SUBSÍDIO PARA O CATÁLOGO DA TRATADÍSTICA ANTIGA (ATÉ 1800)
DE ALQUIMISTAS ESTRANGEIROS E
SEUS CONTRADITORES, EM CIRCULAÇÃO EM PORTUGAL (2)
Manuel Gandra


GEBER (c. 721- c. 815)

Pai das alquimias árabe e europeia. Muito influenciado pelo misticismo shi’ita. Considerado a mais importante fonte da alquimia medieval. Ocupa-se do problema clássico da geração dos metais a partir do mercúrio e do enxofre. A numerologia talismânica é fundamental à sua doutrina da Pedra Filosofal. O auge da difusão de Geber foi atingido quando um tradutor exercendo o seu mister em Espanha, durante o século XIII, encetou a adaptação latina de todos os textos alquímicos que lograva alcançar, colocando-os sob a tutela de Geber Rex Arabum. Geber ora é identificado com Yabir ben Hayan, ora com Yabir Ben Aflah. As notícias mais antigas a seu respeito são-nos facultadas por Ibn Umayl e Ibn Wahsiyya.  Citado por Manuel Bocarro Francês.

Obra:

Summa Perfectionis. Magisterii in sua natura; Ex Bibliothecae Vaticanae Exemplari undecunq; emendatissimo edita, cum vera genuinaq; delineatione Vasorum & Fornacum. Deniq; libri Investigationis Magisterii & Testamenti ejusdem Gebri, ac Aurei Trium Verborum Libelli, & Avicennae. Summi Medici & acutissimi Philosophi Mineralium additione Castigatissima, Veneza, 1542 Edição feita com base num manuscrito da Biblioteca Vaticana com o objectivo de corrigir as interpretações vulgares da Alquimia. À clareza e sistematização das formulações teóricas acrescenta uma particular precisão na descrição das operações de laboratório, sempre ilustradas com reproduções dos principais instrumentos técnicos. Além da Suma da Perfeição, inclui: Liber Trium Verborum Kallid acutissimi (p. 235), De Congelatione et Conglutinatione Lapidum, de Avicena (p. 245), Avicenae Mineralia, cujusdam Epistolae quae Alexandri Macedonum Regis nomine circumfertur, Interpretatio abditam Philosophici lapidis, compositionem sapientissimus acutissime declarans (p. 254), Authoris ignoti, Philosophici Lapidis Secreta, metaphorice describentis Opusculum (p. 261), Merlini Allegoria, profundissimum philosophici Lapidis Arcanum perfecte continens (p. 265), Rachaidibi, Veradiani, Rhodiani et Kanidis Philosophorum Regis Persarum, de Materia Philosophici Lapidis acutissime colloquentium fragmentum (p. 270), Faustus Sabeus ad Lectorem (p. 278). Reedição: Dantzig, 1682 [PNMafra: 2-37-2-33]. Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 189-487 [PNMafra: 2-32-3-26] e Manget, v. 1, p. 519.

Bibliografia: DARMSTAEDTER, Ernst, Die Alchimie des Geber, Berlim, 1922; HOLMYARD, E. J., The Identity of Geber, in Nature, 111 (1923), p. 191-193; idem, Geber - Works, Londres, 1928; KRAUS, P., Studien zu Jabir Ibn Hayyan, in Nature, 15 (1931), p. 7-30.

 

GERHARDI, João

Ver Manget, v. 1: Analysis Partis Praticae.

 

GERMAIN, Cláudio

Ver Manget, v. 2, p. 845: Icon Philosophiae Occultae.

 

GERNANDI, João

Ver Manget, v. 1, p. 568: Exercitationes perbraves in Gebri.

 

GLAUBER, Johannes Rudolphus (1604-1670)

Iatroquímico. Residiu em Viena, Salzburgo, Frankfurt e Colónia antes de se estabelecer em Amesterdão, onde se dedicaria ao comércio de preparados químicos medicinais. Descobriu o Sal de Glauber.

