O SEGREDO DEBAIXO DE UMA PEDRA
José Manuel Anes 

 

Umberto Eco, na sua obra Os Limites da interpretação refere a  ambiguidade constitutiva da Alquimia, centrada em dois polos, a alquimia prático-operativa e a alquimia simbólica, assentando a primeira na busca da transmutação metálica - procura realmente produzir ouro, e representou um modo, embora ingénuo e pré-científico, de interrogar a natureza, de vê-la como coisa viva e lugar de possíveis transformações, escreve Eco- enquanto que a segunda, segundo ele, se move a nível puramente metafórico, representando uma das manifestações da gnose hermética. Este filão simbólico seria místico, esotérico e hermético e não teria nenhum valor científico e encerraria apenas fantasias de regeneração e transfor-mação espiritual .

Embora Eco produza, neste trabalho algumas considerações judiciosas sobre a alquimia, não o poderemos seguir no que diz respeito à distinção radical entre as duas alquimias, pois a sua nomenclatura leva a pensar que a alquimia operativa está isenta de símbolos e a simbólica isenta de operatividade - o que desmentido por muito tratados alquímicos e, em particular pelo ENNOEA. Também não poderemos acompanhar este autor no que concerne à simbólica alquímica, a qual, como veremos, não é totalmente polissémica, nem completamente aleatória como Eco parece sugerir.

A pesar de este autor salientar - muito acertadamente, ele que, no entanto, não é um especialista da Alquimia - que o momento operativo e o momento simbólico andaram sempre a par e passo, ele quer, no entanto, dizer apenas com isso que eles coexistiram historicamente, não admitindo Eco que esses dois "momentos" estivessem presentes, ao longo da história da Arte de Hermes,  num mesmo alquimista, a não ser, como ele refere,  excepcionalmente, no caso de muitos alquimistas simbólicos contemporâneos, como o misterioso e celebrado Fulcanelli, os quais prosseguiram práticas operativas. De facto - contrariamente ao que muitos alquimistas contemporâneos afirmam, tentando extrapolar rectroactivamente a sua visão iniciática da alquimia -, concedemos que é difícil sustentar que todos os autores alquímicos de antanho tenham visado uma prática mística, esotérica - gnóstico-hermética -, de transformação espiritual. Isso é sobretudo claro numa certa alquimia do século XVII e XVIII, quando ela, segundo Betty Dobbs, até aí assente em especulações místicas (.) muito fortemente orientadas para a expeculação interior, passa a receber uma influência calmante do racionalismo e da nova filosofia mecanista. No entanto, estes dois momentos propostos por B. Dobbs, não são mutuamente exclusivos: a alquimia racionalizada dos séculos XVII e XVIII apresenta ainda algumas características místicas, como é o caso de muitos tratados alquímicos e como é o caso do ENNOEA do nosso Castelo Branco, onde estão presentes, como veremos, quer um discurso racional quer um simbolismo onírico.

É por vezes referida, como uma indicação do carácter iniciático - de transformação pessoal - de um determinado livro alquímico, a advertência que é feita pelo adepto relativa às condições espirituais prévias à Obra. O que acontece é que essas indicações podem constituir , por parte do alquimista, apenas sinais de temência a Deus, do qual depende o êxito da Obra e, por outro lado, conselhos de preserverança e de paciência, essenciais a um trabalho tão longo, não constituindo por si sós, provas do carácter vincadamente místico da obra - o que não quer dizer que esse carácter esteja necessariamente ausente.  O caso do ENNOEA parece não constituir excepção, mesmo quando o autor refere a necessidade da solidão - que também é escola, pois os divertimentos solitários são estudos- eventualmente encontrada nos bosques (próximos da sua Soure natal), onde se acha Deus .

De facto, na Parte Segunda desta obra, diz o autor que só aos Adeptos, que são, e forem, perfeitos, e justos concederá Deus esta grande ciência; porque a sabedoria não entra no entendimento dos homens maus, nem preservera no corpo dos pecadores. Por isso mesmo, Deus remunera esses homens - sejam eles cristãos, ou não, como o gentio Hermes, o mouro Geber e o hereje Paracelso10   -  com as utilidades da Crisopeia, e outros bens temporais, para satisfazer os seus merecimentos, pois se eles não tiveram estas virtudes, não os remuneraria Deus com estes prémios11 . Anselmo Caetano continua a enumerar, pela voz de Enodato - que dialoga "hermeticamente" com Enódio - as outras qualidades do Filósofo Hermético, o qual, segundo ele, Há-de ser homem de claro entendimento, profundo juízo, subtil discurso, grande compreensão, e bom engenho; e porque isto só não basta, deve ser também perito na língua latina, consuma-do na Filosofia, inteligente na Matemática, e versado na lição dos livros Químicos, para que o estudo aperfeiçoe o entendimento, e o entendimento ilustrado alcance grandes segredos com a subtileza do juízo, e os reduza à prática com o bom engenho. Além de todas estas qualidades há de ter indústria, constância riqueza, prudência, sossego, paciência e segredo porque (.) em nenhuma coisa devem os Adeptos ser mais acautelados, do que em ocultarem os segredos com que obram12 .

