A MULHER NA MAÇONARIA:

DESDE O SÉCULO XVII
ATÉ NOSSOS DIAS

Esteva Maria Krinski

"QUANDO FORMARDES OS DOIS UM,
E O INTERNO COMO O EXTERNO,
E O ALTO COMO O BAIXO,
A FIM DE FAZER O MACHO
E A FÊMEA EM UM SÓ,
PARA QUE O MACHO NÃO SE FAÇA MACHO,
E A FÊMEA NÃO SE FAÇA FÊMEA,
INGRESSAREIS ENTÃO NO REINO".

(dito 23 do Evangelho segundo São Tomáz)
<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<<continuado de

Cagliostro registrou sua esposa, Laurenza, Grão Mestre de uma Loja adotiva feminina; são daí iniciadas várias damas da nobreza. Em 1786, Catarina II, imperatriz da Rússia, presidiu a Loja Clio, conforme cita Vera Facciolo, soberana Grã-Mestra da Grande Loja Arquitetos de Aquário, do Grande Oriente de São Paulo, em sua tese "A mulher na maçonaria", apresentada no V congresso Maçônico Internacional de História e Geografia, realizado no Rio de Janeiro em março de 1990. A controvertida figura do conde Calistro, ou José Bálsamo, como afirmam alguns historiadores, criou em Lyon em 1786, o rito egípcio da maçonaria andrógina, que teve a princesa Lambelle como primeira Grã-Mestre honorária.

A revolução Francesa foi brutal para os maçons, assim como para a princesa Lambelle que foi massacrada em 1792 na prisão da forca; outras permaneceram no cadafalso; uma grande parte imigrou. Não parece Ter havido lojas no período Jacobino, mas a partir do consulado elas se reconstituem. Deu-se uma grande importância a certa tradição, segundo a qual Josephine Beauharmais, membro de uma loja adotiva, tinha sido encarregada pelo seu segundo marido, Bonaparte, de reconstruir essas lojas. Tornado-se imperatriz, assistiu pessoalmente a iniciação da condessa de Canisy, sua dama de honra, numa assembléia que teve lugar em Estrasburgo no ano de 1810. A partir daí não mais existiram lojas femininas na França até 1810.

A criação de lojas femininas tornou-se tão presente depois de 1871, e desde então foi tão fortemente apoiada por certos maçons que ela suscita uma criação exemplar, o que vem a acontecer através de Marie Deraisme, nascida em 1828, em Bourbon. Marie Deraisme é uma excelente escritora com talento de oradora, e as belas frases tanto escritas como faladas surgem com facilidade. Esta faculdade permite-lhe servir com eficiência a causa feminista.

Na Segunda metade do século XIX, a emancipação da mulher é uma realidade, e é nesta corrente de pensamento que Marie Deraisme se envolve. Marie é convidada para fazer uma série de conferências no Grande Oriente. Ela ia recusar quando um artigo de um jornal, que criticava as mulheres de letras, lhe chama atenção. Indignada com a afronta do masculino contra o feminino, ela muda de idéia. Sua luta pela emancipação da mulher se estende por mais 20 anos.

Em 14 de janeiro de 1892, na loja "Les Libres Penseur", em Pec, na Normandie, Marie Deraisme recebe a luz maçônica, e no mesmo dia recebe os graus de companheiro e mestre maçom. A Grande Loja da França, ao tomar conhecimento deste fato, expulsou esta loja e seu Venerável Mestre, Obram. Dr George Martin, persuadiu este Venerável Mestre a fundar uma organização aberta a homens e mulheres, em pé de igualdade, juntamente com a escritora e jornalista Marie Deraisme. O Franco-Maçom, George Martin, Senador da República, que vinha trabalhando pela admissão da mulher na maçonaria, ofereceu sua ajuda a Marie Deraisme, que está resolvida a ver seu sonho realizado.

Esses três seres complementares reúnem seus conhecimentos para enfim, depois de tantos obstáculos criados por alguns franco-maçons, Marie Deraisme realiza sua grande obra; nasce oficialmente, em 04 de abril de 1893, a Grande Loja Simbólica Mista da França. A nova potência foi denominada "Le Droit Humain" (O Direito Humano). A escritora, Marie Deraisme fundou ainda a primeira loja feminista durável que levou o nome de "O Direito Humano"; é uma loja mista de rito Escocês, mas que só inicia mulheres.

Em Portugal, o boletim oficial do Grande Oriente Lusitano, registra em 1881, a existência em Portugal de uma loja de adoção, com o título de "Filipinas de Vilhena", aprovada pelo decreto nº 18 de 29 de dezembro de 1881, autorizando a instalação e regularização, sob os auspícios desse Grande Oriente, como filial 01 da loja "Restauração de Portugal". Essa loja teve vida agitada dentro da maçonaria, sendo expulsa deste Grande Oriente pelo decreto 9 de 10 de junho de 1883. Ingressaram então na nova Grande Loja dos maçons livres e aceitos de Portugal.

Esta loja feminista abandona a Grande Loja em 29 de outubro de 1884, indo a seguir, filiar-se à Grande Loja Departamentel de Fortaleza do Grande Oriente da Espanha, até que em junho de 1885, a Venerável é expulsa, acabando assim a agitada vida da 1ª loja de adoção de Portugal. Somente em 1904, é que voltam a aparecer lojas de adoção em Portugal, e pouco a pouco as senhoras conquistaram sua independência, passando a se organizar em lojas femininas independentes, tal como as lojas masculinas, com representação própria e nitidamente apoiada pela "Le Droit Humain" Francesa.

