NO MUNDO DOS FLUIDOS:
O GAS, O BLAS E O MAGNAL
DA QUÍMICA DE J. B. VAN HELMONT (1579-1644)
A. M. Amorim da Costa

Dept. de Química – Universidade de Coimbra
3004-535 Coimbra – Portugal - acosta@ci.uc.pt

O Homem não mede a Natureza; é a Natureza que mede o Homem
J.B.Van Helmont, Ortus

Introdução
1. O espírito seminal de todas as coisas (o gás)
2. O poder motriz universal (o blas)
3. O envólucro do Ar, fácil de fazer e desfazer (o magnal)
4. Conclusão
Notas

Introdução

Nascido em Bruxelas, no ano de 1579, João Baptista van-Helmont estudou na Universidade de Lovaina onde terminou, em 1594, o curso de filosofia e teologia. Totalmente desiludido com o processo educativo que ali reinava, profundamente chocado com as práticas rituais que ali se praticavam, nomeadamente a obrigação do uso de um hábito talar e de capelo nas provas de exame a que eram sujeitos os alunos, frequentemente tratados com sobranceria e ridicularizados pelos examinadores, e ainda sentindo que muito do que ali se ensinava no domínio da filosofia natural era autênticas excentricidades, J.B.van Helmont recusou o Título de Mestre em Artes por se não querer submeter a uma cerimónia em que os Professores o tratassem com desprezo e em que o considerariam “Mestre nas sete Artes” quando se não tinha por mais que um simples Escolar[1]

Desiludido com o ensino que se ministrava nas Instituições universitárias, no domínio da filosofia, a sua avidez pelo saber levou Van Helmont a dedicar-se com sofreguidão ao estudo do Estoicismo pagão e cristão. Porém, em vez de o satisfazer, este estudo conduziu-o antes a uma atitude de desespero e vazio tal que, de acordo com o seu próprio testemunho, lhe fez sentir “a necessidade da morte iminente”[2].

Em desespero, voltou-se para o estudo de assuntos do foro médico, nomeadamente interessado pelo estudo das plantas e seus efeitos medicinais. Estudou as Instituições de Fuchius e Fernelius e os Tratados de Galeno, Hipócrates e Avicena até os saber quase de cor, e ainda muitos outros escritos sobre matéria médica de outros autores Gregos, árabes e Modernos[3].

Embora continuasse com grandes reservas sobre o sistema de ensino em que desenvolveu estes seus estudos, aceitou, o grau de Doutor em Medicina que lhe foi conferido em 1599[4].

Viajou, durante alguns anos (1600-1609) por diversos países da Europa; rejeitou todas as ofertas que lhe foram feitas na Inglaterra e na Alemanha para lugares de Médico das respectivas Casas reais. Em 1609, depois de casar, fixou residência permanente no seu país natal, em Viluord, “um lugar sossegado onde se poderia dedicar diligentemente à observação dos Reinos dos Vegetais, dos Animais e dos Minerais”[5]. Aí se devotou, durante sete anos, a uma investigação de análise experimental da composição dos mais diversos corpos, abrindo-os e separando os seus componentes, e acompanhando este estudo experimental com o estudo cuidado dos Livros de Paracelso.

As doutrinas interprtetativas dos fenómenos naturais que desenvolveu durante estes sete anos de investigação, formulando uma “nova Filosofia”, fizeram escola e influenciaram determinantemente o desenvolvimento da química durante longos anos, os anos da iatroquímica reinante no século XVII e grande parte do século XVIII. Na base dessas doutrinas, tal como na base de toda a filosofia natural de Paracelso, está o problema dos quatro elementos e a prática médica resultante do lugar que se lhes atribui na constituição e ocorrência dos fenómenos naturais[6]. É pois, no discurso de Van Helmont sobre os quatro elementos que encontramos as suas ideias sobre esses três “fluidos” aqui nos propomos tratar, o gás, o blas e o magnal.  

 

III Colóquio Internacional Discursos e Práticas Alquímicas (2000)

IN: MACHADO, Maria Salomé Machado, A.M. Amorim da Costa, A.M.C. Araújo de Brito & António de Macedo (2005) - A Palavra Perdida. Colecção Lápis de Carvão (dir. Maria Estela Guedes), nº1. Lisboa, Apenas Livros Editora.

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