E mesmo na justificação do segredo alquimico, nunca Anselmo Caetano evoca razões iniciáticas ou místicas - tais como as que são explicitadas hoje pelos cultores da moderna alquimia operativa, mesmo que operativamente tradicional13  - antes enumera razões que têm a ver com a dificuldade  das operações - a razão deste misterioso segredo é, porque as operações da Arte Magna são muito dificultosas, e não podem os homens explicar-se com palavras, quando as coisas são muito difíceis14  - e outras que têm a ver com questões de preservação do segredo por motivo de segurança de todos - para que ficando estas operações duvidosas, não sejam inquiridas, nem averiguadas por homens ignorantes, e malignos, que executem com elas grandes maldades (.) para que os Herméticos inventores, e descobridores deste segredo não ficassem obrigados a satisfazer os danos, que causariam ao Mundo todos aqueles Tiranos, e Poderosos, que abusassem de tão ambiciosa potência, e tirania15 . Daí, ainda, a necessidade (devido à natureza dificultosa do assunto e devido à conveniência de protecção da Obra) de uma linguagem críptica, de natureza simbólica: se os Adeptos não a descrevessem com enigmas, e metáforas, e sonhos, e fábulas, poderia ser conhecida a matéria da Crisopeia, e preparada a Pedra Filosofal pelos rústicos, e ignorantes16 . Note-se que aqui, Anselmo Caetano invoca uma razão utilitária (e não iniciática) para a utilização so simbolismo: o afastamento dos (perigosos) ignorantes. No entanto, ele refere ainda uma razão última para a manutenção do segredo - mesmo para os que têm condições para encetar a Obra - e que consiste na exigência do esforço individual nesta via operativa. Mas para aqueles que, hoje, verão facilmente aqui uma indicação de tipo iniciático, o autor de ENNOEA menciona com singeleza a necesidade de que o Adepto tenha em grande apreço a sua Obra: Bem sabeis, que vos não posso revelar a matéria da Pedra Filosofal, senão em segredo; e para o segurar mais, quero que vos custe algum trabalho, porque os homens não estimam senão aquilo, que pelo seu trabalho adquiram17 .

Interessante é, sem dúvida, a referência ao tradicional preceito de Imitação da Natureza. Diz Anselmo Caetano: (.) a Arte Magna para fazer a Crisopeia deve imitar nas suas operações a Natureza18 .  Uns verão, nesta asserção uma indicação de cariz iniciático, uma via de comunhão com a Natureza, certamente inscrita na tradição alquímica, que tem um forte registo de transformação dessa mesma Natureza - longe portanto de uma atitude passiva e submissa. Mas não será legítimo ver nela apenas uma estratégia operativa eficaz para levar a bom terno a Obra Grande? Cremos que sim.

Para terminar esta breve introdução ao carácter iniciático (ou ao carácter não iniciático) do ENNOEA, referiremos uma passagem que, para um psicanalista como Bachelard terá uma conotação evidentemente sexual, mas que para alguns jungianos constituirá prova bastante da individuação alquímica, em busca do andrógino filosofal (assim como para um cultor da chamada alquimia interna será uma clara revelação do arcano): na geração dos Metais, o Enxofre é como a matéria seminal paterna, e o Mercúrio é como a matéria com que concorre o sexo feminino para a geração do feto, as quais ambas juntas formam no útero um só, e perfeito corpo. E daqui se segue que esta matéria é uma só coisa19 . Mas não constituirá apenas esta descrição uma alegoria biológica da união alquímica dos dois princípios, enxofre e mercúrio?  

Interessa agora ver que tipo de discurso realiza Anselmo Caetano, ao tratar Da matéria com que os Herméticos fazem a Pedra Filosofal (ou a matéria com que os Herméticos formam o Lapis, para . fazer a Crisopeia). Será  (na hipótese simplicissima20  de H. Eco) um discurso do tipo operativo, ou será um discurso do tipo simbólico - por enigmas, e metáforas, sonhos, e fábulas, como diz Enodato, questionado por Enódio? No que diz respeito à discussão da verdadeira matéria de que o Lapis se forma - a primeira coisa  que deveis conhecer, e averiguar, diz Enodato -, o autor de ENNOEA utiliza uma argumentação de uma racionalidade transparente, naturalmente no quadro das concepções alquímicas da época.

