurada introdução ao Islão, à lei e às escolas islâmicas, consultar: Thomas Arnold e Alfred Guillaume, eds. The Legacy of Islam. Oxónia: Clarendon, 1931; M. Mustafa Al-Azami. On Schacht’s Origins of Muhammadan Jurisprudence. Nova Iorque: John Wiley and Sons, 1985; N.J. Coulson. A History of Islamic Law. 1964. Edimburgo: Edinburgh University Press, 1994; Michelangelo Guidi. Storia della religione dell' Islam. vol. 2. Storia delle religioni. Ed. Pietro Tacchi Venturi, S.J. Turim: UTET, 1935; David Santillana. Istituzioni di Diritto Musulmano Malichita con riguardo anche al sistema sciafiita. 2 vols. Roma: Istituto Per l’Oriente, 1925-1938; Joseph Schacht. The Origins of Muhammadan Jurisprudence. Oxónia: Clarendon, 1950; Joseph Schacht. An Introduction to Islamic Law. Oxónia: Clarendon, 1964; Joseph Schacht e C.E. Bosworth, eds. The Legacy of Islam. Oxónia: Oxford University Prss, 1979.

32 Nomeadamente: Cóptica, Siríaca, Persa e Indiana.

33 No Zoroastrismo — em Persa, Zardoshti, e Majus ou Majusiyyah em Árabe — a ideia básica principal é que o Bem e o Mal — representados, respectivamente, pelas divindades Ormuzd e Ahriman — são absolutos, dois princípios completamente opostos. Estas forças estão sempre em luta constante, em estado belicoso. Consequentemente, então, os seres humanos podem alcançar e chegar à perfeição absoluta através da escolha individual e livre, ou seja, do Bem. O Zoroastrismo, antigamente a religião nacional da Pérsia, foi muito influente no Médio Oriente até ao advento do Islão no século VII da Era Vulgar. Veja-se: Mary Boyce. Zoroastrianism. Their Religious Beliefs and Practices. Londres: Routledge and Kegan Paul, 1984.

34 Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 17-19.

35 "Mayl is the distance of the sun or a given star from the equinoctial line." Al-Khuwârizmî, Mafâtîh al-‘ulûm, 127; al-Bîrûnî, Kitâb at-tafhîm, 59, in Ibn Khaldûn. The Muqaddimah. An Introduction to History, 3: 133-134.

36 Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 19.

37 Para ulteriores informações e uma análise mais detalhada sobre estas polémicas, consultar: Carlo Alfonso Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 20-40.

38 Abu Al-Qasim Maslama ibn Ahmad Al-Majriti, originário de Madrid, produziu a maioria da sua obra em Córbova e morreu por volta do ano 1007. Grande astrónomo, matemático e ocultista, Al-Majriti é considerado o primeiro cientista andaluz de qualquer importância relevante. Al-Majriti editou e corrigiu as Tábuas Astronómicas de Al-Khwarizmi e substituiu a cronologia árabe àquela persa. Também escreveu as seguintes obras: um tratado sobre o astrolábio, traduzido em Latim por Joannes Hispalensis; um comentário sobre o Planisphærium de Ptolomeu, traduzido em Latim por Rodolfo de Bruges; um tratado de Aritmética Comercial, em Árabe: Al-Mu`amalat; um livro sobre a geração dos animais. Al-Majriti foi também interessado no poder erótico dos números amigáveis (220, 284). Atribuem-se-lhe dois tratados de Alquimia: O passo do sábio, em Árabe Rutbat Al-Hakim; O desejo do sábio, em Árabe Ghayat Al-Hakim. Esta última obra é também conhecida na sua edição em Latim. A tradução foi ordenada por Afonso X, redigida sob o título Picatrix. O texto original árabe deveria ser dos meados do século XI da Era Vulgar. Veja-se: George Sarton. Introduction to the History of Science. 3 vols. Baltimore: Carnegie Institution of Washington, Williams and Wilkins, 1927-1947, 1: 668. Claudius Ptolemeu (século II da Era Vulgar), era astrónomo e geógrafo grego de Alexandria, autor de: Geografia, a sua obra mais famosa, a qual permaneceu o trabalho básico de Geografia durante toda a Idade Média; as Ópticas; a Grande Colecção ou também conhecida como o Almagesto. Nesta última obra Ptolemeu dá um resumo da astronomia grega e expõe as próprias teorias, as suas opiniões — incontestáveis até Copérnico — isto é, que a Terra fica no centro do universo e que o Sol, os planetas e as estrelas giram em volta dela. Ptolemeu é também famoso por ter dividido o grau em minutos e segundos e por ter determinado o valor de , (Pê Grego): a proporção da circunferência dum círculo em relação ao diâmetro. [ = 3,141.59]. Vejam-se: Bernard R. Goldstein. Theory and Observation in Ancient and Medieval Astronomy. Londres: Variorum Reprints, 1985; José Amador de los Ríos. Estudios Históricos, Políticos y Literários sobre Los Judíos de España. Madrid: Imprenta de D.M. Díaz, 1848. 275-279; José Amador de los Ríos. História crítica de la Literatura Española. 7 vols. Madrid: Imprenta de José Rodríguez, 1861-1865. 3: 613-654.