Obra:

Furni Novi Philosophici, sive Descriptio Artis destillatoriae novae, 1650 Ilustrado;  Pharmacopoea Spagyrica, [...] partes tres, 1654-1657;

De Auri Tinctura sive Auro potabili vero, 1658;

Operis mineralis pars prima [...] Item Panacea sive Medicina Universalis antimonialis, ejusque usus, 1657;

Operis Mineralis pars secunda, de Ortu et origine omnium Metallorum et Mineralium, quo scilicet pacto illa per Astra producantur ex Aqua et Terra corpus sibi suspiciant et multiplici forma formentur, 1652;

Operis Mineralis pars tertia, in qua Titulo Commentarii in libellum Paracelsi Coelum Philosophorum sive Liber Vexationum dictum metallorum transmutatione in genere docentur [...], 1652;

Miraculum Mundi, 1653 Ilustrado. Trata do Menstruo universal que cura e preserva de todas as doenças, que provoca o crescimento dos vegetais de forma incrível e que transforma os metais imperfeitos em ouro puro; 

Tractatus de Medicina Universali, sive Auro potabili vero, 1658;

Tractatus de Natura Salium, 1659;

Tractatus de signatura Salium, Metallorum et Planetarum, 1659.

 

GRASSEI, João

Ver Manget, v. 2, p. 585: Arcani artificiossimi.

 

HARTMANN, João

Autor de Opera Omnia Medico-Chymica (Frankfurt, 1684 [PNMafra: 1-18-5-11]).

 

HELVETIUS (pseud. Johann Frederich Schweitzer) (1625-1709)

Em 1649 praticava medicina na Holanda, sendo médico do príncipe de Orange. Autor de Vitulus Aureus (ver Manget, v. 1, p. 196-210), onde reporta o diálogo com Elias Artista, em 1666, quando este realizou transmutações na sua presença. Impresso em Haia (1667) e reproduzido no Museum Hermeticum (Frankfurt, 1678) e no The Hermetic Museum Restored and Enlarged (Londres, 1893). Editor de Opuscula De Alchimia: Complura Veterum Philosophorum,  s.l., s.d. [Frankfurt, 1650] [PNMafra: 2-32-6-3]. Inclui: Semita Semitae, de Arnaldo de Vilanova (fl. 69), Tractatus de Tinctura Metallorum, de Avicena (fl. 75), Compendium animae Transmutationis, tractatus chymicus (fl. 92) e Vade mecum artis compendiosae, sive de tincturis compendium (fl. 153), ambos atribuídos a Raimundo Lúlio.

 

HELVETIUS, Jean Adrien (1661-1727)

Autor de: Tratado das mais frequentes enfermidades, e dos remédios mais próprios para as curas: obra de grandíssima utilidade, não só para médicos, cirurgiões e boticários, mas para todos os pais de família, e pessoas curiosas, que ainda sem dependência dos professores de medicina, guiados só pela claresa do seu método se poderão socorrer a si mesmo na maior parte das suas enfermidades [...]. Acrescentado com um numerosíssimo catálogo de plantas medicinais com os seus nomes próprios em português, latim e francês (trad. por António Francisco da Costa), Lisboa:, Oficina de Miguel Rodrigues, 1747 [BN: SA 10346 P; PNMafra: 2-30-9-13] Edições francesas: Paris, 1703 e 1739. Nesta obra indica as propriedades do pó de Ipecacuanha por si introduzido na farmacopeia francesa, o que lhe havia de valer uma gratificação de 1000 luíses de ouro; Principia Physico-Medica in Pirorum Medicinae, Frankfurt, 1754, 2 vols. [PNMafra: 2-30-9-14/15].

 

HERMES TRISMEGISTO

O primeiro indício do conhecimento do Corpus Hermeticum na Europa, mais concretamente na Península Ibérica, remonta ao séc. X. A Tabula Smaragdina, supostamente descoberta no túmulo de Hermes, foi então, e pela primeira vez, usada como colofon de um livro de alquimia, o Sirr Al-Jaliqa ou Kitab Al-´Ilal, o qual fez a sua aparição no Al-Andalus durante o califado do omíada Al-Hakam II (f. 976). Traduzida para latim pelo bispo hispânico Hugo de Santalla, seria difundida por Alberto Magno, ao incorporá-la no De Rebus Metalicis et Mineralibus. D. Afonso V possuía na sua biblioteca um Hermes, aliás a única fonte citada nos dois tratados sobre a pedra filosofal que se lhe atribuem. Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 2, p. 1-81: Sete Capítulos [PNMafra: 2-32-3-26], Hortulanus e Manget, v. 1, p. 380 e 400.