Na discusão da matéria com que os Herméticos fazem a Pedra Filosofal, Anselmo Caetano - revelando um notável conhecimento das vias e dos materiais alquímicos, citando autores como Geber/Al-Djabir, Filaleto, Raimundo Lúlio, Alberto Magno, Bernardo o Trevisano, Basílio Valentim e Becher - começa por rejeitar os vegetais - como o spiritus vinii lulliani, o vinho vermelho, ou branco de (pseudo) Raimundo Lúlio - e os animais - como o espírito de urina -, pois como diz Enodato, ainda que estes menstruos têm o seu uso na Química, na Alquimia eles não têm nenhum préstimo, pois são incapazes de dissolver radicalmente o Ouro, isto é, de reduzi-lo à primeira matéria de que foi formado, separando os princípios do metal mais fixo e mais perfeito21 . Refira-se que esta distinção entre Química e Alquimia, apenas subalterniza a primeira face à segunda, mas não exclui o trabalho químico da Obra alquímica, já que Anselmo Caetano aconselha mesmo, ao alquimista, o estudo prévio dos livros de Química22 , embora afirme que mais se aprendia nos bosques do que nos livros, sobretudo naqueles livros onde se acha muita ignorância do homem23  - uma vez que será preciso estudo, experiência e paciência (.) para ler tantos autores, a fim de conseguir realizar com êxito esta Filosofia (.) sumamente dificultosa24 .

Do mesmo modo e pelas mesmas razões, são rejeitados o Salitre  e o Vitríolo, ambos, segundo ele, totalmente imprórios  e inúteis. Postos de lado os minerais, falta considerar os metais. Primeiramente, são discutidos o Arsénico - no sentido literal, que é rejeitado, já que no sentido enigmático, os Adeptos chamam Arsénico Filosófico à Matéria da sua Pedra Filosofal25  -, o Antimónio - embora as Crisopeias de alguns Herméticos são fabricadas com o Antimónio, ou Stibio26 , Enodato afirma que de nenhum modo podereis tirar dele a matéria da nossa Obra27  - os quais são também rejeitados, pois Todas essas matérias, ou Minerais, são impróprios por serem sujeitos à corrupção, introduzida nelas pela actividade do fogo28 . Mas, por outro lado, também o Ouro, e a Prata, que no seu centro é Ouro29 , não são próprios para a Obra, pois o Ouro tem  uma natural e fortíssima composição, e não sofre nenhuma calcinação, por não ter Enxofre combustível, como têm os outros metais30 . Ou seja, enquanto que uns são rejeitados por serem demasiado vulneráveis ao fogo, o Ouro é rejeitado, pelo contrário, pela sua invulnerabi-lidade ao fogo. A racionalidade, no quadro da alquimia, é perfeita.

 Então, Anselmo Caetano continua uma discussão racional tendente a demonstrar não só o que afirmou anteriormente, mas também para justificar outras posteriroes escolhas para a matéria do Lapis. Diz ele pela boca de Enódio - que primeiro tinha perguntado se esta matéria se tira de um só, ou de todos os metais31 -: a matéria, que buscamos, é o cálido inato, e o húmido radical dos Metais32 , ou pela boca de Enodato:  a matéria do Lapis não se tira de toda a substância metálica, senão da primeira matéria radical, que em todos os metais é igualmente a mesma33 . Porquê? Porque, quer o cálido inato, quer o húmido radical dos metais, são incorruptíveis e resistem à maior actividade do fogo3. Trata-se de procurar obter a matéria radical dos metais - tema central na teoria da Alquimia -, de os reduzir à sua primeira matéria3 - núcleo imponderável aos olhos da moderna físico-química - para conseguir que todos  os metais  imperfeitos se possam converter em outros36 . Conseguir-se-à isto, a partir de qualquer metal?

Enódio refere que Todos os Adeptos confessam que esta matéria se acha, ou se tira de coisas vis, ou de pouca estimação, e Enodato confirma que temos muitos sujeitos de que tirar a Pedra Filosofal37 . Então, para além dos já rejeitados, a matéria vil - comparando-a com o valor, que depois adquire por benefício da Arte Magna38  - também não se pode tirar do Chumbo e do Estanho, por serem Metais impurissimos, e imundos na sua raiz, ou no princípio da sua criação; porque é tão impura a sua essencial substância, sendo ambos destituídos de substância fixa, que permaneça constantemente no fogo, sendo apenas dotados de substância volátil 39 . Ora, é esta substânia fixa, a  verdadeira Matéria  da Obra.

Apesar de conterem imundices, Enodato/Castelo Branco aceita o Cobre, o Ferro e o Mercúrio, pois deles se pode tirar mais facilmente a Matéria da Pedra Filosofal, sobretudo no Mercúrio - como diz Geber sobre este assunto, o autor que Anselmo Caetano mais cita, aqui e em outras partes do ENNOEA. A razão reside no facto de, embora diversos na sua forma acidental, ou aparente, eles serem, na substância radical (.)  essencialmente o mesmo sujeito metálico40 . Por esse motivo, aconselhado por Enodato, Enódio afirma estar resolvido a trabalhar no Azougue, pedindo-lhe, agora, que ele lhe ensine a preparar a Crisopeia4.