39 Abu ‘Abdallah Muhammad ibn Musa Al-Khwarizmi, matemático, astrólogo, geógrafo e cronógrafo muçulmano. Viveu em Bagdade durante o califado de Al-Ma'mun, (813-833). Morreu talvez depois do 846 ou do 857 da Era Vulgar. Escreveu em Árabe sobre o cálculo decimal indiano. O original perdeu-se mas temos traduções em Latim. Al-Kwarizmi também escreveu vários tratados sobre instrumentos astronómicos e a cronografia muçulmana, da qual temos alguns fragmentos. Porém Al-Khwarizmi é mais famoso pelas seguintes obras: uma reedição do Atlas e da Geografia de Ptolemeu, baseada não no texto siríaco senão naquele grego; um tratado de Álgebra Prática, o mais antigo que exista escrito em Árabe. Este foi traduzido duas vezes em Latim no século XII da Era Vulgar por Rodolfo de Chester e Gherardo da Cremona; as Tábuas Astronómicas, com texto explicativo, compostas sob o modelo dos Siddhanta — isto é, um tratado astronómico indiano conhecido em Árabe com o título As-Sindhind. Maslamh Al-Magriti, (m. em 1007 ou em 1008), por sua vez, reeditou as Tábuas Astronómicas de Al-Khwarizmi. Da versão de Al-Magriti, em 1126, Adelardo de Bath fez uma tradução em Latim. Adelardo de Bath foi um dos primeiros tradutores da Idade Média. Depois de ter aprendido Árabe, na Sicília ou talvez mesmo em Terra Santa, Adelardo começou a traduzir em Latim textos do original árabe. Dele temos, entre outros, os Elementos de Euclides e as Tábuas de Al-Khwarizmi. Al-Battani, um dos melhores astrónomos muçulmanos a viver em solo islâmico, viveu entre c. 858 - 929 da Era Vulgar. Dele temos hoje: um comentário ao Tetrabiblon de Ptolemeu — isto é, um manual quadripartido sobre a Astrologia; dois tratados sobre soluções matemáticas a problemas astrológicos; Az-Zij, o seu trabalho mais famoso — isto é, "As Tábuas Astronómicas," incluindo as relativas soluções a vários problemas, em particular sobre a Astronomia Esférica e a arte da Calendariografia. Esta última obra é também conhecida como Zij As-Sabi, ou seja Zij Al-Battani. De todos os seus trabalhos existe hoje só o Zij As-Sabi nas suas duas versões, em Árabe e em Latim, esta última traduzida por Platão Tiburtino na primeira metade do século XII. Foi impressa em Nuremberga em 1537 e, mais de cem anos depois, exactamente em 1645, na Itália, em Bolonha. A tradução em Espanhol foi ordenada pelo Rei Afonso X, porém só a sua versão em Árabe do século XI ou XII existe hoje, preservada na Biblioteca do Escorial de Madrid. Esta obra foi traduzida em Latim por Carlo Alfonso Nallino. Vejam-se: Carlo A. Nallino. Al-Battanii sive Albateni. Opus Astronomicum. Ad fidem codicis escurialensis arabice editum. Latine versum, adnotationibus instructum. 3 vols. Milão: Hoepli, 1899-1907. reimpr. 2 vols. Franconiano: Underanderter Nachdruck, 1969; Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti. Ed. Maria Nallino. 6. vols. Roma: Istituto Per l'Oriente, 1944. 5: 330-347; George Sarton. Introduction to the History of Science. 3 vols. Baltimore: Carnegie Institution of Washington, Williams and Wilkins, 1927-1947. 2: 177-179; James Kritzeck. Peter the Venerable and Islam. Princeton: Princeton University Press, 1964; G.J. Toomer. "A Survey of the Toledan Tables." Osiris 15 (1968): 5-174.

