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MARIA AZENHA
Dezassete poemas com pássaro dentro
6. quase sempre estou cega

não
não me iludo
o que aparece quando escrevo
é uma sombra de acenos distantes
cores que se vão formando no meu sangue
árvores carregadas de frutos ou imagens
que os olhos trouxeram de longe

quase sempre estou cega,
a minha bagagem é o nulo.

vozes muitas vozes

mais além as aves que voavam
acalentam este meu coração cansado.
de tanto se amarem morreram também.


não posso crer em nada

inútil o meu desespero de não tocar
a palavra capaz de destruir o silêncio
gerador do poema

inútil.

se um dia me virem chorar
é porque a encontrei.


maria azenha