Enodato avisa logo que Nenhum Filósofo explica claramente ess preparação, porque não é lícito falar nesta matéria com muita clareza42 . Contudo ele menciona, logo no começo da sua discussão, que é necessário efectuar sobre o Mercúrio, uma separação no corpo do Mercúrio para dele tirar a matéria da Pedra Filosofal, uma vez que o Azougue, ficou tão infeccionado pelo pecado original mineral, que se ocultam nele duas imundices, uma de natureza terrestre e outra de natureza líquida. No entanto, como essa lepra,que mancha o corpo do Mercúrio, não procede da sua raíz, nem se identifica com a sua substância, (.) só acidentalmente se une com ele, e facilmente se pode separar pela Arte43 . Assim, separa-se a terra, por banho húmido, e pela ensaboadura da Natureza, enquanto que a água se separa por meio de um banho seco e calor benigno, de tal modo que, com três lavações e purgas se renova o Dragão, despindo as escamas, e antigas conchas44 .  Parece estar aqui uma referência às laveures de Nicolas Flamel45 , o que, eventualmente, apontaria para uma via com Mercúrio e Antimónio46  (que seria animado pelo Mercúrio, através das Pombas de Diana, ou Águias de Filaleto), "via de amálgamas" que é mencionada por Betty Dobbs47 , a propósito dos trabalhos alquímicos de Newton, e que um praticante português revelou "caritativamente"48 . Outra hipótese seria  a Obra do Mercúrio e do Sol, em que se utiliza Mercúrio e Ouro (ou Prata); há quem refira, também, uma "obra só com Mercúrio"49.                                          

No Diálogo Terceiro da Parte Segunda do ENNOEA, são referidos, ainda mais enigmativamente, os arcanos relativos ao Mercúrio Filosófico e à sua preparação. Aqui o "discurso" é, progressivamente, mais enigmático, mais hermético, e o emprego das alegorias e dos símbolos passa a ser dominante, se não mesmo exclusivo. Estamos pois na senda do discurso simbólico de que nos fala H. Eco, mas que aqui coexiste, num mesmo autor e numa mesma obra, contrariamente ao que ele afirma (aceitando apenas excepções em alquimistas do século XX).

Começemos pelos seguintes três enigmas alquímicos:

 - . a matéria da nossa é o ninho onde nasce, e se cria a nossa Águia . é a chave mestra, que abre as portas do Palácio encentado  da Natureza50 

 - Ainda que esta matéria não entra na Obra, serve de meio para alcançar, e conhecer a matéria que nela entra. Esta é composta dos quatro elementos51 

- Esta matéria tem corpo, alma, e espírito, porque é filha do espírito universal52 

Não é agora, a ocasião de proceder a uma análise exaustiva da via operativa do ENNOEA (nem sabemos sinceramente se, nesta fase, tal será possível, na totalidade), pelo que apenas veremos, por alto, a estrutura da sua Obra Grande. Mas é importante referir, antes disso a sua concepção de Espírito Universal - em consonância total com a tradição alquímica -, o qual será uma substância puríssima, penetrantíssima, (.) impalpável, invisível e imperceptível (.)  que desce do Céu empíreo para os mixtos,e que sobe do centro de terra, comunicando-lhe as suas virtudes, e embebendo-os, se faz corporal, constituindo assim o Sal, que é a primeira matéria de todo o composto. Na verdade, esse Espírito Universal  - na verdade o Pai da Pedra Filosofal - é idêntico (mas multiforme) em todos os mixtos, sendo a quinta essência da Natureza, contendo os três princípios, que são a mesma substância radical: o enxofre, ou fogo natural, o mercúrio, ou húmido natural e o sal, ou seco radical , que liga os outros dois. 53 

Voltando ao Mercúrio Filosófico, Anselmo Caetano diz-nos que ele é a Matéria do Lapis, depois do seu nascimento (isto é, quando o cálido e o húmido, estão unidos perlo seco). Os sucessivos nomes que (ela, matéria, ou ele, mercúrio) vai tomar - o Mercúrio, o Enxofre, etc. - são estados da matéria, que resultam dos graus de calor  que o Mercúrio teve na  digestão - os quais serão "explicados" no parágrafo IV deste Diálogo Terceiro do ENNOEA. Assim sendo, o Mercúrio e o Enxofre serão qualidades diferentes, resultantes de diversos graus digestão de uma só matéria54 . Então, Quando pela força do fogo se destila a humidade radical, juntamente com ela se destila o seu natural calor que tem cor de Ouro (.) o Ouro Filosófico - denominado Enxofre, Alma, ou Ouro, porque a sua cor parece Ouro.