40 Abu Al-Qasim Asbagh ibn Muhammad ibn Al-Samh, Granada 979-1035. Matemático e astrónomo, escreveu tratados de/ou sobre: Aritmética Comercial, em Árabe: Al-Mu`amalat; Cálculo Mental, em Árabe: Hisab Al-Hawa'i; os Números; Geometria; o uso e a construção do astrolábio. O melhor trabalho de Al-Samh foi uma compilação de tábuas astronómicas, segundo o método dos Siddhanta junto com explicações teoréticas.

41 A versão em Castelhano deste texto é parte do Libros del saber de astronomia. Na tradição astrológica/astronómica muçulmana os nomes, em Árabe, dos cinco planetas mais o Sol e a Lua são os seguintes: Al-Zuhal, (Saturno); Al-Mushtari, (Júpiter); Al-Mirrikh, (Marte); Al-Shams, (o Sol); Al-Zuhara, (Vénus); `Utarid, (Mercúrio), e Al-Qamar, (a Lua). Veja-se: P. M. Holt, Ann K. S. Lambton e Bernard Lewis, eds. The Cambridge History of Islam, 2: 761.

42 Gherardo Cremonese, em Latim Gerardus Cremonensis (1114-1187). Originário de Cremona, Itália. Tradutor muito prolífico, talvez o maior e o melhor de toda a Idade Média. Estudou Árabe em Toledo onde passou o resto da sua vida como tradutor incansável de obras em Árabe. Não enumeramos aqui todo o seu trabalho, basta dizer que supera mais de oitenta obras e algumas delas muito compridas, abrangendo áreas como: Lógica; Filosofia; matemática e astronomia greco-helénica; matemática e astronomia arábico-muçulmana; Física e Mecânica; medicina greco-helénica; medicina arábico-muçulmana; astrologia arábico-muçulmana; alquimia e geomancia arábico-muçulmana. Isto inclui também obras de Aristóteles e Galeno. Para uma lista mais detalhada, consultar George Sarton. Introduction to the History of Science, 2: 338-344. O Liber tabularum iahen cum regulis suis, as Tabulæ Jæn e as Tabulæ Gebri al-Jaihani são todos baseados nas obras originais dum Árabe cuja origem ainda fica na escuridão, talvez seja Abu `Abd Allah Muhammad ibn Yusuf ibn Ahmad ibn Mu`adh Al-Juhani (outra grafia Al-Jaihani), originário de Córdova, talvez nascido em 989 ou 990; o qual, apesar destes seus labores técnicos, também tenha sido, sob nome diferente, o vizir e cádi Abu `Abd Allah Muhammad ibn Mu`adh de Sevilha, autor dum tratado sobre a aurora e a eclipse solar do 3 de Julho de 1079. Vejam-se: John Louis Emil Dreyer. "On the Original Form of the Alfonsine Tables." Monthly Notices of the Royal Astronomical Society 80 (1920): 243-262; George Sarton. Introduction to the History of Science, 2: 338-344; Heinrich Hermelink. "Tabulae Jahen." Archive for History of Exact Sciences 2 (1964): 108-112.

