A inenarrável sedução

Que salga a história das idades

Dos glandulares viris desejos

Da esfíngia feminina visão:

Rebenta em tempestades,

Desmorona em fraquezas

Homens de poderosos lampejos

Como se erguem fortalezas

Em corações meigos.

Tudo isto o poder da mulher faz:

Amolece intentos férreos

Desencadeia guerras

Como faz brotar a branda paz!

Aqui entra a sabedoria,

Fruto dos sábios,

Cimentada na experiência,

Feita de fascínio e de descalabro:

O que dita aos homens

A feminina beleza?

Sócrates chama

"Tirania do tempo"

Ao "engano dissimulado"

De Teofrasto;

Teócrito também põe

Um estético acento,

Mais frio e mais nefasto,

Neste "engano de marfim";

Que Carnêades, avisado,

Acusa de "reino solitário".

Só Platão,

Sem deixar de ser platónico

Salva a honra desta clássica

E sombria opinião:

A mulher exaltada na sua beleza,

Decreta este discípulo de Heraclito com razão,

É um "privilégio da natureza".

Mas porquê tanta contradição

Em ser tão singelo?

É que a beleza

É outra coisa mais

Do que a aparência do belo!