É agora a altura de mencionarmos um relato sumanente simbólico que, longe de se referir a experiências místico-esotéricas, parece referir-se a experiências bem tangíveis de natureza operativo-laboratorial. Trata-se do Casamento hermético do Leão com a Águia, o qual introduz aquilo que vai ser discutido no parágrafo seguinte. Vejamos as suas partes mais importantes (que satisfarão, eventualmente, a imaginação de algum psicanalista, ou jungiano):

Tomai a Virgem com asas, lavada, limpa, e prenha da Seminal, e espiritual matéria do primeiro contacto masculino, ficando ilesa a glória da sua virgindade, com as faces tintas de roxo; ajuntai-a com o segundo sujeito masculino sem suspeita, nem perigo de adultério; e por fim parirá um venerável fruto de ambos os sexos, do qual sairá uma imortal prosápia de poderosíssimos Reis (.) Nestes ajuntamentos de que faço menção, tudo é puro, sem mancha de vício: não se perde a virgindade, nem se comete adultério. Juntai pois a Águia com o Leão, e escondei-os no seu claustro diáfano, com a porta muito bem tapada, para que não saia por ela a sua respiração, ou lhe entre o ar estranho. A Águia acometendo o Leão, o despedeçará e o comerá. E logo adormecerá com um profundo, e dilatado sono, inchando-lhe tanto o estômago, que feita hidrópica, se converterá com admirável metamorfose num Corvo muito negro; este perdendo paulatinamente as penas, principiará a voar, e com o seu vôo se remontará tanto, que sacudirá sobre si mesmo água das núvens, até que ficando molhado dispa de boa vontade as asas, e descendo por falta delas, se converta em um branquíssimo Cisne 55 .

Sem pretender fazer a exegese completa deste texto - parecido, aliás, a outros textos de autores clássicos que referem as bodas alquímicas do enxofre e do mercúrio -, a qual necessitaria de ser vista também  à luz daquilo que Anselmo Caetano escreve adiante, quando refere os graus de digestão,  parece-nos não ser de excluir a hipótese de que a Virgem com asas, seja o Mercúrio, ou Azougue o qual ao sublimar-se, voa - o que segundo Filaleto é uma Águia -, podendo transportar com ele um Ouro, intrínseco (a sua semente radical) ou extrínseco (o Ouro "vulgar"). Este é o fundamento da "via das amálgamas"

Através da discussão dos meios e extremos da Crisopeia e das quatro digestões Herméticas, expõe Anselmo Caetano a Obra alquímica que propõe e segue. Desde logo, os meios operativos, ou Chaves da Obra Grande, - que vai do Mercúrio Filosófico e dos Metais Perfeitos até ao Elixir Perfeito - os quais poremos em correspondência com os meios materiais  ou  diversos graus, e com os meios(ou sinais demonstrativos, na realidade as cores sucessivas da Obra):

1º) - Dissolução  ou Liquefacção: a) redução dos corpos à sua primeira e antiga matéria, na verdade uma "reincrudação" dos corpos cozidos; b) congresso do macho e da fêmea, que conduz ao corvo negro; c) separação dos quatro elementos contidos na Pedra (quando retrocedem as luminárias).

Corresponde também ao 2º. meio material (depois do Mercúrio Filosófico e dos  Metais Perfeitos): os quatro elementos que circulam até se fixarem.

O Nigredo - a confusão dos elementos que surge no fim da liquefacção - é também o 1º meio demonstrativo, a Cabeça de Corvo, que marca o princípio da primeira negridão, a corrupção ou putrefacção (que dispõe para a geração).

Corresponde, ainda à primeira digestão (que é feita com CALOR BRANDO) - o congresso do macho e da fêmea, a mistura das matérias seminais, a dissolução do corpo e a resolução dos elementos em Água homogénea (o Caos tenebroso, o Tenebroso abismo).

2º.) - Lavação: faz do Corvo Negro, um Cisne Branco, de Saturno, faz nascer Júpiter, o rei dos Deuses (símbolo da conversão do corpo em espírito).

2º. Meio ou sinal demonstrativo - cor Branca (o Cisne): - onde se dá a perfeição do primeiro grau e do Enxofre branco, também denominado Terra bendita, Terra foliata, onde os filósofos semeiam o seu Ouro.

Corresponde ainda à 2ª. Digestão, onde o Espírito do Senhor anda sobre as águas (começa a fazer-se luz, separando as águas das águas); renova-se o Sol e a Lua, faz-se uma Nova Terra e um Novo Céu. Dá-se a espiritualização de todos os corpos, os Corvos negros dão origem às Pombas brancas. O espírito ígneo que desce em forma de água, procede a  regeneração do mundo.  A Águia e o Leão abraçam-se num eterno e íntimo abraço.

 - Segundo escreve o autor de ENNOEA, nas duas últimas obras anteriores: o Dragão exercita a sua grande crueldade consigo mesmo, pois tragando a sua cauda, todo se engole e se converte em Pedra

 - Diz ele, também, que é necessário obrar com grande advertência, para que se faça a separação das águas com o peso, e medida, de sorte que as águas que ficam debaixo do Céu, não afoguem a terra, e as que sobem ao Firmamento, a não desamparem de modo, que fique seca.

3º.) - Redução: restitui a alma à Pedra desanimada, sustentando-a com leite orvalhado e espiritual, até que tenha perfeito vigor

Corresponde, também, à 3ª. Digestão, a qual dá de beber à terra, que acaba de nascer, leite orvalhado, e todas as virtudes espirituais da quintaessência (.). Então esconde a terra em si um grande tesouro, primeiramente semelhante à luz resplandescente - a Terra da Lua -  e depois, ao Sol rubicundo - a Terra do Sol .