Em São Paulo, a 4 de janeiro de 1871, irmãos das lojas "Amizade", do Grande Oriente Beneditino, fundaram a loja feminina, "Sete de Setembro" da qual foi a primeira Grã-Mestre, Francisca Carolina de Carvalho.

Vera Facciolo, em sua tese, cita uma relação de nove lojas femininas, fundadas sob a jurisdição do Grande Oriente Unido, e que tiveram vida entre 1874 e 1903. Em Campos, a loja "Anita Bocaiúva"; no Rio de Janeiro, "A estrela Fluminense" e as "Filhas do Progresso"; em Curitiba a loja "Filhas de Acácia"; em Juiz de Fora a loja "As Filhas de Hiran"; em Bagé, "Fraternidade"; em São João da Barra (RJ) a "Perseverança"; em Barra do Itapemirim (ES), "Teodora". Dessas lojas, uma foi dissolvida, uma eliminada pela ordem, três simplesmente desapareceram, e uma teve o pedido de regularização indeferido, as três restantes foram dissolvidas e cassadas por ato de Grão-Mestrado em 25 de setembro de 1937. Segundo a Grã-Mestre Vera Facciolo, entre 1874 e 1903, existiu em Bagé (RS), a loja mista "Fraternidade", portanto pode-se afirmar que as lojas mistas do Rio Grande do Sul, existiam antes de 1937. Até este ano foi encontrado provas de tais lojas.

Em Porto Alegre, até 1937, havia uma loja mista denominada "Verdade e Justiça nº 659", trabalhava em um prédio na rua República, e era filiada a "Le Droit Humain", da França. Desapareceu durante o regime discricionário do Estado Novo. Ainda em Porto Alegre, a loja mista "Vanguarda"; em Santa Maria a loja "Aor"; em Santana do Livramento, trabalhava uma loja mista filiada ao "Direitro Humano", e "Lautaro". Quer nos parecer que estas lojas tiveram atividades até 1960. (os dados encontrados são vagos), contudo, segundo informa o maçom, José Jorge de S. Marques, que a A.R.L.S. Verdade e Justiça 659 "O Direito Humano", ainda funciona em Porto Alegre, sob os auspícios do O.M.M.I. - Le Droit Humain.

Em 1902, foi fundada nos Estados Unidos da América do Norte, a ordem Maçônica Mista Internacional "O Direito Humano", e em 1919, no Rio de Janeiro, foi fundada a loja mista "Ísis". A Federação Brasileira "O Direito Humano", filiada a Maçonaria Mista Internacional, "Le Droit Humain", foi fundada em 1929.

Na França, e em outros países, existem atualmente, lojas femininas masculinas e mistas. Em nosso país, as potências masculinas regulares não reconhecem as lojas femininas e mistas e no entanto, estas aceitam como regulares as potências masculinas. O Grande Oriente do Brasil, em 1940, suprimiu de sua legislação as lojas de adoção, ficando assim evidente a sua aceitação posterior.

Há mais de 75 anos, espalhadas pelo mundo, funciona a Ordem Internacional "As Filhas de Jó", para jovens filhas de maçons de 11 a 20 anos, desenvolvendo em seus núcleos um ritual puramente devocional (lunar).

Na atualidade o tema "Mulher na Maçonaria", tem sido assunto de muita controvérsia, muitas opiniões já foram publicadas pela Imprensa Maçônica, algumas favoráveis ao ingresso da mulher na maçonaria regular masculina, e, em grande maioria são opiniões contrárias a esse procedimento.

A revista "Acácia", dedicou em várias edições, artigos de profundidade sobre o tema, alguns assinados por respeitáveis irmãos maçons.

Comentários de alguns autores:

Friedrich Nietzche, em "Oeuvres Posthumes" (Mercure de France, 1934, 156p) vê na mulher emancipada uma masculinidade, uma degeneração dos instintos femininos que arruínam seu poder.

A Grande Loja da Suíça, publica em seu nº 30, de Cayer bleu, que a mulher deve possuir seus próprios rituais, correspondentes à sua sensibilidade.

Em Paris, a loja Heptágono, elabora um ritual baseado nos ritos da tecelagem, com a simbólica das tramas e dos entrelaços.

A maçonaria de 1717, só pode refletir em suas constituições de 1723, um sentimento geral de servilismo da mulher, em um século puritano, dependente de seu marido ou de seu tutor. Ela não é livre no sentido jurídico.

Dentro desta incompreensão André Bousine define esse aporte feminino em "La Franc-Maçonnerie Anglo-Saxonne et les Femmes". Seu texto é abundante de ensinamentos, tirados de suas próprias fontes, dos rituais, das conversas e de sua freqüência nas lojas. Em sua tese de doutorado de história, sustentado em Dijon, a 22 de janeiro de 1990, conservou mais que o pensamento tradicional, o aspecto ao mesmo tempo espiritual e histórico, baseados em valores iniciáticos, que particularmente nos Estados Unidos, se inscrevem em um contexto sociológico, no respeito de usos e costumes de um país. O maior interesse desta obra é traçar um paralelo entre as lojas de adoção Francesas do século XVIII, e nossas lojas femininas atuais, face as lojas feministas Inglesas e Americanas.

Esta matéria foi publicada originalmente no nº 4 de 1995 da edição Francesa L'Initiation.

"O progresso em nossos dias estabeleceu entre homens e mulheres, igualdade de direitos sociais, políticos e jurídicos. Poderá este novo status influir para a reconsideração de uma posição que faltam as bases tradicionais que colocavam a mulher sob a dependência e a tutela do homem?"

(Por
Anatoli
Olynik
Dyn)

A.'.V.'.C.'.B.'.:: http://www.carbonaria.org/vendas/vendas60.htm
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