 

HERTODT, João Fernando

Ver Manget, v. 2, p. 697: Epistola contra Philalethem.

 

HYDROLITHUS SOPHICUS

Ver Musaeum Hermeticum Reformatum: Seu Aquarium sapientum.

 

HOFFMANN, Frederico

A este médico se deve um misto em partes iguais de éter e álcool concentrado conhecido sob a designação de licor anódino mineral de Hoffmann, ainda hoje utilizado pela farmacopeia.

Obra:

Opera omnia Physico-Medica, Génova, 1740 [PNMafra: 1-18-2-1 / 4];

Operum omnium Physico Medicorum Supplementum, Génova, 1749 [PNMafra: 1-18-2-5];

Supplementum secundum, Génova, 1753; [PNMafra: 1-18-2-6 / 7];

La Médicine Raisonnée, Paris, 1743-1751, 9 vols. [PNMafra: 2-30-6-12 / 20];

Les vertus medicinales de l´eau commun [...], Paris [PNMafra: 2-31-2-18 / 19].

 

HOGHLANDE, Teobaldo de

Ver Manget, v. 1, p. 336: De Alchimiae Difficultatis Liber.

 

HORTULANUS

Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p. 1-12: comentário à Tábua de Esmeralda [PNMafra: 2-32-3-26].

 

JOHNSON, William

Ver Manget, v. 1, p. 217: Lexicon Chymicum (edição príncipe: Londres, 1660, 2 tomos).

 

JUAN DE RUPESCISSA, de Ribatallada ou de Rocacelsa

Frade menor, mestre, doutor e catedrático de Teologia em Barcelona e missionário em Moscovo (Historia de los Heterodoxos, v. 1). É considerado um dos expoentes máximos do pensamento hermético. Escritos proféticos e críticos da Igreja estiveram na origem da sua prisão, em 1357, por ordem do Papa Inocêncio VI. Muito citado nas miscelâneas sebastianistas sob as designações de João de Rocacelsa, Frade Bento e “ínclito profeta de S. Bento” (Inácio de Guevara). Num códice manuscrito dos inícios do século XV, proveniente de Portugal e ofertado a Marcelino Menendez Pelayo, acham-se obras químicas que lhe são atribuídas (ver Ramón de Luanco).

Obra:

Liber Lucis, in Theatrum Chemicum (v. 3, p. 284-294) e Manget (v. 2, p. 83-87) Situa-se entre a profética joaquimita e a alquimia. Afirma na introdução que são de esperar grandes perseguições patrocinadas pelo Anticristo, que os eleitos de Deus cairão em grande pobreza e que a Pedra Filosofal será revelada. Influenciou os Tratados de Afonso, Rei de Portugal. Citado in Ennoea.

De consideratione Quintae Essentiae, Basileia, 1597 Distingue-se das obras contemporâneas, porquanto não se preocupa com o fabrico de ouro ou prata, mas da confecção do elixir da vida, ou de um método destinado a prolongar a vida e a impedir a putrefacção. A sua quintessência é o álcool, cuja extracção a partir dos metais expõe. Trata especialmente da quintessência do antimónio que coloca a par do aurum potabile. Talvez o mesmo tratado que existiu na biblioteca de Dom Duarte.

De Confectione veri Lapidis philosophorum, in Verae alchemiae artisque metallicae citra aenigmata (ed. G Gratarolus), Basileia, 1561 (v. 2, p. 226-230) e Manget (v. 2, p. 80-83) Declara que a matéria da pedra filosofal é uma água viscosa que se encontra em toda a parte, mas que se, porventura, fosse nomeada revolucionaria todo o mundo.