Corresponde aos 3º e 4º. meios demonstrativos que são, respectivamente: a cor Amarela (a Aurora) -  marca  a transição entre o Branco e o Vermelho e anuncia os cabelos dourados do Sol - e a cor Vermelha escura (o Enxofre so Sol, Esperma masculino, Fogo da Pedra, Coroa Régia, Filho do Sol) - que se tira da Branca, pelo fogo.         

4º.) - Fixação: fixa um e outro enxofre - 3º) meio material, que marca o fim da primeira Obra -, sobre o seu corpo fixo, mediante o espírito; isto é feito, cozendo os fermentos por seus graus (amadurecendo as coisas crtuas e dulcificando as amargas)

Corresponde, também, ao 4º.) meio material: fermentos produzidos sucessivamente pela ponderada mistura das sobreditas coisas, e, também, à 4º. Digestão - que aperfeiçoa todos os Mistérios do Mundo, e converte a terra em excelentíssimo fermento que fermenta todos os corpos imperfeitos.

Este último meio operativo - que marca o fim da primeiro trabalho da Obra Hermética -, continua a cozer os fermentos por seus diversos graus, derretendo,  penetrando  e tingindo, de tal modo que gera o Elixir, e depois exalta-o56 . Na verdade, a Pedra  exalta-se por graus - até chegar à sua última perfeição -,  com sucessivas digestões (quatro) que, na realidade, são os "regimes de fogo" de Filaleto.

O autor de ENNOEA, comenta a Obra que acaba de expôr, em linhas gerais, com as seguintes afirmações, que constituem os segredos operativos (debaixo da pedra):

Toda a fabrica da Obra Filosófica não é outra coisa mais que dissolver e coagular: dissolver o corpo e coagular o espírito (.) Pela redução se fixa o corpo volátil em permanente corpo, e a Natureza volátil ultimamente passa a ser fixa, do mesmo modo que a fixa tinha passado a ser volátil.57 

 -A produção da Pedra dos Filósofos é como a criação do mundo, porque é necessário que tenha o seu caos, e a sua matéria prima, em que nadem confusos os elementos, até que separados pelo espírito ígneo, e que seja elevada a parte leve desta separação para cima, e a grave seja precipitada para baixo. Nascendo a luz, desaparecem as trevas: ajuntando-se as águas em um lugar, aparece a terra seca ou árida. Finalmente saem sucessivamente os dois Luminares grandes, e produzem as virtudes Minerais, Vegetais, e Animais na Terra Filosófica58 .

 - A criação da Pedra Filosofal é por todas as cirscunstâncias semelhante à de Adão, porque do corpo terrestre e grave dissoluto pela água se faz o limo, que mereceu chamar-se Terra Adâmica, na qual residem as qualidades e virtudes de todos os elementos. Também se lhe infunde a alma celeste pelo espírito da quinta essência, e o influxo solar, e pela benção, e orvalho do Céu se lhe dá a virtude infinitamente multiplicativa, mediante a cópula de ambos os sexos59 .

Esta obra só se pode fazer havendo um radical disolvente do Ouro, e da sua mesma natureza (.), que é o Mercúrio Filosófico; porém quem não o tiver, não poderá colher o fruto desta Árvore da vida, ainda que saiba conhecê-la60 .

 -  O maior segredo desta obra consiste no modo de obrar, o qual todo depende da circulação dos elementos, porque a matéria do Lapis vai passando de uma para outra Natureza61 .

 - Quase que não há maior segredo em toda a praxe da obra, que o certo e ajustado movimento deste círculo - o segundo círculo, da restauração, o que pesa a água, e que examina as medidas - porque dá forma ao Infante Filosófico62 .

 Depois de uma discussão de temas como A Circulação da água (onde se inclui esse arcano do círculo, acima citado), o Fogo da Natureza  e a Circulação dos Eelementos, o Fogo Filosófico, Enódio pede a Enodato que lhe faça uma breve relação da aplicação destas coisas, ao que ele anui, noutra descrição - uma verdadeira súmula da Obra Grande - cheia de simbolismo operativo:

Tomai o Dragão Ruivo, animoso e belicoso, em cujo nascimento não faltou nenhuma força. Depois escolhei sete ou nove Águias generosas, cuja vista se não ofenda com os raios do sol. Lançai as Aves com a Fera em um caárcere claro, e fortemente fechado, debaixo do qual poreis um vapor tépido, para que se acenda a peleja. Em breve tempo se cometerão com dilatada e obstinada batalha, etá que finalmente, depois de quarente e cinco ou cinquente dias, principiarão as Águias a picar e a despedaçar a Fera. Morrendo esta, infectará todo o cárcere de podridão.. (ver texto a pp. 65-67).

