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ALGUMAS LENDAS DA REGIÃO DE LAMEGO,
em especial de mouras encantadas
Coligidas por Fernanda Frazão
A Senhora da Lapa

Na serra da Lapa existe um santuário onde, no meio da capela-mor, há um enorme penedo no qual se encaixa o altar da Senhora da Lapa.

Consta que a origem deste santuário é a seguinte:

Almançor, rei ou califa de Córdova, perseguidor feroz dos cristãos, invadiu a Lusitânia em 983, levando tudo a ferro e fogo. Assolou a maior parte do Minho e as cidades de Viseu e Lamego, e todas as povoações por onde fez a sua passagem devastadora.

As freiras do convento de Sermilo abandonaram o seu mosteiro fugindo às crueldades de Almançor; mas para que os mouros não cometessem algum sacrilégio a uma imagem da Virgem, que tinham em grande veneração, esconderam-na entre umas brenhas. Almançor arrasou o convento até às fundações, sem deixar pedra sobre pedra. Diz-se, também, que as freiras foram agarradas pelos mouros, que assassinaram umas e levaram outras cativas. No sítio onde foi o convento, ainda hoje existe uma ermida, chamada de Nossa Senhora do Mosteiro.

Desde 938 a 1498 esteve a imagem da Senhora escondida na lapa, e neste último ano, uma menina muda de nascimento, chamada Joana, do lugar de Quintela, que fica a pouca distância da lapa, andando a guardar o gado a seus pais, lembrou-se um dia de entrar na lapa, achando a santa imagem que meteu na cesta onde guardava as maçarocas. Era a imagem pequenina, mas muito formosa, e a pastorinha, soberba do seu tesouro, enfeitava-a como podia, com as mais bonitas flores que encontrava naqueles alcantis.

Quando à noite recolhia para casa, não fazia outra coisa senão vestir e despir a Senhora, até que a mãe, aborrecida daquela insistência da filha, lhe tirou a imagem das mãos e a arremessou à fogueira. Então, a menina, transida de horror, disse em voz clara e vibrante:

— Tá, não faça isso.

A fala foi desde então restituída à pastorinha e a sua mãe ficou com as pernas e os braços secos. Aos gritos das duas acudiram os vizinhos, ficando todos pasmados destas maravilhas e levando a Senhora para a sua lapa, guiados por Joana. Assim que a Senhora foi colocada no seu esconderijo de 515 anos, logo a mãe da pastorinha adquiriu saúde perfeita.

Ali construíram à Senhora um altar rústico, e a fama daqueles milagres circulou por todas as terras até Espanha, passando a haver grande romaria a 15 de Agosto.

A Senhora da Lapa está colocada num sítio em que para a ver tem de se entrar de lado. Dizem que por mais magra que a pessoa seja, não entrando de lado não cabe na passagem, assim como por muito gorda que seja, entrando de lado, cabe sempre.

Conta-se um milagre operado pela Senhora da Lapa, num caminhante que adormeceu encostado a uma árvore perto do penedo.

Diz a tradição popular que a cobra é inimiga do homem, tanto que foi o primeiro bicho que Deus amaldiçoou. Ora o caminhante deitou-se a dormir ali perto da capela e, tendo deixado a boca aberta, entrou-lhe uma cobra por ela dentro. O homem, aflito, acordou imediatamente e sem saber o que fazer, paralisado pelo medo, invocou mentalmente a Senhora da Lapa:

— Valha-me a Senhora da Lapa!!

Pois a cobra imediatamente inverteu o seu caminho. Virou a cabeça para fora e ficou com o corpo atravessado na boca do homem, já que não tinha entrado completamente. Aí, o caminhante deitou-lhe logo a mão, atirou com a cobra ao chão e esmagou-lhe a cabeça com a bota cardada.

Outra história ligada a este santuário conta que uma menina, que se entretinha a fiar lã enquanto pastoreava os rebanhos foi atacada por um enorme lagarto, que aterrorizava a região. Para se salvar, atirou os novelos de lã para a boca do monstro tendo este ficado sufocado. Levou-o então pela ponta de um fio até casa, onde foi morto, empalhado e levado para o santuário, onde o penduraram no tecto.

Fontes : Augusto Soares d’ Azevedo Barbosa de Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno. Diccionario Geographico, Estatístico, Chorographico, Heráldico, Archeologico, Biographico e Etymologico de Todas as Cidades, Villas e Freguezias de Portugal e de Grande Numero de Aldeias. Vol. IV. Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, 1874, p.50; http://escola-freixinho.planetaclix.pt/Lapa_00001.htm
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