PASSEIO JUDEU (I) / Abertura
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02-03-2008
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PALESTRA SOBRE JUDEUS NA CASA PAROQUIAL

A casa paroquial de Britiande vai-se transformando pouco a pouco em centro cultural. Na noite de 29 de Fevereiro teve ali lugar uma palestra de Alzira Gomes sobre apresença dos judeus em Portugal, desde a Idade Média até à expulsão, no tempo de D. Manuel I, passando pelas perseguições movidas contra eles pelo Santo Ofício, de maneira a ajudar a compreender os sinais que deixaram na construção das casas. Nas nossas povoações, e Lamego é um exemplo próximo, existem edifícios, e bairros inteiros, as judiarias, em que são patentes ainda hoje marcas de cultura hebraica e marrana várias vezes seculares.

Finda a palestra, generalizou-se o debate sobre o mesmo tema. Estiveram presentes, além da oradora, Armando Ribeiro, nosso pároco, Luís Guedes e Simão Gomes, da Associação Juvenil de Britiande, Ana Luísa Janeira, professora de Filosofia na Faculdade de Ciências de Lisboa e membro do Centro Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Sociedade da Universidade de Lisboa (CICTSUL), Maria Mascarenhas, membro também do CICTSUL, e Judite Zamith Cruz e o marido, Manuel Cardoso, da Universidade de Braga.

A palestra veio a propósito de um “Passeio judeu” que se iniciou no dia seguinte, em regime de cooperação do CICTSUL com a Paróquia e com a Associação Juvenil de Britiande.

Durante o debate, Maria Mascarenhas referiu outro passeio judaico, aquele que está a organizar na zona de Viseu, o qual terá como ponto mais alto a visita à casa do seu bisavô Aristides Sousa Mendes, em Cabanas de Viriato. Aristides Sousa Mendes, agindo durante a ditadura de Salazar por sua própria conta e risco, passou vistos de saída a milhares de judeus que então estavam a ser perseguidos em França, onde ele era cônsul, salvando-lhes assim a vida. Aconteceu isto por volta de 1940, quando os nazis, liderados por Hitler, mandavam judeus (e outras pessoas) para as câmaras de gás. Foram mortos milhões de crianças, mulheres e homens.

Estes passeios fazem parte de um projecto de Ana Luísa Janeira, “Turismo científico e tecnológico”. Muito gostaríamos de os continuar com outros: um passeio cristão e um passeio mouro. Os itinerários são difíceis de estabelecer, exigem investimento de tempo e energia, as pessoas pagam para verem o que está no programa, por isso, aos que de futuro quiserem juntar-se a nós, recomendamos esforço mental e de pernas para os cumprir.

Haja sempre boa vontade para trabalhar e abertura de espírito, e muita coisa se poderá fazer na casa paroquial, o que evita a sua degradação pela falta de uso e será fecundo e agradável para os que quiserem associar-se a nós. Por exemplo, foi aflorada a possibilidade de realizarmos um curso de Verão com o título “Fim da Terra? – Paisagem e povoamento”. Ele teria em vista promover o turismo, alertar para problemas ambientais, deixando a porta aberta para se falar também da Literatura portuguesa, na qual estão presentes estes assuntos, como revela o título do curso, que é também título de um dos mais importantes romances portugueses da segunda metade do século XX: “Finisterra – Paisagem e Povoamento”, de Carlos de Oliveira.

Agradeço, em meu nome e em nome do Centro Interdiciplinar, a disponibilidade e a simpatia de todas as pessoas referidas, em especial de Alzira Gomes, de Simão Gomes, de Luís Guedes e do nosso querido Padre Armando Ribeiro.

 

Maria Estela Guedes

(CICTSUL)

In: O Bretenando, Britiande, Março de 2008