Bibliografia: HALLEUX, R., Les ouvrages alchimiques de Jean de Rupescissa, in Histoire Littéraire de la France, v. 41 (1981), p. 241-284.

 

KALID

Ver Manget, v. 2, p. 183 e 189: Liber Secretorum e Liber Trium Verborum.

 

KIRCHER, Atanásio

O Colégio Romano tornar-se-á a sua residência definitiva, leccionando aí, a partir de 1638, a Matemática e as línguas orientais, entre outras disciplinas. No período compreendido entre 1647 e 1678 (ano a partir do qual e até ao fim da vida a sua preocupação maior serão os exercícios espirituais), definitivamente liberto de obrigações pedagógicas e tendo encontrado, por fim, a estabilidade e os meios para prosseguir as suas investigações, o Doctor Centium Artium, epíteto que alude muito justamente ao número surpreendente de disciplinas e temas que examinou, dedicou-se quase exclusivamente à redacção da maior parte da cerca de meia centena de volumes e opúsculos a cuja passagem a letra de forma assistiu ainda. Mundus Subterraneus, (Amesterdão, 1665, 2 vols. [PNMafra: 1-20-12-1 / 2]), não oferece dúvida foi a sua obra mais larga e extensivamente divulgada e estudada em Potugal, muito propalada e glosada, mormente por quantos se dedicaram à especulação sobre as verdadeiras causas dos terramotos. Na doutrina dos pirofilácios (ou do fogo subterrâneo latente), aí consignada, encontraram inúmeros autores, não obstante o impacto da Filosofia Natural dos Modernos, o fundamento físico plausível para o terramoto de 1755. É o caso, entre númerosíssimos outros, de Bento Morganti (Carta de hum amigo para outro em que dá succinta noticia dos effeitos do terramoto succedido em o primeiro de Novembro de 1755 com alguns principios Fisicos para se conhecer a origem, e a causa natural de similhantes Phenomenos terrestres, Lisboa, 1756), do autor anónimo da Relação do Grande Terramoto que houve na Praça de Mazagam (1756) e de Veríssimo Moreira de Mendonça (Dissertação Philosophica sobre o terramoto de Portugal do  primeiro de Novembro de 1755, Lisboa, 1756). Convém, no entanto, não esquecer que a mesma obra foi alvo de refutações pertinentes, como a exposta por Joaquim Moreira de Mendonça na História Universal dos Terramotos que tem havido no Mundo [...] com huma Narração Individual do Terramoto do primeiro de Novembro de 1755 [...] e huma Dissertação Physica sobre as causas geraes dos Terramotos, seus effeitos, differenças e Prognosticos, e as particulares do ultimo (Lisboa, 1758). A mais significativa e detalhada delas, porém, foi apresentada por Anselmo Caetano de Abreu Gusmão Castelo Branco, em Ennoea ou Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal (Lisboa, 1732-33), e dirigida contra a opinião advogada por Kircher de não ser viável a crisopeia ou transmutação laboratorial dos metais, conquanto aceitasse a possibilidade da mesma transmutação na natureza.

Bibliografia: GANDRA, Manuel J., Atanásio Kircher (1602-1680), Doutor das Cem Artes: ecos portugueses, Mafra, Centro Ernesto Soares, 1977 [aliás 1997]

 

KIRCHWEGER, A. J. (f. 1746)

Autor da Aurea Catena Homeri (Frankfurt, 1723), ou Escada das coisas criadas, a partir do caos até à formação da Quintessência Universal. São conhecidas três traduções desta obra, uma latina (Favart) e duas francesas: por Dufournel (impressa em 1772) e por Sitandré (ms.). A Catena Aurea Homeri, também intitulada Annulus Platonis (1781), circulou nas Academias de Lisboa e, em particular, na de D. Leonor Almeida Portugal de Lorena e Lencastre, 4ª marquesa de Alorna, imortalizada por Filinto Elísio com o nome arcádico de Alcipe.

