À GLÓRIA DO GRÃO-MESTRE DO UNIVERSO
E DO NOSSO PROTECTOR SÃO TEOBALDO
***********StellaCarbono***

Sentimento

Ven.’. P.’.M.’.
B.'. Pr .'. 1º Vig .'.
B.’. Pr.’. 2º Vig.’.
E demais BB.'. PPr.'., Visíveis e Invisíveis

Desejais saber que sentimentos experimentei e o que penso das provas a que fui submetida na noite da minha exaltação.

Pois bem, penso que foi posta à prova a minha capacidade de auto-domínio, para não ceder às emoções.

Levai em conta que eu era uma estrangeira entre membros de uma sociedade iniciática, a que cabe também chamar secreta, a viver por alguns dias com uma família de desconhecidos, e a participar com estranhos em rituais obscuros, a que não faltam símbolos demoníacos. Se alguma componente espiritual foi convocada para me permitir superar o terror que tal situação devia provocar, foi a fé. Tive fé, como continuo a ter, em que sois pessoas de bem.

Terror não senti, apesar de tudo me convocar a isso, porque já conhecia muito da maçonaria de um ponto de vista teórico e simbólico. Na prática, por muito ignorante, sabia que não me fariam mal. Em todo o caso, há em todos nós a preocupação de não fazer má figura. Sendo mulher, maior ainda a preocupação em demonstrar coragem e garbo guerreiro, já que a Carb.’. é uma sociedade de luta e não de entretenimento ou de especulação. Por falar em especulação, actividade própria dos espelhos, na prova do Speculum dei-vos o primeiro sinal de que estava a representar o papel da B.’. Pr.’., isto é, de que a coragem e o garbo não eram naturais, sim fruto de estudo, vontade e auto-domínio. Mas isso foi antes, no curso da elevação.

A maçonaria tem um catecismo e uma doutrina que começam a fazer cada vez mais luz no meu espírito. Em síntese, a instrução maçónica civiliza. Ela encara o homem como tronco grosseiro de uma árvore que é preciso educar, polir. Estes aspectos podem não ser entendidos pelos jovens, porque neste momento, nas democracias ocidentais, o cidadão tem acesso livre às escolas, de resto tem de cumprir dado número de anos de escolaridade obrigatória; porém ainda não há muito tempo as escolas eram escassas e maior parte estavam sob a alçada da Igreja, que impunha a sua educação própria, quantas vezes à força. Saibam entretanto os jovens que a maçonaria foi a grande obreira da abertura de escolas, laicização do ensino, admissão de mulheres à instrução e às urnas de voto, etc..

Uma vez conseguidos os seus objectivos, a maçonaria mantém a representação simbólica deles, o que pode parecer um anacronismo e já levou outros a considerá-la uma instituição ultrapassada. Mas o rito é isso mesmo: cristalização, imobilização no tempo de actos exemplares do passado. O que é necessário, além de manter vigilância sobre os objectivos já conquistados, é criar novas utopias e lutar por elas.

Reconheço que os passos simbólicos no Templo representam o caminho que é preciso percorrer e as escadas que é preciso subir para sair das trevas e alcançar a luz do Logos. O que está implícito no simbolismo é um processo civilizador. Às vezes pode parecer deslocado ou mesmo ridículo, porque para simbolizar uma ascensão não há necessidade de ascensor nem de escadas, mas reconheço na simbólica um propósito pedagógico e uma via de esclarecimento.

Ao solicitarem os MM.’. CC.'. que se desnude o coração, pretendem, não só avaliar as nossas intenções e conhecimento, mas também experimentar a nossa capacidade de baixar a cabeça. É penoso revelarmos a outrem os nossos sentimentos, mesmo quando não se trata de esconder ódio ou outras paixões vis, sim o amor. Por alguma razão a donzela fica corada ao ouvir declarações do namorado, e ela nunca as fará, a não ser, talvez, já depois de noiva e casada. Pode ser humilhante ou ferir o pudor a revelação dos sentimentos, porque são o que de mais íntimo e privado existe em nós. Revelar sentimentos é dar a outrem a nossa propriedade privada, por isso reduzir-nos à pobreza de espírito.

Qualquer um se protege destas eventualidades, dominando as paixões, refreando os desejos, não deixando transparecer os sentimentos. Noutras sociedades, como as budistas, procura-se inclusivamente o nirvana, que é um estado de tranquilidade absoluta, de que foram eliminadas as emoções.

Os MM.’. CC.'. querem saber se temos auto-domínio, se não vamos desmaiar de susto no meio de uma acção perigosa. Sem auto-domínio, facilmente o herói seria desarmado pelo inimigo, pois dar a conhecer o coração equivale a mostrar o quartel, o arsenal, as armas de que dispomos para ataque e defesa.

Meus queridos BB.’.PPr, de quem tenho muitas saudades, nas três rondas de provas a que me submetestes procurei sempre dominar-me, de modo a não sentir, para não verdes quanto o meu arsenal é pobre em munições. Por isso a razão esteve acima dos sentimentos. Não senti terror nem medo de vós, não vi serpentes na Câm.’. de Reflex.’., nem defuntos a sair das covas. Senti-me muito bem na Urn.’., apenas me incomodou o peso do Sol em cima do coração. Adorei as orações a Osíris e a confissão negativa, porque me são muito familiares esses discursos religiosos e já os usei em livros meus.

Acho que me ri em cima da escada de Jacob, e não foi caso para menos! Esse móvel tem de ser substituído por algo mais sério. O símbolo é uma estilização da realidade e não a realidade: basta um quadro com a imagem de uma escada, não é preciso levar para o templo o escadote com que os pedreiros andam a pintar o terceiro piso da casa.

P.’. M.’. e demais BB.’. PPr.’., Visíveis e Invisíveis, prometo polir mais a minha casca grossa, mas os rituais também precisam de ser podados. E sobretudo nós precisamos de uma causa grande e nobre para em união e harmonia lutarmos todos para a alcançar.

Vantagem e Boa Vida!

BBB

StellaCarbono, M.’.C.’.

Em algum lugar a Oriente do Templo de Jerusalém, a coberto de olhares pagãos e sob forte luz, terrível para os perjuros e traidores, tracei a presente Peça de Marcenaria, aos 16 sóis da 11ª Lua do ano da graça do nosso B.’.P.’. Senhor Jesus Cristo, de 2005

A.'.V.'.C.'.B.'.:: http://www.carbonaria.org
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