43 Outra alcunha: ibn Al-Zarqiyal. Astrónomo árabe-andaluz do século XI da Era Vulgar. Viveu e produziu a maior parte das suas obras em Toledo, lugar onde efectuou as suas observações astronómicas de 1061, 1080 e 1081. Para as longitudes de Toledo compôs os Cânones e as famosas Tábuas Toledanas. Ambas estas obras são relacionadas aos movimentos celestiais. O seu trabalho foi traduzido em Espanhol e em Latim. Al-Zarqali é também famoso por ter inventado um novo tipo de astrolábio: o safihah zarqaliyyah — isto é, "a lâmina de Zarqali" — conhecido na Península como açafeha e, em Latim, saphæa. O astrolábio foi um instrumento, primeiro construído para o rei Al-Ma'mun de Toledo (1043-1075), e depois aperfeiçoado em Sevilha, durante o reinado de Mu`tamid ibn `Abbad (1068-1091). Al-Zarqali revolucionou o astrolábio tornando-o mais fácil e prático, substituindo a projecção estereográfica horizontal àquela polar, reduzindo, assim, o astrolábio a só uma lâmina e a duas pequenas adições subsidiárias. O tratado, composto por Al-Zarqali — onde explicava a construção e o uso do astrolábio —, foi traduzido em Latim, por Gherardo da Cremona, em Hebraico e, em 1277, em Espanhol, sob a ordem de Afonso X. Este labor monumental, na sua forma espanhola, foi depois inserido no Libros del saber de astronomia. A versão afonsina — em Espanhol e na sua tradução medieval italiana — é a única obra publicada de Al-Zarqali, tendo-se perdido o texto original árabe. Vejam-se: Manuel Rico y Sinobas, ed. Libros del saber de astronomia. 5 vols. Madrid: E. Aguado, 1863-1867. 3: 135-237; 3: 272-284; Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 341-342; Joseph Abraham Levi. Alfonso X, El Sabio. Text and Concordance of the Libro di sapere di astronomia. (14th-Century Italian Translation by Guerruccio Federighi). Madison: Hispanic Seminary of Medieval Studies, 1993. 1-12; Joseph Abraham Levi. An Edition and Study of the 14th-Century Italian Translation of Alfonso X, the Wise's "Libro del saber de astronomia". 5 vols. Diss. UW-Madison, 1993. Ann Arbor: UMI, 1993; George Sarton. Introduction to the History of Science, 1: 758-759; Fritz S. Pedersen. "Canones Azarchelis: Some Versions, and a Text." Cahiers de l’Institut du Moyen-Âge Grec et Latin 54 (1987): 129-218.

44 O astrolábio é um instrumento de cobre ou latão usado até ao século XVIII da Era Vulgar para determinar a elevação do Sol ou dos astros no horizonte. É particularmente útil quando se quer resolver problemas de Astronomia Esférica. A palavra é de origem grega, astrolabon — isto é, "instrumento que captura os astros". Astrolabium é a forma medieval latina. Porém, a forma latina não provém do original grego senão do Árabe asturlab. No Almagesto de Ptolemeu astrolábio equivale à esfera armilar. Os Muçulmanos juntaram esta última com o globo celeste criando, assim, o astrolábio esférico. Outro astrolábio é o astrolábio plano, também chamado em Latim Astrolabium Planisphærium. Este último baseia-se na projecção estereográfica da esfera celeste sobre um plano. O astrolábio é composto pelas seguintes partes principais: uma mãe, isto é, o disco maior; as lâminas, até ao máximo de nove, colocadas na mãe: estas calculam, para uma determinada latitude, a projecção estereográfica de vários fenómenos; a alidada, isto é, a dioptria; o axe ou pólo, prego que contém todas as partes do astrolábio. Devido à sua directa observação, o astrolábio fornece imediatamente a colocação do Sol, dum dos planeta ou a posição duma estrela no horizonte, incluindo as horas do dia e da noite. Além disso, o astrolábio ajuda nos vários problemas de Astronomia Esférica e, entre as suas demais propriedades, em calcular a distância dum determinado lugar. Contudo, tinha um inconveniente: a projecção estereográfica para uma determinada latitude mudava conforme o lugar geográfico, isto é, o sítio de observação. Para evitar isto, Al-Zarqali inventou o astrolábio universal: uma só lâmina para qualquer lugar. Na Europa este tipo de astrolábio foi chamado asaphea ou saphæa, do Árabe as-safihah — isto é, "a lâmina". Veja-se: Carlo A. Nallino. Raccolta di scritti editi e inediti, 5: 345-347. Quanto ao uso e à utilidade do astrolábio nas duas culturas, podemos dizer que:

In Islam, the astrolabe was useful, not only in astrology, but also for the determination of the astronomically-defined Muslim prayer-times; in Europe, though occasionally used for serious astronomical observations, its main function must have been astrological. In both cultures, the instrument was employed didactically, and it was highly prized as a clever and complex device, a prestigious instrument, a 'mathematical jewel', as a medieval nun called it.

