Direcção de Miguel de Carvalho

EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL DE SURREALISMO ACTUAL
O Reverso do Olhar - Index

Documenta

Surrealismo em Coimbra
Mário Nunes

Coimbra tem nas galerias do Edifício Chiado e na de Pinho Diniz na Casa Municipal da Cultura, a maior exposição de Surrealismo que jamais aconteceu na cidade. Um acontecimento de intensa qualidade e de extraordinária quantidade atendendo aos números quantificados: 320 obras, 130 artistas e 20 países.

Uma mostra que, no dia da inauguração, trouxe à Lusa-Atenas 32 artistas com obras presentes, oriundos do Canadá, Bélgica, Brasil, França, Costa Rica, Espanha, Holanda e do nosso país, que se incluem naqueles que enviaram trabalhos e não vieram: Cuba, Indonésia, África do Sul, Inglaterra, Suiça, Alemanha, México, Roménia, República Checa, EUA, Argentina e Chile. Uma exposição que se prolongará até 28 de Junho e que tem sido visitada por centena de pessoas.

O surrealismo é um movimento que surge em 1919 em torna da revista Littérature, embora, somente, em 1924, se afirme internacionalmente por meio do primeiro Manifesto do Surrealismo de André Breton (resolução de todos os problemas principais da vida) e da sua primeira revista La Révolution Surréaliste (1924-1929) ao longo de doze números. É um movimento de ideias e expressões, em que as obras criadas se inspiram em sonhos, no sobrenatural, no irracional e no absurdo, opondo-se a todas as formas de opressão e obscurantismo, com evidência na defesa dos valores da liberdade. Os artistas quando o criaram, partilharam uma profunda desconfiança da sociedade burguesa materialista, capitalista e de racionalidade limitada.

Os que aderiram ao movimento foram designados de surrealistas por Guillaume Apollinaire (foi quem inventou o termo surrealismo e o usou primeiramente no programa para o bailado “Parade” de Erik Satie).

O movimento, como todas as iniciativas que nascem e se distinguem ou contrariam a ordem estabelecida, teve os seus opositores. Os cafés parisienses tornaram-se os locais dos chamados “escândalos” surrealistas. Os seus membros encontravam-se e discutiam os temas estéticos e literários, envolvendo depois os problemas e situações políticas e sociais. Para os activistas e aderentes era uma forma de vida, uma estética, uma doutrina de comportamento, uma espécie de existência que deixava espaço para o humor e para a criatividade. Tratava-se de viver para o momento com espontaneidade e liberdade intelectual interna e ausência de materialismo, tudo o que se opusesse, portanto, aos valores da burguesia. As suas acções e atitudes contrariavam a ordem burguesa estabelecida e desdenhavam o que era aceite, geralmente, e venerado pela sociedade respeitável da época. Afirmou-se entre o período que medeia as duas grandes guerras mundiais.

O conceito surrealista veio a atravessar o século XX e desenho uma linha de demarcação ética e estética. Constitui o primeiro e último grande movimento artístico e cultural do século passado. O termo, graças à amplitude do seu significado e das características e filosofia que o envolve, entrou na ordem do dia como sinónimo de surpresa ou estranheza, servindo de léxico aos políticos, aos jornalistas e até ao Homem comum, quando quer indexar algum fenómeno e algo que não se enquadre directamente na ordem imediata do real convencionado.

Os surrealistas mais evidentes foram, além de Breton, Aragon, Baron, Boiffard, Carrive, Crevel, Delteil, Desnes, Gérard, Limbour, Malkine, Matisse, Picasso, Braque, Duchamp, Chirico, Masson (membros do grupo que, sem terem ouvido a “voz surrealista” são solidários com a causa), além de Magritte, Wilfred Lam, Dali, Juan Miro, Man Ray e Jackson Pollock.

Em Portugal, e sobretudo desde os anos quarenta, registam-se os fundadores do grupo surrealista: Cruzeiro Seixas, Isabel Meyrelles e Fernando Lemos (vivos) e, segunda geração, Raul Perez e Nicolau Saião (vivos) e Mário Cesariny, um referencial do movimento, desaparecido recentemente, de entre nós, mas permanecendo vivo através da sua obra e da sua memória.

A exposição denominada “Reverso do Olhar – Exposição Internacional de Surrealismo Actual” abrange, a par da pintura, o desenho, a colagem, a poesia, a fotografia, o ensaio, as artes gráficas, a escultura, a gravura e as montagens objectuais.

Em Coimbra, as primeiras notícias do movimento surrealista encontram-se na revista “Presença (1927-1940), que não obstante a sua vertente literária, possui referências da vertente plástica.

Diário das Beiras 16 de Maio de 2008

Google
Página principal - Mapa - Cibercultura - Naturalismo - Jardins - Teatro - Zoo - Poesia - Letras