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BOLETIM DO NCH
Nº 15, 2006
Dedicado a Pedro da Silveira

MANUEL LOPES, ESCRITOR
– UM CABO-VERDIANO NOS AÇORES
Urbano Bettencourt

INDEX

Sumário
Summary
Manuel Lopes
Bibliografia
Cartas de Manuel Lopes

CARTAS DE MANUEL LOPES (1)

Horta, 2 – Abril – 1954
Amigo e Senhor F. Lima

Saudações. Seguem Esc. 30$00 relativos aos 5 exemplares – 1.ª remessa – do livro de Borges Garcia (2). Os outros livros (Borges Garcia, Albergaria (3), Eduíno [de] Jesus (4) já foram entregues à livraria. Vou preparar uma nota sobre eles. Se não a escrevi ainda – e nem ainda agradeci aos autores que muito cortesmente me enviaram os livros – é por ter andado excessivamente atarefado com vários afazeres, entre eles os últimos retoques a uma longa e fastidiosa novela – Chuva Braba – (coisa para 200 páginas) que por esta semana ficará concluída, isto é, em condições de ser entregue a um dactilógrafo...

Pedia-lhe a fineza de saber na Livraria Bureau de Turismo Terra Nostra (5) se os meus livrecos estão vendidos e informar-me pelo Mesquita. Muito agradecido.

Amigo às ordens

Manuel Lopes

 

Horta, 7 Abril 1954
Amigo Senhor Fernando Lima

Por lapso da pessoa que levou a minha última carta ao Correio, a transferência não se fez na devida altura. Esta serve para confiar o Vale Postal de 30$00.

Agradecimentos, saudações

Manuel Lopes

NB. Peço-lhe o favor de confirmar a recepção pelo Mesquita. [termo ilegível]

 
Horta, 8 de Setembro de 1954
Prezado Amigo Sr. Fernando Lima:

Antes de mais nada os meus agradecimentos pelo amável envio dos exemplares de A Ilha com a transcrição do capítulo da minha novela Chuva Braba (6). A referida novela deve dar um volume de 250 páginas. De formato normal, ou um pouco mais. Já está pronta e só espera que algum editor se comova... Estou agora trabalhando uns contos e uma outra novela que formarão outro volume: O galo que cantou na baía ( quatro contos e uma novela ).

Tenho andado tão absorvido com essas ficções, tão preocupado com a sorte dumas pobres personagens que quase não dei pela acumulação de livros (conto neste momento vinte e cinco por ler) e que se foram acumulando sem eu dar por tal.

Também agradeço-lhe o envio de 18$00 relativos aos livros vendidos pelo Bureau Terra Nostra. Vou-lhes escrever pedindo a devolução dos livros não vendidos.

Outro assunto. Por esta mala remeto-lhe três exemplares da revista Actualidades de Lourenço Marques. Um exemplar é para si. Peço-lhe o favor de entregar os dois às redacções de A Ilha e do Diário dos Açores ou outro jornal que entender; é favor conseguir que digam alguma coisa e informar-me depois o número onde vierem publicadas as referências. Mande algum artigo para essa revista por meu intermédio; colaboração paga – enviar-lhe-ão directamente 100$00 ou 120$00 por artigo. Querem que eu seja um representante em todos os Açores. Haverá possibilidade de assinaturas ou vendas aí? Quem poderá encarregar-se da colocação de alguns exemplares em Angra? Pode indicar-me? Arranje-me colaboradores: Vasconcelos Moniz (7), Eduíno [de] Jesus, Borges Garcia, etc... Devo receber brevemente boletins de assinatura.

Desculpe todo este arrazoado. Seu amigo às ordens,

Manuel Lopes

 

(1) Agradeço à família de Fernando de Lima a cedência das três cartas. Na transcrição, desenvolvi as abreviaturas do original.

(2) Eduíno B. G. Membro do Grupo d’ A Ilha , jornal em que publicou reportagens, crónicas, alguns poemas e a série de quatro (polémicos) artigos reunidos no volume Por uma Autêntica Literatura Açoriana (1953), a que se seguiria ainda um quinto artigo sobre o assunto, já em 1954. A sua ficção foi publicada postumamente sob o título de Ilhéus, Portugas e os Outros (Lisboa, Salamandra, 1995).

(3) Jacinto Soares de A. Poeta e um dos fundadores do CLAQ. Nos anos 50, e com Eduíno de Jesus, fundou em Coimbra a Colecção Arquipélago, dedicada à edição de autores açorianos. Em 1958, foi o responsável pelo aparecimento e coordenação da revista Açória .

(4) Poeta, dramaturgo, ensaísta, membro fundador do CLAQ. Nos anos quarenta, muito jovem ainda, assinou n ’A Ilha ensaísmo literário de largo fôlego e grande qualidade. Obra poética reunida em Os Silos do Silêncio (Lisboa, Imprensa Nacional, 2005).

(5) Posto de informação turística fundado por João da Silva Júnior, mas funcionando também como livraria. Silva Júnior foi, aliás, um jornalista a quem o grupo d’ A Ilha muito ficou a dever em termos de cumplicidade e de divulgação literária. Foi um dos fundadores da revista Ínsula , em 1932.

(6) Excertos do capítulo 5 de Chuva Braba foram publicados n’ A Ilha em 25/7/1954.

(7) Eduardo V. M. Membro do Grupo d’ A Ilha e do CLAQ. Emigrou para Porto Alegre, Rio Grande do Sul (Brasil), onde veio a ser assassinado. Deixou contos dispersos. Deve-se-lhe a divulgação da Literatura açoriana naquele Estado, graças ao contacto com o, então, jovem Luiz Antonio de Assis Brasil, hoje Professor na Pontifícia Universidade Católica de Rio Grande do Sul e investigador que se tem dedicado ao estudo e orientação de teses sobre a Literatura açoriana.

Urbano Bettencourt – Departamento de Línguas e Literaturas Modernas, Universidade dos Açores. Rua da Mãe de Deus. Apartado 1422. 9501-801 Ponta Delgada Codex.