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MARIA AZENHA
Dezassete poemas com pássaro dentro
17. abril está a chegar

vinte e cinco poemas
vinte e cinco navios
vinte e cinco palavras
ao cair lento da tarde

gente que vem e vai
que semeia a terra com sol
gente com flores nos dentes
com um farnel de pássaros ao ombro
e um cajado herdado de nossos pais

gente que canta e dança com as gaivotas
sempre a treinar sempre a dançar
no sonho de se transformar em mar

vinte e cinco navios
vinte e cinco poemas
nos teus olhos pretos

vinte e cinco lanças deitadas ao luar


de cada vez que vais de cada vez que partes
vinte e cinco folhas atiradas ao vento
vinte e cinco navios que apascentam o mar
vinte e cinco traços riscados na sombra
vinte e cinco gritos atirados à espuma
uma candeia acesa na mão das bruxas
com vinte e cinco pedras às costas
para cantar

vinte e cinco poemas
que caem a pique nas ruas

vinte e cinco crianças à roda
de mãos dadas com as cidades do mundo
abril não volta abril está à porta
e eu digo: até breve
para que o sol subindo a liberdade
anseie beijar vinte e cinco bocas
cheias de fome

com vinte e cinco pedras dentro
com vinte e cinco poetas
com vinte e cinco navios
com vinte e cinco músicas no rio


meus olhos estão húmidos
a verdade não se amarra
nas escolas nos países
em toda a parte do mundo

dizem e lembram
que abril está a chegar

abril são as tuas lágrimas que eu enxugo
abril é o mundo.


maria azenha