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MARIA AZENHA
Dezassete poemas com pássaro dentro
14. quando acordei

quando acordei já não estava
ao colo de minha mãe.
tinham fechado as janelas da casa.
as portas eram agora grandes muralhas.
e eu sentada sobre uma pedra
fiquei para sempre do lado de fora.
muito alto muito alto o tecto
traça o gesto que destrói
as estrelas de há milénios.

há um punhal cravado no jardim da sala
onde minha mãe me pegava ao colo.

para não ouvir os gritos das gotas de água
que caem ainda hoje das torneiras
desço os degraus da chuva.
não paro de descer.

e num ritual muito antigo e sábio
acendo uma vela

espero a solidão de deus no incenso a arder...

 

maria azenha