Bibliografia: LÉVÊQUE, Pére Aurea Catena Aurea Homeri: une étude sur l’ allégorie grecque, in Annales Littéraires de L’ Université de Besançon, v. 27 (1959); LOVEJOY, Arthur O., The Great Chain of Being: a study of the History of an Idea, Cambridge, 1936; HEYM, Gerard, The Aurea Catena Homeri, in Ambix, v. 1 (1937), p. 78-83.

 

LAMBSPRINK

Autor de De Lapide Philosophico, Frankfurt, 1677 [FacCienciasLisboa] (edição príncipe: 1625). Ver Musaeum Hermeticum Reformatum: De lapide Philosophorum Figuræ et Emblemata.

 

LANGELOTTUM, Joel

Ver Manget, v. 1, p. 168-192: De Metallorum Transmutatione.

 

LANIS, Francisco Tertii

Autor de Magisterium Naturae et Artis (Brixiae, 1684-86 e Parma, 1692, 3 vols. [PNMafra: 1-20-1-3 / 5]).

 

LAVINIUS A MORAVIA, Venceslau

Ver Bibliothèque des Philosophes [Chymiques], v. 1, p. 232-235: Tratado do Céu Terrestre [PNMafra: 2-32-3-26].

 

LÉMERY, Nicolas

Médico e químico, discípulo de Glazer. Autor do Cours de Chymie, contenant la manière de faire les opérations qui sont en usage dans la Médecine, par une méthode facile (Paris, 1690), obra que contou mais de três dezenas de edições. Trad. castelhana: Curso Chimico, Madrid, 1721 (D. Félix Palácios Baya) [PNMafra: 1-18-10-14]. Citado in Ennoea. A Pharmacopea Ulyssiponense, galenica e chymica, que contem os principios, deffiniçõens e termos gerais de uma e outra Pharmacia (Lisboa: Pascoal da Silva, 1716. [BN: SA 9619 P]) de João Vigier (1662-1723), comerciante de drogas francês radicado em Lisboa desde os finais de seiscentos, foi a primeira obra de química farmacêutica impressa em Portugal, apesar de não passar de uma tradução quase integral do Cours de Chimie de Nicolas Lémery. Inclui, além dele, um Tratado da eleição, descrição, doses e virtudes dos purgantes vegetais e das drogas modernas de ambas as Índias e Brasil e um vocabulário latino e português de todas as drogas animais, vegetais e minerais. Contém estampas representando equipamentos de laboratório de química.

 

LIBAVIUS, Andreas (1560-1616)

Doutor pela Universidade de Wittenberg, com o título de Poeta Laureado (1581), e logo professor em Iemerau. Em 1586 StadtRector em Coburg e, no ano de 1588, estudante de Medicina em Basileia, onde se graduou. Foi o primeiro a referir-se à transfusão sanguínea. Professor de História e Poesia na Universidade de Iena. Apesar de, por vezes, atacar os paracelsianos, a sua obra é uma fonte preciosa para o conhecimento da medicina hermética. Manuel Bocarro Francês cita uma obra cujo título grafa Syrraxi (Anacephaleoses da Monarquia Lusitana). Na D.O.M.A. Alchymia Triumphans de injusta in se Collegii Galenici Spurii in Academia Parisiensi Censura (Frankfurt, 1607), obra suscitada pelas censuras da Academia de Medicina de Paris, publica modelo de um laboratório de Química com suas diferentes dependências e aparelhos.

Obra:

Praxis alchymiae [...], Frankfurt, 1604 [BUCoimbra] Descreve processos, produtos e a “casa química” (laboratório). Ver Manget, v. 2, p. 700;

D.O.M.A. Syntagmatis selectorum undiquaque et perspicue traditorum Alchymiae Arcanorum tomi duo, Frankfurt, 1613 e Petrikopfi, 1615, 1 vol. em 2 tomos [PNMafra: 1-18-8-8] Outras edições de Frankfurt, 1605;

Appendix necessari syntagmatis arcanorum Chymicorum [...], Frankfurt, 1615 [PNMafra: 2-51-13-10 = Proibido decreto 18 Maio 1618];

Examen Philosophiae Novae, Petrikopfi, 1615 [PNMafra: 2-51-13-11 = Proibido por decreto de 18 Maio 1618] Referências a Paracelso, Rosa Cruzes, etc.;

 

LUDOVICE DE COMITIBUS

Ver Manget, v. 2, p. 759: Turba Semiraminis Hermetica Sigillata; De liquore Alchaest et Lapide Philosophorum; De Maceratensis Philosophiae ac Medicinae Doctoris.

