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ANNABELA RITA
Persistência da Memória

(Universidade de Lisboa)
(MRPB - Missão para o Relatório sobre o Processo de Bolonha)

 

Abertura

Do lugar:

A capa

O título

A epígrafe

A citação: entre clareza e dissimulação

A capa

As capas são os lugares mais óbvios da obra. Quando a citação neles ocorre, dá-se no título ou na imagem.

Começo por me ocupar da imagem.

Normalmente, as capas tomam na sua imagem a totalidade ou um fragmento de uma obra, em geral, alheia e pictórica (mas também fotográfica, escultórica, etc.), procurando captar a atenção e criar e orientar expectativas de leitura.

Vejamos o caso de Que sinos dobram por aqueles que morrem como gado? , de Rui Nunes (1). A gravura de Francis Bacon reproduzida na capa inscreve o literário em problemáticas que o excedem e que atravessam a modernidade estética:

. a figura humana e as suas sombras colocam a questão da reflexividade;

. a obsessão auto-retratista baconiana torna incontornável o problema do auto-retratismo e do auto-conhecimento;

. o desenho baconiano impõe a distorção compositiva.

A imagem promove, pois, as expectativas de leitura correspondentes: a reflexão (no duplo sentido do termo), o auto-retrato e a distorção.

A capa ostenta, assim, uma imagem que sinaliza, através da problemática da representação e da representação problemática, os domínios da estética e da epistemologia onde a escrita se informa, remetendo-nos para eles.

 
(2) Edição utilizada: a de Lisboa, Relógio d'Água, 1995. Sobre este assunto, reflecti mais longamente em " Este apagar-se intensamente luminoso de Rui Nunes", Colóquio-Letras (143/144), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, Janeiro-Junho de 1997, pp. 237/243, ensaio que integra o vol. II de No Fundo dos Espelhos , a publicar no Porto, nas Edições Caixotim, ainda em 2004.