RETORTA

A retorta como símbolo da Química, ontem e hoje...

A Química, ciência como a conhecemos hoje, derivou diretamente da alquimia. O termo alquimia vem da Grécia Antiga, da palavra "chemeia ", à qual foi adicionado o prefixo "al" ficando "al Chemeia", que possui, nas raízes egípcias, os conceitos "arte negra" e "derreter". Dentro de todos os assuntos estudados pelos alquimistas durante séculos, a busca pela pedra filosofal (capaz de transformar todos os metais em ouro), a panacéia (remédio para todos os males) e o elixir (garantia da juventude eterna) trouxe o desenvolvimento de equipamentos que possibilitassem descobertas. Inicialmente, na iatroquímica, uma figura representava o círculo "terra-fogo-ar-água-terra", e era a de uma cobra mordendo seu próprio rabo (ouroboros). Concepções filosóficas sobre a composição e as transformações da matéria faziam parte dos fundamentos da alquimia. No conceito de Aristóteles, a matéria era uma substância amorfa impregnada de qualidades. Adequando-se as qualidades poder-se-ia chegar ao ouro. Os alquimistas usavam "águas" e "espíritos" nesses procedimentos. Um processo de destilação foi concebido nesse contexto. A invenção da técnica e do instrumento é atribuída a Maria, a Judia (egípcia do século II): a retorta. Esta alquimista criou também o "banho-maria". A retorta era o "ovo filosofal", de onde saiam espíritos. Zósimos de Panópolis (300 d.C.) e Olimpiodoro, um grego-egípcio (425 d.C.), produziram textos sobre o estudo da composição das águas, aprisionamento e liberação dos "espíritos" (essência) dos corpos, "morte" e "ressurreição" dos metais por meio de destilações e sublimações sucessivas e outras operações, com o fim de transformar os metais vulgares em ouro.

A destilação, usando a retorta, era uma operação alquímica relacionada a um corpo conceitual imaginário de hibridizações entre idéias mágicas, religiosas e filosóficas, associadas aos conhecimentos envolvidos nas práticas artesanais egípcias.

 

 

Na imagem: Alquimista da Idade Média

As idéias e práticas dos alquimistas alexandrinos foram incorporadas à alquimia árabe. Com a concepção chinesa de equilíbrio da natureza, os alquimistas árabes passaram para a   idéia do "elixir" (um medicamento universal), onde foram, em decorrência destes estudos, descobertos novos materiais inclusive remédios – aqua vitae (destilados de vinagres, sucos de frutas, flores) obtendo perfumes, óleos, gorduras. O produto obtido por sucessivas destilações da aqua vitae era tido como um remédio poderoso, análogo dos céus na terra: a quintessência. A destilação com a retorta não é só uma reminiscência. De fato, essa arte, talvez tão antiga quanto a própria alquimia, sobreviveu ao abandono daquela forma ancestral de investigação da matéria, estando ainda hoje presente em laboratórios e indústrias químicas. Lavoisier, em 1789, quando apresentou o livro Traité Élémentaire de Chimie, utilizou também, em suas pesquisas, a retorta.

Hoje, a destilação, processo baseado nas diferenças entre os pontos de ebulição das substâncias, é adequadamente explicada pela idéia de que a matéria é formada por partículas que se movimentam e interagem. O fracionamento do petróleo, a obtenção de álcoois, extração de essências, são alguns exemplos do emprego da técnica, sendo ainda um dos principais métodos de purificação de substâncias. Alambiques e retortas estão sempre presentes em imagens para caracterizar alquimistas e químicos em seus laboratórios.

A retorta tem papel no imaginário, relativo tanto à alquímica quanto à química, pois a destilação há muito vem sendo utilizada nas artes que envolvem o tratamento e a transformação de materiais e por estudiosos que buscavam idéias sobre a composição da matéria. Embora haja representações de símbolos como o anel benzênico, modelo molecular ou atômico e outros, pelo seu papel histórico, a retorta ainda representa a química hoje. Por isso ela está no brasão do CRQ- V. 



Na imagem: Lavoisier no seu laboratório
Fonte: http://www.crqv.org.br/crq/retorta.htm
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