 

LULL, Raimundo (c. 1235-1316)

O Doctor Illuminatus foi um dos mais influentes filósofos do seu tempo, motivo por que o seu nome acreditou diversos tratados alquímicos, hoje considerados apócrifos. O seu método filosófico inspirou a constituição da Arte luliana ou Arte da Memória, a qual se funda nos nomes e qualidades ou “dignidades” de Deus, como Criador. Tais dignidades são a causa dos fenómenos. Uma lenda conta que Lúlio foi usado por Eduardo III de Inglaterra para fabricar ouro. Lúlio teria tentado convencer o soberano a financiar uma cruzada com o produto do seu labor. Encerrado na Torre de Londres por se recusar a cooperar com o monarca que o desiludira, logrou escapar, não sem antes haver ensinado os segredos da Arte a um abade de Westminster. Ramon de Luanco atribui a Raimundo de Tárraga (1370) e a um judeu, Raimundo Lullius (c. 1440), todas as obras de teor alquímico que correm com o seu nome (M. Caron e Serge Hutin, Les Alchimistes, Paris, 1959, p. 31). Do vigor assumido pelo lulismo em Portugal é testemunho o Livro da Corte Enperial (Porto, 1910), Gil Vicente (cf. António José Saraiva, p. 320-324 e 342-343 e Stephen Reckert, Cavalaria, Cortesia e Desmi(s)tificação: o modelo ibérico, in Cavalaria Espiritual e Conquista do Mundo, Lisboa, 1986, p. 27), manuscritos como os intitulados Compendium artis demonstrativae; Ars philosophiae; Liber propositionum super artem demonstrativam; Ars inventiva; De quaestionibus volumen artis Raymundi Lulli [BN: cod. alc. 203], do cisterciense Frei Isidoro de Ourém (Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, v. 2, Lisboa, 1935, p. 843-844), o Tractatus de Divina Providentia, iuxta mente rectissima Ill.ti B.ti D.di Lulli (1740-1743) [BBraga: ms. CXXIII/1-18, fl. 1-52], de outro cisterciense, o Padre António Raimundo Pasqual (que se carteava com Cenáculo Vilas Boas, a quem enviou este tratado), bem como as posições filosóficas de Frei Manuel do Cenáculo (1724-1814), o qual publicou anonimamente: Advertencias criticas e apologeticas sobre o juizo que nas materias do B. Raymundo Lullo formou o dr. Apollonio Philomuso, e comunicou ao publico em a resposta ao Retrato da morte-cor que contra o auctor do Verdadeiro Methodo de Estudar escreveu D. Aletophilo Candido de Lacerda (Valência, 1752 e Coimbra, 1752). Sousa Viterbo publicou o documento (1431) de emprazamento de umas casas na freguesia de Santo Estevão de Lisboa, em que uma das testemunhas é um tal “Adriam, mestre darte de Raymonde” (Dicionário dos Architectos, v. 3, p. 156-157). Citado por Manuel Bocarro Francês e in Ennoea. Ver Opuscula de Alchymia, p. 92 e 153.

