MARIA AZENHA:
O mar atinge-nos

INDEX

  1. Auto-Retrato 
  2. As  palavras  (a Luís Serrano)     
  3. As  mãos (a Amélia Pais)
  4. Hoje, falaram-me de amor
  5. A Rosa de El Saron (a Henrique Dória)
  6. A noite, candeia frágil
  7. Quase tudo foi escrito
  8. Há fotografias como punhais
  9. Cercam-te as águas
  10. Depois da chuva
  11. As ruas e as avenidas
  12. Soubesse
  13. Abril
  14. Balada para um nome
  15. Talvez
  16. Desde que a luz se fez artificial
  17. Nem sequer podemos ficar tristes
  18. Cercou-se de  luz e cântaros  (a Gabriela Rocha Martins)
  19. Há lembranças que matam
  20. Chuva  marítima
  21. Um bosque negro de luz
  22. Ontem e hoje, Mãe! (a Branco de Oliveira)

A Rosa de El Saron

e eu que aprendi quase tudo e nenhuma coisa
sobre a vida e sobre a morte
sobre os rostos que me rodeiam
e alguns deles me atiraram pedras ao coração

quando à luz da noite me deito
extasiada pelas chamas do fogo
que me consumiram as mãos
já não sinto dor:
estou dentro dos teus olhos.

faço parte dessas longas chamas
como de uma confidência
esperando que apareça o outro Sol
e não pergunto ao mendigo como se sente
nem ao cego como vê nem ao que não anda
porque ficou na estrada
eu própria me converto no mendigo e no cego
e no que ficou preso aos seus próprios pés.

por isso sonho descobrir todas as estrelas
que me cairam do firmamento
e faço parte como vós dos raios da aurora
das cores imensas do arco-íris e do vento
das montanhas das serras
dos ecos e das visões
dos misteriosos rios que passam pelas aves e pelos homens
do desfile admirável das formigas
que me arrancaram as lágrimas e agora correm
como tesouros guardados na terra em areia húmida

desejo ver-me reflectida nos olhos das crianças
contemplar a minha irmã palmeira que voou da minha infância
para ficar aqui junto a vós no meio da página
onde vamos explodindo todos juntos na poeira

tudo isto sinto quase ninguém vê
e não pergunto nada
de cada encontro guardo um tesouro
e devolvo-o porque se mudou para o nosso comum destino
ao vaguearmos pelas praias com seus antigos náufragos

e o que encontrei é como um pássaro antes do amanhecer
a Rosa de El Saron que não conhece Ocaso

inclinando-se a teus pés na palavra mais doce

Maria Azenha nasceu em Coimbra .
Licenciou-se em Ciências Matemáticas pela Universidade de Coimbra .
Exerceu funções docentes nas Universidades de Coimbra, Évora e Lisboa.
Exerceu actividade docente no Quadro de Nomeação Definitiva na Escola de Ensino Artístico António Arroio.
Escritora. Membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE) .
Está representada em Antologias de Poesia:
.MADRUGADA 2,3 (Edição do Movimento de Escritores Novos 1982,1983);
.ANUÁRIOS DE POESIA 1,2 , 3 e 4 (Assírio & Alvim, 1984,1985,1986,1987);
.ÁGUA CLARA (Edições Património XXI, 1988);
.HORA IEDIATA (Hora Extrema) (Edições Átrio, 1989);
.100 ANOS(Federico Garcia Lorca), (Universitária Editora ,1998)
.VIOLA DELTA (Edições Mic, 14º Volume 1989);
.ANTOLOGIA de HOMENAGEM a CESÁRIO VERDE (Edições da Câmara Municipal de Oeiras, 1991);
.SIMBÓLICA 125 Anos (Ateneu Comercial do Porto, 1994).
.REVISTA DE ARTES E IDEIAS,nºs 4/5 (Alma Azul,2002)
.25 POEMAS NO FEMININO, (Edição da Junta de Freguesia da Penha de França,2001)
.GABRAVO,(Artdomus, S. Pedro de Sintra,2002)
.POVOS E POEMAS(Universitária editora,2003-edição bilingue)
.NA LIBERDADE,(Garça editora,2004) homenagem de poesia aos 30 anos do 25 de Abril
.ANTOLOGIA / PABLO NERUDA,( Universitária Editora, 2005)
. POEMA COLECTIVO “ O Fulgor da Língua”, projecto inserido nos eventos de COIMBRA, CAPITAL NACIONAL DA CULTURA.(2003/2004)