Uma síntese, que poderemos dizer equivalente a esta, acha-se no Testamento hermético (em castelhano), ao mesmo tempo simbólico e operativo:

Si en Mercúrio no alterado,/ Dissuelves Oro nativo,

El Rebis has conseguido,/ Y el fermento deseado:

Ponle en vaso sigilado,/En fogo lento a coser,

Advertiendo, que ha de ser/ Tan suave el movimiento,

Que solo elentendimiento,/Pueda llegarlo a entender.

(.)

En dos alas solamente,/ Consiste toda la Obra,

Y lo de más todo sobra,/ Porque és engaño patente:

Toma un cuerpo permanente,/ Y aun te custe disuelo,

Abate el Águia al suelo,/ Y no la dexes bolar;

Porque el intento es hallar,/ Modo de unir Tierra y Cielo.

(.)  texto completo nas pp. 81-83

 

Existem algumas passagens de tratados clássicos de Alquimia que referem, o papel central que a imaginação criadora teria nesse processo místico de transformação espiritual que muitos reclamam - vide o caso de M. Eliade . Um exemplo interessante é o do Rosário dos Filósofos (obra de alquimia operativa que surgiu na Idade Média e no Renascimento, como sendo atribuida ao alquimista catalão do século XIII, Arnaldo do Vilanova), podemos ler: A Natureza efectua a sua operação pouco a pouco. E quero que tu actues assim, e sobretudo que a tua imaginação se conduza segundo a natureza. E deves ver segundo a natureza, graças à qual os corpos são regenerados nas entranhas da terra. Imagina-o por meio da imaginação verdadeira e não fantástica63 . Paracelso distingue a fantasia  da imaginação - a fantasia não é imaginação mas um jogo do pensamento64 - não tendo a primeira, como refere Alexandre Koyré, fundamento na natureza  e sendo apenas puramente intelectual, onde as imagens flutuam no nosso espírito sem ligação profunda entre elas e entre elas e nós próprios65 . Pelo contrário, a imaginação é criadora, no sentido em que ela é a produção mágica de uma imagem66 .Ora esta actividade imaginativa é muitas vezes - como refere Yvette Centeno no seu prefácio ao ENNOEA67  - expressa sob a forma relatos de sonhos, de visões, pelos próprios autores alquímicos. É o caso de Anselmo Caetano de Castelo Branco, com o seu Sonho Enigmático, descrição simbólica, onírica, visionária e altamente imaginativa que vem, no fim de ENNOEA - portanto numa mesma obra de um mesmo autor-, suceder a discursivas e racionais aplicações do entendimento, embora de uma racionalidade simbólica, sobre a teoria e a prática da alquimia operativa. Vejamos o seu texto:

Tendo examinado todas as opiniões dos Filósofos Herméticos, e ponderado todos os enigmas com que os Adeptos explicaram a maior obra, que a Natureza produz com os instrumentos da Arte, cançado já de tão grande trabalho, adormeci e comecei a sonhar, que estava embarcado, e dava logo à vela, navegando com bonança, pelas inquietas ondas do Oceano. Como não descobria mais que Mar, e Céu, desejava avistar, ou descobrir terra..

Tendo chegado à Cidade Morgana, ele vislumbra depois um vale, que ficava entre dois montes muito altos e um admirável e delicioso bosque, onde as cores dos frutos são ascores da Obra. Encontra aí uma Poderosísima Imperatriz, e um Filósofo, cuja ocupação era ensinar ignorantes Peregrinos (como ele) e, que de um modo enigmático e alegórico lhe ensina os Mistérios da Arte que conduzem ao talo precioso - ver texto completo a pp. 67-70.                                   

Conclusão  

O Tratado ENNOEA constitui a demonstração do erro da hipótese de Eco, pois estamos em presença (como noutros tratados, p.e. Filaleto, Cosmopolita, etc.) de um discurso simbólico que não se refere a experiências místico-esotéricas, mas sim a experiências operativo-laboratoriais.

Se alguma eficácia mística existe na alquimia operativa, ele deverá residir:

 - Na ìntima união do operador com a matéria (Canseliet)

 - Na utilização da simbolização das operações materiais

Portanto, embora os materiais, descritos mais ou menos simbólicamente, não sejam estados de alma (como quer Jung), eles podem conduzir a uma transformação psico-espiritual, resultado de:

a) um estado de espírito sagrado ou religioso.

b) um longo e paciente percurso de comunhão com a Natureza e com as Operações da Arte.

c) uma capacidade poética de simbolizar os materiais e as operações e de manter a vivência permenente dessas simbolizações.

   

Notas  

 1 Unberto Eco, Os limites da interpretação, Lisboa, Difel, 1992 (trad. do original I limiti dell'interpretacioni, 1990), p. 79 e seguintes - O Discurso alquímico e o segredo diferido.

 2 Op. cit., p. 80.

 3 Ibidem

 4 Ibidem

 5 Ibidem. No entanto, é por este discurso alquímico - discurso elaborado pelos cultores da alquimia simbólica, um discurso ao quadrado, pois é um discurso da alquimia sobre os discursos dos alquimistas - que Umberto Eco se interessa, para dissertar sobre a semiose hermética desse discurso polissémico de sinonimia total, do remoinho metalinguistico sobre o qual assenta o discurso alquímico.