David A. King. "On the Early History of the Universal Astrolabe in Islamic Astronomy, and the Origin of the Term Shakkaziya in Medieval Scientific Arabic." Journal of the History of Arabic Science 3 (1979): 244-257. Consultar também: David A. King. "The Origin of the Astrolabe According to the Medieval Islamic Sources." Journal for the History of Arabic Science 5 (1981): 43-83; Francis Maddison. "A Consequence of Discovery: Astronomical Navigation in Fifteenth-Century Portugal," in T.F. Earle e Stephen Parkinson, eds. Studies in the Portuguese Discoveries I. Proceedings of the First Colloquium of the Centre for the Study of the Portuguese Discoveries. Warminster: Aris and Philipps, 1992. 71-110; 78; 95; Julio Samsó. "Maslama al-Majriti and the Alphonsine Book on the Construction of the Astrolabe." Journal for the History of Arabic Science 4 (1980): 3-8; John Kirkland Wright. "Notes on the Knowledge of Latitudes and Longitudes in the Middle Ages." Isis 5 (1923): 75-98.

45 Ibn Khaldûn. The Muqaddimah. An Introduction to History, 3: 137.

46 Ahl Al-Kitabi, a "Gente do Livro," a incluir Judeus e Cristãos, que acredita num livro sagrado ou seja, a Bíblia, a Tora (Al-Tawrah), o Novo Testamento (Al-Injil), e o Livro dos Salmos (Al-Zabur). Todavia, Ahl Al-kitabi também inclui os Zoroastrianos, os Sabeus, os Mineus e qualquer outra gente com a qual o Islão terá contactos durante a sua expansão que acredita em só um deus e que baseie a sua religião num livro sagrado. As antigas religiões pré-islâmicas sabeias e mineias, mesmo contendo alguns elementos politeísticos, não foram condenadas pelo Islão. Ambos os Reinos de Sabá, (930-115), e Mina (1200-650), floresceram na Península Arábica, a primeira no Sul, a última no Sudoeste. Ambas as civilizações encontravam-se envolvidas no comércio das especiarias entre a Ásia, o Médio Oriente e o Mediterrâneo. Para as relações entre o Islão e os Cristãos Ortodoxos, ver: Nomikos Michael Vaporis. Orthodox Christians and Muslims. Brookline: Holy Chross Orthodox Press, 1986, em particular o capítulo "Jews, Christians, and Muslims According to the Qur’an," 105-120.

47 Novamente, Judeus, Cristãos, Zoroastrianos, Sabeus e Mineus.

48 Segundo o Islão, se bem que Allah tivesse revelado o Seu desejo aos profetas judeus, inclusive Jesus, as Escrituras, isto é, o(s) Livro(s), dos Judeus — a Torá, Al-Tawrah — e aquele dos Cristãos —o Novo Testamento, Al-Injil, e o Livro dos Salmos, Al-Zabur — foram, com o passar do tempo, corrompidos: ou seja, o revelado divino foi misturado com fabricações humanas. Surah V, Surah Al-Ma'idah, isto é, o Capítulo da Mesa, do Alcorão é um perfeito exemplo da recaída no erro e afastamento da pura religião dos seus pais, ou seja, o Islão, por parte dos kitabi, neste caso Judeus e Cristãos. Das revelações de Allah aos Judeus, o Alcorão diz:

Na verdade, Nós revelámos a Lei, onde há direcção e luz. Por ela, os profetas, que professavam a religião da entrega [a Deus], julgavam os que eram judeus; os rabinos e os doutores faziam o mesmo, conforme o que se lembravam do Livro de Deus, de quem tinham tido a custódia e de que eram testemunhas. Por isso não deveis temer os homens, temei-Me antes. Não vendereis os Meus sinais por preço mesquinho. Os que não julgam segundo o que Deus revelou são infiéis. (Surah V, 48)