Obra:

Liber de secretis naturae seu de quinta essentia D. Duarte possuía esta obra considerada apócrifa, bem como o Livro da Corte Imperial na sua livraria (Livro dos Conselhos, cap. 54, Lisboa, 1982, p. 206-207); 

Anima Artis Transmutatoriae, supra Testamentum, Codicillum et Vademecum et Lapidarium [Oxford, Bodleian Library: Corpus Christi College, ms. 244] A primeira referência a este apógrafo foi feita por Avelino de Jesus da Costa (Geórgicas de Virgílio, in Humanitas, 1956. Parece ter derivado de outro apógrafo enviado de Portugal, porquanto após o Amen final, lê-se (fl. 131): “Finivit Raymundus Magnus istum libellum in Monte Pessulano, regnante rege Roberto, anno ab incarnatione domini 1321. Deo gracias. Deo gracias. Deo gracias. Et sic finitur prescriptus, secundum exemplum quod habui a Portugalia. In Anglia, inveni aliud exemplar, in multis a prescripto diversum, et utrumque istorum excedit alterum in multis et alterum exposit; ideo conscribentur” [“Terminou R. Magno este opúsculo em Mompilher, no ano 1321 da encarnação do Senhor. 3 Graças a Deus. E assim acaba o que atrás foi escrito, conforme o exemplar que recebi de Portugal. Na Inglaterra achei outro exemplar que difere frequentemente do anterior e qualquer deles excede o outro em muitas coisas e expõe outras. Por conseguinte far-se-á a transcrição de todos”]. A letra do ms. permite datá-lo do séc. XIV-XV. O seu autor cita o Codicilo, o Testamentum e o Vademecum, constantemente, e mais raramente o Lapidário, escreve em honra e glória de Deus e para revelar o que os filósofos seus antecessores deixaram na sombra e para completar a filosofia natural, no que respeita à transformação dos metais imperfeitos e à produção das pedras preciosas. Domina o idioma catalão e é um perfeito conhecedor da costa marítima do Sul de Portugal. Ao descrever a maneira de fabricar pérolas com certas conchas, afirma (fl. 131): “nisi in Cipro, prope civitatem Famaguste, et in regno Portugalie, prope civitatem ulisbonensem, in ripa maris, et in quadam Villa que dicitur Camra [Tavira ?], et in alio loco qui dicitur portus Silvensis et ad latus, usque ad Sanctum Vincensium de fine mundi: Vidimus, enim, omnia ista, dum in Anglia transivimus, propter intercessionem domini regis Edwardi illustris”. Ver Manget, v. 1, p. 707-910.

Bibliografia: CAEIRO, Francisco da Gama, Frei Manuel do Cenáculo: aspectos da sua actuação filosófica, Lisboa, 1959; idem, Revivescências setecentistas do lulismo em Portugal, in Actas do I Congresso Nacional de Filosofia, Braga, 1955, p. 607-612; CRUZ HERNÁNDEZ, Miguel, El Pensamiento de Ramon Lull, Madrid, 1977, p. 311 e 377; ESCOBAR, Ig. J., Raymundo Lullio, 1839 (trad. H. I. R. C.); Ramon Lull, considerado como Alquimista, Barcelona, 1870; HILLGARTH, J. N., Ramon Lull and Lullism in 14th Century France, Oxford, 1971; LLINARÉS, A., L’ Idée de la nature et la condamnation de l’ alchimie d’ après le Livre des Merveilles de Raymond Lulle, in La filosofia della natura nel Medioevo (Actas do III Congresso Internacional de Filosofia Medieval, 1964), Milão, 1966, p. 536-541; MARTINS, Abílio, A literatura árabe e a Corte Imperial, in Brotéria, v. 26 (1938); idem, A filosofia de Raimundo Lúlio na literatura Portuguesa, in Brotéria, v. 39 (1942); MARTINS, Mário, Uma obra apócrifa de Raimundo Lulo, in Estudos de Cultura Medieval, v. 3, Lisboa, 1983,  p. 181-186 [sobre o ms. 244 da Bodleian Library, no Corpus Christi College (Oxford)]; PONTES, J. M. da Cruz, Estudo para uma edição crítica do Livro da Corte Enperial, Coimbra, 1957; idem, A controvérsia com os muçulmanos e as fontes árabes do Livro da Corte Enperial, in Monumenta, v. 3, 1967, p. 43-49; Raimundo Lulo, o Colégio de Miramar e Portugal, in Itinerarium, n. 96-97 (Abr.-Set. de 1977), p. 195-196; RIERA, Juan, Las Polemicas lulistas y el Consejo de Castilla (1750-1765), Madrid).


CONTINUA