 6 op. cit., p. 81

 7 Betty Dobbs, Les Fondements de l'alchimie de Newton, Paris, Trédaniel, 1981, p. 87

 8 Anselmo Caetano Munhoz de Abreu Gusmão e Castelo Branco, ENNOEA ou Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal,seguida de outras obras, Nota preambular de Manuel J. Gandra, Mafra, 1987, Segunda parte, Diálogo segundo, cap. Únic. # 2, p. 29

 9 opp. Cit., p. 9

 10 ibid.; a actualização da ortografia é nossa (mantivemos a pontuação).

 11 ibid. (idem)

 12 op. cit., p. 10

 13 cf. José Manuel M. Anes, Hermes redivivo I: Ressurgimentos actuais da Alquimia Tradicional europeia, Tese de Doutoramento em Antropologia, a defender em breve na FCSH/UNL.

 14 Anselmo Caetano., op. cit., p. 12

 15 op. cit., p. 13

 16 op. cit., p. 16

 17 op. cit., p. 17

 18 op. cit., p. 15

 19 op. cit-, p. 22

 20 H. Eco, op. cit., p. 80

 21 op. cit., p. 18 e 19; Castelo Branco/Enodato rejaita assim a via de Weindelfeld, do spiritus vinii lulliani, expressa em De Secreti Adeptorum (1685), que Enódio refere nos seguintes termos: Conforme o que ensina Raimundo Lúlio em vários lugares das suas doutíssimas obras, escolheria o Vinho vermelho, ou branco, para separar dele o espírito, que é uma quintaeesência, a qual animada com o Sal volátil de tártaro, é um menstruo radicalmente dissolvente do Ouro (ibid.).

 22 vide supra

 23 op. cit., p. 29

 24 op. ,cit., p. 32

 25 op. cit., p. 21

 26 op. cit., p. 7

 27 op. cit., p. 21

 28 ibid.

 29 op. cit., p. 23

 30 op. cit., p. 23

 31 op. cit., p. 22

 32 op. cit., p. 22

 33 op. cit., p. 23

 34 op. cit., p.21

 35 op. cit., p. 23

 36 op. cit., p. 24

 37 ibid.; o que dá aso a Anselmo Caetano, pela boca de Enodato, a fazer uma bem humorada dissertação sobre as (más) qualidades dos Esvrivães, dos Requerentes, das Sogras, dos lisonjeiros,dos  Fidalgos e de outros muitos.

 38 op. cit., p. 25

 39 ibid.

 40 op. cit., p. 26

 41 op. cit., p. 27

 42 ibid.

 43 ibid.

 44 op. cit., p. 28

 45 cf. Le Livre des Laveures, in Les Oeuvres de Nicolas Flamel, Paris, Pierre Belfond, 1973

 46 Note-se que os antigos denominavam o nosso Antimónio metálico, de Régulo de Antimónio, sendo a nossa Estibina (Sulfureto de Antimónio) denominada de Antimónio, ou Estíbio - que não era útil para a Obra Grande (como afirma Anselmo Caetano), mas sim o Régulo..

 47 Op. cit., Cap. V

 48 Rubellus Petrinus, A Grande Obra Alquímica, Lisboa, Hugin, 1997, em particular a primeira parte.

 49 Manuel Algora Corbi, La Tabla Redonda de los Alquimistas, Luís Caárcamo, Madrid, 1980, pp. 183-195

 50 op. cit., p. 33; registe-se o que nos parece uma evidente alusão ao tratado de Filaleto, A Entrada Aberta no Palácio Fechado do Rei - cf. L'Entrée Ouverte au Palais du Roi, Paris, Retz, 1976.

 51 ibid.

 52 ibid.; Manuel Algora Corbi (op. cit.), refere as Vias do Espírito Universal, assentes (quase) apenas no Antimónio, o que parece não ser o caso da via de Anselmo Caetano, centrada no Mercúrio, ou Azougue.

 53 Op. cit., pp.34-36

 54 op. cit., pp. 37-38

 55 op. cit., pp. 39-40

 56 op. cit., pp. 42-47

 57 op. cit., p. 48

 58 op. cit., pp. 48-49

 59 op. cit., p. 50

 60 Op. cit., p. 48

 61 op. cit., p. 50

 62 op. cit., p. 55

 63 El Rosario de los Filósofos, Barcelona, Munoz, Moya e Montraveta eds., 1986, p. 31 (a tradução é nossa).

 64 citado por Alexandre Koyré, in Mystiques, Spirituels, Alchimistes du XVIe. Siècle allemand, Paris, Gallimard, 1971, p. 97 (a tradução é nossa).

 65 op. cit., p. 96 (idem)

 66 op. cit., p. 97

 67 Anselmo Caetano Munhoz de Abreu Gusmão e Castelo Branco, ENNOEA ou Aplicação do Entendimento sobre a Pedra Filosofal, Nota de Apresentação de Y.C. Centeno, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1987.