A Lei — isto é, a Torá, Al-Tawrah — na sua forma original, foi promulgada pelo profeta Musa, ou seja, Moisés. Assim como o Alcorão, também a Torá foi um livro inspirado. Todavia, foi perdida antes do regresso do Islão, com o (último) profeta Muhammad. A Torá que os Judeus e os Cristãos possuíam quando o Alcorão foi revelado, segundo este último livro, era uma mistura de informações de origem divina e humana, onde o verdadeiro sentido foi alterado para satisfazer os próprios interesses, dos Judeus assim como dos Cristãos. Eles temiam os homens e não o único Deus, Allah. Além disso, o Alcorão acusa os Judeus de terem só fragmentos da Lei original dada a Moisés por Deus, o resto é então uma colectânea de factos semi-históricos e lendários. Ambos os kitabi— isto é, Judeus e Cristãos — são acusados de terem distorcido e deliberadamente alterado a revelação original, chamando-se, assim, o "povo escolhido":

Ó gente do Livro! O Nosso apóstolo chegou até vós para vos explicar as coisas do Livro que vós ocultáveis e também para vos perdoar. Foi de Deus que chegaram até vós uma luz e um Livro claro, com o qual Deus dirigirá os que seguirem a Sua vontade para o caminho da salvação e os afastará das trevas para a luz. Com a Sua vontade há-de guiá-los pelo caminho direito. (Surah V, 18) [...]

Os Judeus e os Cristãos dizem: «Nós somos os filhos de Deus e os seus predilectos.» Diz-lhes: «Então porque pune Ele os vossos pecados?» Não! Sois apenas homens, homens que Ele criou. Ele perdoa a quem quer e pune a quem quer. A Deus pertence a soberania do Céu e da Terra e de tudo que está entre eles. A Deus o Fim último!» (Surah V, 21)

José Pedro Machado, trad. e ed. Alcorão. 1979. Lisboa: Junta de Investigações Marítimas do Ultramar, 1980. 125-128. Para uma panorâmica sobre a sociedade judaica a viver em Dar Al-Islam, ver: S.D. Goitein. "Jewish Society and Institutions under Islam." Cahiers d’Histoire Mondiale/Journal of World History 11 (1969): 170-184.

49 David B. Ruderman. Jewish Thought and Scientific Discovery in Early Modern Europe. New Haven: Yale University Press, 1995. 18.

50 Almorávidas, em Árabe, Al-Murabitun, ou seja, "aqueles que se alinharam juntos em defesa da fé", (448-541 A.H./1056-1147). Os Almorávidas eram ascéticos religiosos que alcançaram em chegar ao poder e dominar o Magrebe assim como Al-Ândalus. Ver: Ian Richard Netton. A Popular Dictionary of Islam. 1992. Lincolnwood: NTC, 1997. 31.

51 David B. Ruderman. Jewish Thought and Scientific Discovery in Early Modern Europe, 18.

52 Eis aqui algumas datas importantes na história da Reconquista: 718-722, a Batalha de Covadonga, a estabelecer o reino das Astúrias; 739, a Reconquista da Galícia; 801, as tropas dos Francos capturam Barcelona; c. 914, formação do reino de Lião; meados do século X, a Reconquista chega ao Rio Douro; meados do século XI, formação dos reinos cristãos de Aragão, Castela, Lião, Navarra, assim como do condado de Barcelona; 1085, captura de Toledo; 1137, união de Aragão e Catalunha; 1139, Portugal é declarado um reino independente; 1230, união de Castela e Lião; 11236-1248, captura da Andaluzia; 1492, captura do reino muçulmano de Granada.

53 David B. Ruderman. Jewish Thought and Scientific Discovery in Early Modern Europe, 18.

54 Árabe, a língua do sagrado Alcorão e por isso, imutável no tempo.

55 David B. Ruderman. Jewish Thought and Scientific Discovery in Early Modern Europe, 19-20.

56 Podemos portanto dizer que o papel de Al-Ândalus em transmitir e introduzir a ciência islâmica ao Oeste foi verdadeiramente instrumental:

[…] the scholars of Islam had appropriated not simply Greek science [...] they had added the ancient Persian astronomical knowledge and the mathematics and astronomy of the Hindu Indian world. This process had largely taken place in the great days of the Abbasid caliphate at Baghdad and had seen a marvelous enrichment of the classical lore in the Near East by figures such as al-Battani and al-Khwarizmi. The intellectual dependence of Muslim Iberia on the Levant made inevitable the reception of such advances in the West and the peculiar social configuration of Al-Andalus facilitated their transmission to the Jewish and Christian worlds.

Bernard F. Reilly. The Medieval Spains. Cambrígia: Cambridge University Press, 1993. 123.